Nota
“Assim como todos que vivem para ver tempos assim, mas não cabe a eles decidir. Tudo que tem que decidir é o que fazer com o tempo que é dado.”
O mundo está mudando. Muito do que já existiu perdeu-se, pois não há mais ninguém vivo que se lembre. Tudo começou com a forja dos grandes anéis, três foram dados aos elfos imortais, os mais sábios e belos de todos os seres. Sete deles foram dados aos senhores dos anões, grandes mineradores e artífices dos salões nas montanhas. E nove, foram dados à raça dos homens que, acima de tudo, desejam o poder, pois dentro desses anéis foi selada a força e a vontade para governar cada raça. Porém, todos foram enganados, pois outro anel foi feito… Na terra de Mordor, nas chamas da Montanha da Perdição, Sauron (Sala Baker), o senhor do escuro, forjou em segredo um anel mestre, para controlar todos os outros. Neste anel, ele derramou toda sua crueldade, malícia e desejo de dominar todas as formas de vida. Um anel para a todos governar.
Uma a uma, as terras livres da Terra-Média submeteram-se ao poder do Anel, mas houve alguns que resistiram. A última aliança entre elfos e humanos marchou contra os exércitos de Mordor, e, na Montanha da Perdição, lutaram pela liberdade do continente. A vitória estava próxima, mas o poder do anel não podia ser destruído… foi neste momento, quando toda esperança havia sumido, que Isildur, o filho do rei, ergueu a espada de seu pai e Sauron, o inimigo dos povos livres da Terra-Média, foi derrotado. O anel passou a Isildur, que teve a chance de destruir o mal para sempre, mas o coração dos homens é facilmente corrompido, e o Anel do Poder tem vontade própria… traindo o agora rei, levando-o à morte.
Algumas coisas que não deveriam ser esquecidas, perderam-se. A história virou lenda. A lenda virou mito. E por dois mil e quinhentos anos o Anel deixou de ser conhecido até que, quando a oportunidade surgiu, ele seduziu um novo portador. Ele veio à criatura Gollum (Andy Serkis), que o levou às profundezas dos túneis das Montanhas da Névoa, e lá ele o consumiu… O Anel trouxe à criatura uma longevidade sobrenatural, por quinhentos anos ele envenenou sua mente e esperou. A escuridão voltou para as florestas do mundo, surgiram boatos sobre uma sombra no leste e sussurros sobre um pavor inominável, assim o Anel do Poder percebeu que sua hora havia chegado e abandonou Gollum, mas aconteceu algo que ele não planejara: ele foi pego pela criatura mais improvável que se possa imaginar, um Hobbit chamado Bilbo Bolseiro (Ian Holm), do Condado, pois chegará a hora em que os hobbits moldarão o destino de todos.
Assim somos levados ao Condado, Gandalf (Ian McKellen) está chegando para prestigiar a festa de 111 anos de seu grande amigo, o Bilbo, que planeja partir em uma nova aventura enquanto ainda pode. O que o mago não esperava é que o hobbit literalmente desaparecesse ao fim de seu discurso. Preocupado com o amigo, Gandalf o intercepta exatamente no momento em que Bilbo está saindo pela última vez de sua casa e pergunta sobre a situação de seu sobrinho Frodo (Elijah Wood), que ficará sozinho após a partida do tio. O hobbit garante que o garoto herdará tudo o que é seu, incluindo o anel em seu bolso, meio receoso em deixar seu bem mais precioso, mas, finalmente, convencido por seu amigo, deixando-o para sempre. Ainda se questionando sobre o objeto, o mago parte então em busca de respostas, que não poderiam ser mais desagradáveis.
Assim, o jovem Frodo se vê obrigado a partir em uma jornada rumo ao desconhecido, arrastando consigo seus amigos: Sam (Sean Astin), Merry (Dominic Monaghan) e Pippin (Billy Boyd). Encontrando no caminho o misterioso Passolargo (Virgo Mortensen), que os ajuda a chegar em Valfenda, a terra dos elfos, onde um conselho é montado para definir o destino do Anel. Assim se origina “A Sociedade do Anel”, composta por Frodo, Sam, Merrry, Pippin, Gandalf, Passolargo, Legolas (Orlando Bloom), Gimli (John Rhys-Davis) e Boromir (Sean Bean), para levar o Um Anel até sua destruição.
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel nos leva para a deslumbrante Terra-Média, o mundo criado por Tolkien que ganhou vida pelas habilidosas mãos de Peter Jackson, que conseguiu não só tornar real a obra de um dos maiores autores de literatura fantástica do mundo, como também um pouco da própria alma da história. Levando em conta que não é uma narrativa fácil de ser reproduzida, o enredo sofreu leves alterações para estar conforme ao que era disponível na época, inclusive, mesmo sendo de 2001, seus efeitos especiais não deixam a desejar, faturando o Oscar nesta categoria e em outras três: melhor trilha original, melhor maquiagem e penteados e melhor fotografia, que por sinal é deslumbrante, alocado na Nova Zelândia, local escolhido a dedo, pois representa quase que à perfeição a obra original.
Frodo é o típico personagem que Tolkien amava escrever, assim como Bilbo em sua primeira jornada, é um jovem hobbit que está contente por não ter nada oferecendo risco à sua vida. Dentre os de sua raça, ele é particularmente diferente, assim como seu tio, que o adotou por perceber esse distanciamento dos demais. De uma forma geral, o papel foi bem executado por Elijah, com a carga emocional necessária para as cenas. Sam é o fiel escudeiro de Frodo, corajoso, muito curioso e, muitas vezes, se preocupa mais com o amigo que consigo mesmo. Sendo quase que completamente oposto à seu amigo, Sam é sociável e divertido, o trabalho executado por Sean foi excelente, visto que muitas vezes o espectador se sente mais conectado com ele do que com Frodo.
Gandalf é o velho mago, responsável por guiar e orientar os demais em seus caminhos, sempre com conselhos e observações sagazes aliadas à um toque de magia para tornar tudo mais fantástico. Ian fez um trabalho fenomenal ao construir o personagem, ele prende o espectador em cada cena que aparece, mas sem ofuscar os demais, cativando e mostrando para que veio. Passolargo é um homem misterioso, não se sabe ao certo sua verdadeira identidade, mas ele demonstra ter um grande coração ao cuidar daqueles pequenos hobbits, nos fazendo questionar quem é realmente a pessoa que se esconde no cerne do seu ser. Virgo, assim como os demais, fez um ótimo trabalho ao caracterizar Passolargo, consegue propor o tom misterioso que é essencial para o personagem e consegue roubar a cena mesmo em silêncio.
Legolas, o representante dos elfos na sociedade, poderia muito bem ser encontrado em alguma mesa de RPG, arqueiro que possui uma excelente visão e agilidade para acabar com qualquer inimigo antes que o mesmo perceba. Bloom inseriu em seu personagem um toque ácido, debochado, mas ao mesmo tempo conseguiu fazer dele um grande amigo para os demais. Gimli é um anão convencido e cheio de si, vive se gabando de seus feitos e garante ser um excelente lutador. John brincou com seu personagem, o elevando a outro nível, de uma forma que não só consegue chamar atenção, como também fazer o espectador dar grandes risadas. Merry e Pippin são juntos o principal alívio cômico do longa. Completamente estúpidos, sempre arrumam uma maneira de colocar o grupo em perigo, mas nunca hesitarão quando um amigo estiver em perigo. Corajosos e engraçados, à primeira vista podem não parecer necessários para a trama, mas durante o longa é perceptível o quanto eles são importantes para a quebra da tensão.
Considerado, na época, como a adaptação mais fiel da obra de Tolkien, O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel é sem dúvidas um dos longas mais completos e coesos, nunca deixando pontas soltas (principalmente em sua versão estendida, que revela ainda mais surpresas) e nos introduzindo de maneira majestosa à Terra-Média.
Matheus Soares
Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!