Crítica | Os Incríveis (The Incredibles)

Nota
4

Depois que o governo proibiu as atividades dos super-heróis, o Sr. Incrível (Craig T. Nelson) vive agora uma vida normal e pacata com sua família. Apesar de acostumado com a vida doméstica, o herói aposentado ainda sente falta dos tempos de glória, e sua grande chance de entrar em ação novamente surge quando uma nova ameaça coloca sua vida em risco. Só que agora ele terá que contar com a ajuda de toda a família para vencer o vilão!

A influência de “Os Incríveis” na infância e na formação cinéfila de muitas pessoas, que agora utilizam seus conhecimentos jornalísticos para se dedicar à escrita sobre a sétima arte, é fundamental. Mas o que que talvez tenha tornado o filme de Brad Bird, cineasta responsável pelo igualmente clássico “O Gigante de Ferro” (1999), inegavelmente incrível seja o fato dessa ter sido uma das primeiras animações da Disney/Pixar abertamente destinada mais para o público adulto.

No roteiro, realístico e bem construído por Bird (o que possibilitou a facilidade de uma direção exímia e sem divergências criativas), são abordadas questões mais acessíveis para os maiores do que pelos pequeninos. Problemas conjugais, incertezas da vida, crises e obsessão pelo passado são capazes de considerar “Os Incríveis” a quase um “A Beleza Americana” da Pixar. Por mais que a comparação pareça exagerada, é inegável o excesso de temáticas com fins problemáticos/realistas, mostrando a verdadeira face que a “beleza” de uma vida tradicional proporciona. Todos esses temas conseguem ser bem desenvolvidos ao longo da trama, mas sem deixar, obviamente, o encanto “Disney” de lado e, ao mesmo tempo, atrair crianças pela temática de “super-heróis”, coloridos e pelo ritmo rápido e contagiante.

Talvez, a única problematização que o filme deixa relativamente a desejar seja aquela que envolve a relação ídolo e fã, ou as decepções que vida proporciona ao conhecer verdadeiramente alguém que você venerava. No caso do vilão Síndrome (voz original de Jason Lee), sua decepção foi com o Sr. Incrível, mas tal acontecimento infeliz não é o suficiente para justificar sua vilania, tampouco seu “plano maligno” extremamente exagerado, mas que, por outro lado, funciona e é responsável por causar certa tensão além do comum drama que a Pixar é expert em realizar.

“Os Incríveis” tornou-se uma das animações mais lucrativas e dignas de aprovação tanto de público quanto da crítica especializada por conter debaixo de sua capa (Opa! Nada de capas!), além de roteiro, situações delicadas, realidades da vida e ação, personagens icônicos. A Família Pêra protagoniza a aventura com um carisma muito além de super-heróis de HQs, agindo de maneira incrível, porém sem deixar de ser gente como a gente.

Beto (voz original de Craig T. Nelson) é o patriarca, infeliz e saudoso com seus dias de glória, que é forçado a aprender da pior maneira como sua família deve ser mais importante do que qualquer coisa. Helena (voz original de Holly Hunter) está sempre preocupada com o bem-estar de sua família e, apesar de se dedicar ao máximo a vida normal, não deixa de lado seu heroísmo quando é realmente necessário. Violeta (voz original de Sarah Vorwell) e Flecha (voz original de Spencer Fox) são os filhos mais velhos dos Pêra, uma adolescente tímida e insegura quanto a si e seus poderes e um pré-adolescente louco para mostrar suas habilidades e aproveitar ao máximo delas. Por último, mas não menos importante, tem o caçula Zezé, que, apesar de não ter muito espaço no filme, reserva uma participação antológica no final.

Os personagens secundários também conquistaram o público pelo carisma e irreverência, como o caso do super-herói Gelado (voz original de ninguém menos que Samuel L. Jackson), autor de um dos bordões mais conhecidos na história da animação, “Fica frio aí!”, e a estilista super poderosa sem nem precisar de poderes (ou tamanho), Edna Moda (dublada pelo próprio diretor, Brad Bird).

Incrível em todos os sentidos, “Os Incríveis” foi um marco na história da animação, conquistando fãs de super-heróis e do cinema de espionagem (característica fundamental na construção do longa), e fazendo muita gente descobrir que não é preciso capas longas ou um espírito orgulhoso para ser super, e sim cooperação, força de vontade e responsabilidade (não esqueçamos os princípios de um certo herói que agora também é propriedade da Disney).

Lembrando que a família mais incrível do mundo estará de volta depois de 14 anos em “Os Incríveis 2”, que estreia no dia 14 de julho nos cinemas.

 

Jornalista, crítico de cinema, fotógrafo amador e redator. Quando eu crescer, quero ser cineasta.

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