Crítica | Os Pássaros (The Birds)

Nota
4

“Isso não a faz ficar envergonhada?
Mas por que eu ficaria…?
Por engaiolar criaturas inocentes?”

Melanie Daniels (Tippi Hedren) é uma jovem socialite que pretende comprar um pássaro para criar e, enquanto vai buscar seu bichinho no petshop, conhece o advogado Mitch Brenner (Rod Taylor), que a trata como uma vendedora do local. Acontece que ele a conhece de um encontro anterior, do qual ela não se lembra, e não possui uma impressão muito boa da moça, o que gera uma discussão acalorada entre os dois.

Intrigada, Melanie consegue o endereço do rapaz e comprar o par de periquitos que ele pretendia entregar à sua irmã mais nova, apenas para descobrir que o mesmo viajou para Bodega Bay e só volta na segunda-feira. Determinada a entregar os pássaros e se resolver com ele, Melanie parte para a cidade litorânea, onde secretamente deposita a gaiola na casa da mãe de Mitch com uma nota de aniversário para a pequena Cathy Brenner (Veronica Cartwright).

Após sair sorrateiramente da casa, ela é avistada pelo advogado, que parte para a vila para recepcioná-la. Antes que Melanie atraque no barco, ela é atacada por uma gaivota que logo em seguida levanta vôo. Mitch resgata a moça e a confronta sobre sua vinda à cidade, que garante que veio visitar uma velha amiga que mora no local. Ele então a convida para jantar em sua casa e conhecer sua família, transformando a visita que duraria algumas horas em uma pousada durante o fim de semana.

O que ela não imaginava é que estranhos acontecimentos começassem a acontecer no local, tirando toda paz e tranquilidade da pequena vila e transformando sua curta estadia em um verdadeiro conto de terror. Milhares de aves começam a se juntar na baía e, sem um motivo aparente, começam a atacar a população do local declarando uma guerra que ninguém estava esperando. Em meio a todo o caos, Melanie e a família Brenner tenta sobreviver ao furioso ataque e ao terror visceral que nunca imaginaram presenciar.

Durante muito tempo os filmes de Hitchcock foram presença constante entre as  produções de suspense, criando obras atemporais que revolucionaram o modo de fazer cinema, e lhe garantiram o inegável titulo de Mestre do Suspense, deixando assim sua marca na sétima arte. Mas, mesmo entre os grandes nomes, algumas obras fogem da assinatura de seus mestres e trazem algo pitoresco e inesperado, mas não menos marcante.

Dirigido e produzido por Alfred Hitchcock, Os Pássaros é considerado, por muitos, o último grande filme do diretor. Levemente baseado no conto homônimo escrito por Daphne Du Maurier, o filme cria uma vertente não explorada do diretor que define sua obra como “a menos Hitchcock” da sua carreira. Rivalizando apenas com Psicose em quesito popularidade, o longa traz cenas icônicas que se tornaram um marco histórico do cenário audiovisual. Mesmo quem não é fã do gênero reconhece uma ou outra tomada e, embora o enredo pareça simples, o filme se mostra poderoso desde o seu primeiro minuto.

É na primeira cena que Hitchcock define que seu longa não é nem um pouco convencional, trazendo um debate palpável sobre a dominação dos humanos sobre outras espécies e a falta de empatia dos mesmos com o que está a seu redor. A atmosfera crescente de tensão, pontuada por acontecimentos espaçados, vai construindo cenas icônicas e trazendo uma agonia latente ao público. Sabendo explorar bem o misto de sensações, o diretor vai cozinhando seu público, mostrando os pássaros ocasionalmente no cenário, ou sons pontuais para nos lembrar que algo grande se aproxima, embora pareça indescritível temer algo tão inofensivo, mas é ai que mora a grande cartada do filme.

A descrença e o terror psicológico vai tomando conta dos personagens e do público, nos transformando em reféns do filme enquanto acompanhamos com terror os ataques. Não é a toa que pontualmente um personagem ou outro duvide da história ou tente explicar logicamente o que não tem explicação, tornando tudo mais aterrorizante aos nossos olhos. Cito aqui a icônica cena do restaurante, onde um debate ocorre e uma especialista afirma que existem bilhões de aves e que, em um eventual cenário de guerra, seriamos massacrados, o que deixa o publico ainda mais aflito para as cenas que viriam logo a seguir, tirando nossos fôlego em meio ao caos.

O longa ainda apresenta uma nova peculiaridade: a ausência de trilha sonora. O filme utiliza apenas sons diegéticos para construir sua tensão, além da cacofonia formada pela revoada em fúria. Hitchcock sabe utilizar bem suas câmeras, nos tragando para sua narrativa enquanto mostra aos poucos o que pretende, ou não, contar. Ele desperta nosso interesse nos dramas de seus personagens, nos distraindo do verdadeiro ponto do filme… Até sermos pegos de uma maneira avassaladora, a ponto de tantos questionamentos entrarem em perspectiva.

Os cenários, locações e até mesmo a iluminação, se tornam pontos chave, sendo transformados de algo aconchegante e belo para algo mais sombrio e tenebroso. Até o ambiente mais seguro pode se mostrar uma caixinha de surpresa, ao bel prazer do diretor. Hitchcock insere a fragilidade em seus personagens em momentos de silêncio, aproveitando as atuações fortes que conseguem pontuar a frustração e o desespero que cada um sente.

Sentimentos esses que são pontuados pelos diálogos bem construídos, seja por um ciúmes evidente de Annie (Suzanne Pleshette) ou a possessão materna de Lydia (Jessica Tandy), tudo ali é bem orquestrado trazendo novas camadas e engrossando a trama. Talvez, a mais apática do elenco seja Tippi, que não consegue expressar os sentimentos extremos que sua personagem necessita, trazendo algo morno e sem vida em meio ao caos que o filme propõe.

Embora tenha sim seus problemas, Os Pássaros é inegavelmente um marco histórico no cinema. Repleto de cenas memoráveis e com um final tão aflitivo que não nos larga mesmo após o derradeiro fim, o longa nos faz reavaliar e temer o inesperado, nos trazendo para um lugar desconfortável onde até a mais gentil das criaturas pode se mostrar algo aterrorizante e sombrio. E engana-se quem acredita que tudo precisa de uma explicação pois, as vezes, o não dito é ainda mais assombroso do que o revelado.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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