Crítica | Pantera Negra: Wakanda Para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever)

Nota
4

“Seu irmão está com os ancestrais…”

Wakanda está em luto, o Rei T’Challa faleceu por conta de uma doença terminal que o acometia e que ele fez questão de esconder do seu povo e da sua família. Agora, a Rainha Ramonda precisa carregar o peso de comandar a nação mais poderosa do mundo ao mesmo tempo que Wakanda é atacada por missões secretas de outros países em busca de Vibranium. Uma reserva de Vibranium acaba sendo encontrada no meio do oceano, uma reserva que pertence a uma nação que há anos vive escondida, Talocan. Agora Wakanda precisa escolher, se unir a Namor e seu povo para iniciar uma guerra contra o resto do mundo, ou não apoiar Talocan ao mesmo tempo que vem sendo responsabilizada pelos ataques feitos pelo povo submarino, entrando em guerra contra a nação de Namor enquanto está sendo atacada pelo resto do mundo.

Dois anos se passaram desde que o mundo perdeu Chadwick Boseman, uma perda que afetou diretamente a produção da sequência de Pantera Negra (2018), que precisou ser reescrita e completamente transformada para existir sem seu astro, mas o roteiro que Ryan Coogler e Joe Robert Cole entregaram vai muito além de qualquer expectativa. Começando com a dificil missão de tornar a morte de seu astro canônica no MCU, a dupla escolheu não só abordar a morte de T’Challa como transcender a tela e emprestar ao roteiro impressões cruas que fazem parecer frases parafraseadas diretamente do coração de cada membro do elenco, apesar de não abordar o câncer, a trama deixa claro que uma doença surgiu e que o Rei preferiu esconder sua ‘vulnerabilidade’, exatamente o que aconteceu com Boseman, e talvez seja por isso que o filme consiga tocar no fundo do nosso coração com cada uma das homenagens, que não são poucas, que o filme faz ao ator. Apesar da necessidade de homenagear Boseman, o filme não se resume a isso, ele vai muito além, construindo uma verdadeira história de superação, luto, respeito e cooperação, Wakanda está vulnerável quando tudo parece desabar ao seu redor, e a forma como a história de Namor e Talocan vai sendo exposta naturalmente na tela só facilita a conexão com o anti-herói, mesmo que ainda exista fatos nessa mitologia que pareçam oportunistas.

O peso emocional da obra e a brilhante direção de Coogler são essenciais para abrir o espaço que Angela BassettTenoch Huerta MejíaLetitia Wright precisam para se desenvolver no enredo. Basset é a grande estrela de maior parte do filme, a forma como a Rainha-Mãe assume o trono e deixa todas as suas feridas expostas para o mundo é essencial para mostrar a voracidade que enfrentará qualquer governo que tentar subjugar seu reino, a forma incisiva de suas falas, a dor em seu olhar, tudo na performance de Basset é magistral, ouso até dizer que a atriz merece uma indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante. Huerta chega no filme com uma grande responsabilidade, Namor é o incumbido de distanciar a trama do tema ‘luto’, mas também é o portador de uma mensagem de luto que conecta as tramas e impulsiona o enredo, sua sede de vingança pela humanidade é capaz de distorcer sua realidade e acaba afetando Shuri e a empurrando por um caminho tortuoso, do qual ela precisa aprender a escapar. Wright surge como a trama que não sabíamos ser essencial e lutamos muito a aceitar, as polemicas que a atriz se envolveu mancharam sua imagem, mas o cineasta soube como escapar da rejeição e construir Shuri de uma forma que, não podemos negar, funciona absurdamente bem no roteiro, a evolução de Shuri no filme é feita em fases, e o roteiro sabe deixar claro como cada experiencia vivida mexe na personagem e muda, num processo de refino que garante sua ascensão e redenção.

Profundo na medida certa e extremamente evolvente, Wakanda Forever está longe de ser o filme ruim que muitos pregam, principalmente por causa da competência e cautela de Coogler que nos presenteia com cenas dramáticas poderosas e conta com o apoio de um elenco muito bem alocado, as sequencias de ação, a trilha sonora e as pontuais homenagens a Boseman (que apesar de frequentes se mostram integradas à narrativa do filme) só mostram o quanto o longa sabe o que está fazendo. Namor empodera o filme de uma forma inesperada, com uma vilania real, consistente e interessante, ele tem motivações mas não é amolecido pela necessidade de um arco de redenção, o que torna sua presença agradável, infelizmente o roteiro peca pela indecisão da subtrama entre ele e Shuri, fica clara a intenção do roteiro de construir a conexão de Shuri e Namor para se transformar num casal (algo que foi confirmado por Coogler), mas o fato de o filme não desenvolver essa trama faz parecer que seria muito melhor deixar essas ‘insinuações’ fora do roteiro final, dando mais espaço para cenas explorando Talocan, que teve pouquíssimo tempo de tela. Outro ponto negativo é que a produção perde muito pela ausência de Boseman como protagonista, fica claro em vários momentos que o roteiro (que foi escrito antes da morte do ator e reescrito após o fato) foi feito para mostrar uma renovação de Wakanda após os eventos de Guerra Infinita e Ultimato, uma renovação sob as hábeis mãos do Rei T’Challa, e que o filme teve dificuldade de ser completamente eficiente ao mudar os envolvidos nessa renovação, o que deixa Wright encarregada de assumir um papel completamente novo, mudando até a personalidade de Shuri para se encaixar na proposta. Apesar do deslize com Shuri, vemos que Coogler compensa a trama ao conduzir o filme sem se apoiar completamente na Letitia, dando tramas relevantes para evoluir Okoye (Danai Gurira), que ainda reluta por abrir mão das tradições, Nakia (Lupita Nyong’o), que precisa reencontrar seu lugar em Wakanda, e M’Baku (Winston Duke), que claramente assume o papel de irmão mais velho para aconselhar Shuri na jornada que ela precisa enfrentar.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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