Crítica | Paraíso Perdido

Nota
4

Dono da boate Paraíso Perdido, o patriarca José  faz de tudo para garantir a felicidade de seu clã: os filhos Angelo e Eva , o filho adotivo Taylor e os netos Celeste e Imã. Unida pela música e por um amor incondicional, a excêntrica família encontra forças para lidar com seus traumas cantando clássicos da música popular romântica e atrai a curiosidade do misterioso Odair, um policial que cuida da mãe surda, uma ex-cantora.

Um longa pode ser elogiado ou criticado por diversos motivos, desde a sua direção, seu roteiro original ou adaptado, as atuações do elenco, efeitos especiais e por ai segue. Contudo, acredito que foram poucas as produções nas quais podemos elogiar pela sua coragem de querer contar uma determinada história de uma maneira bastante específica. Por isso mesmo, meus olhos e ouvidos já estavam decididos a ficar bem atentos com a ideia de um musical brasileiro, um gênero de filme que podemos afirmar nunca foi realmente explorado pelo cinema nacional.

A música brasileira tem uma identidade própria, desde a Bossa Nova nas décadas passadas, a Jovem Guarda, o Samba, MPB,  rock, pagode, forró, sertanejo universitário e por ai vai. Para minha agradável surpresa, o drama/musical Paraíso Perdido, tem a enorme coragem e sensibilidade de focar a sua história em grandes sucessos dos anos, 50, 60 e 70, com músicas de cantores como Márcio GreyckReginaldo Rossi, Adilson Ramos, Paulo Sérgio, Waldick Soriano, Belchior e muito mais.

Seria muito fácil agradar um grande público escrevendo um musical com músicas antigas extremamente conhecidas ou até mesmo hits atuais da nova geração. Quando falo da coragem de Paraíso Perdido, é exatamente a coragem de saber que esse não é um filme para todos os gostos, mas sim, para um público mais específico que poderá viajar ao passado com músicas nas quais se importavam muito mais com a letra e melodia do que as canções atuais.

Não entendam mal, a produção dirigida por Monique Gardenberg está longe de ser perfeita, e sofre com diversos problemas, como por exemplo, o excesso de personagens. Apesar da grande maioria dos personagens serem extremamente interessantes, a sensação é que o filme tentou tratar todas essas histórias e problemas de uma vez só, e acabou não finalizando nenhum desses arcos como eles realmente mereciam.

São poucas as produções nacionais nas quais podemos analisar realmente a cinematografia, estética, iluminação, figurinos, mixagem e edição de som. Em termos técnicos, Paraíso Perdido é um prato cheio, no qual consegue entregar muito bem suas mensagens e intenções através dos mínimos detalhes.

Outro ponto muito forte do filme são suas atuações. Os grandes destaques ficam por conta do ator Júlio Andrade, que já havia soltado a voz na série da Rede Globo, Justiça, e mais uma vez demonstra uma versatilidade incrível, além também do cantor Jaloo, que tem uma performance de encher os olhos. Os coadjuvantes Lee Taylor, Seu Jorge, Malu Galli e até mesmo Erasmo Carlos, também estão muito bem em seus papéis.

Paraíso Perdido é um ótimo filme, onde mesmo com algumas falhas no roteiro, especialmente no seu último ato, não perde o brilho da sua coragem. Provavelmente não será o filme nacional que irá encher todas as salas de cinema, todavia, para aqueles que souberem apreciar essa história, e a maneira que ela foi contada, não irão se arrepender.

 

Formado em publicidade, crítico de cinema, radialista e cantor de karaokê

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