Crítica | Peter Pan [1953]

Nota
4

“Segunda estrela a direita e direto até o amanhecer.”

Em uma pacata rua, na cidade de Londres, a família Darling passava mais uma noite. Cansado das histórias fantásticas que sua filha contava aos irmãos mais novos, o Sr. Darling decide que já é hora de Wendy crescer e dormir em um quarto separado dos irmãos, além de descontar sua raiva na pobre Nana, uma cadela que cuida das três crianças, amarrando-a do lado de fora da casa. Após esses pequenos ajustes, o Sr. e a Sra. Darling partem para uma festa de trabalho e deixam os três irmãos sozinhos em casa.

Enquanto aproveitam sua última noite juntos, os irmãos Darling dormem um sono tranquilo enquanto uma figura sombria invade seu quarto voando através da janela. É Peter Pan que na noite anterior, enquanto escutava as histórias de Wendy (a maioria sobre ele mesmo), perdeu sua sombra e agora procura desesperadamente a parte que lhe falta. Em meio a sua busca, Peter acorda Wendy, que entra em júbilo ao ver que o garoto é real.

Enquanto costura a sombra de volta no garoto, Wendy lhe conta que essa é sua última noite como criança e que ela está prestes a crescer e se mudar para o quarto ao lado. Indignado, o garoto que não quer crescer convida Wendy e seus irmãos a partirem com ele para a Terra do Nunca, um lugar mágico onde ninguém cresce. Com um pouco de pó mágico, pensamentos felizes e um salto de fé, as crianças Darling partem voando pelo céu londrino, em direção a segunda estrela até o amanhã para uma terra mágica repleta de sereias, índios e tenebrosos piratas.

Baseado na obra de J.M. Barrie, Peter Pan é o 14° longa animado da Disney. Com uma narrativa encantadora que mostra a real ligação e o profundo carinho que Walt tinha com obra, o longa atravessou gerações trazendo magia e fantasia para inúmeras gerações de fãs. Walt adorava tanto a história criada por Barrie que queria que o filme fosse o segundo da sua empresa, mas, devido a complicações, a obra teve que ser adiada e reservada para outro momento. Disney desejou tanto para trazer o filme a vida que reuniu os Nine Old Mens (basicamente, os maiores nomes da animação do estúdio) para uma última jornada juntos. As outras reuniões dessas mentes brilhantes resultaram em clássicos magníficos, como Cinderela e Alice no País das Maravilhas.

A produção da Disney foi a primeira a trazer um homem no papel de Peter Pan, assim como mostrar reais representações de Nana, Sininho e do famoso Crocodilo que atormenta Gancho, além de possuir belos cenários e cenas maravilhosas, como toda a sequência do voo sobre uma Londres adormecida. Com cores chamativas e um contexto bem construído, o filme brinca com suas metalinguagens e o manejo que a obra pede.

O filme traz camadas sobre seus personagens, dando uma profundidade ainda maior ao que nos é apresentado. Peter (Bobby Driscoll) pode ser tão cruel quanto Gancho, com sua rebeldia juvenil e com ações tão perversas que nos fazem questionar seu caráter. Logo em sua primeira cena, o menino que nunca quis crescer aparece às sombras, recortado pelo luar e, quando iluminado, apresenta uma careta grotesca e assustadora, mostrando um pouco da sua personalidade endiabrada. Peter sente prazer em torturar seu rival e acha engraçado coisas como afogamento, além de ignorar completamente as outras pessoas quando deixam de ser conveniente aos seus objetivos, largando a Wendy a própria sorte em muitas das vezes.

Capitão Gancho (Hans Conried) é atrapalhado e torturado por seus fracassos. Embora ele não pense duas vezes antes de matar alguém, o Capitão se mostra cheios de traumas e receios, além de ter uma obsessão com o garoto voador que lhe atormenta dia e noite. Wendy (Kathryn Beaumont) sofre um amadurecimento palpável durante a trama. Ela começa com uma maravilhada curiosidade sobre o mundo fantástico que tanto contou, mas descobre que, talvez, não seja tão maravilhoso assim. A protagonista é constantemente deixada de lado e esquecida pelos meninos, além de passar por uma seria crítica de “mulheres têm que pegar lenha” enquanto os garotos se divertem. Até mesmo os momentos mais encantadores se transformam em cenas cruéis, como a Baia das Sereias, e ela ainda é colocada no papel de mãe se mostrando responsável por todos eles e notando que por mais divertido que tudo possa parecer… nada é como um carinho de mãe.

Sininho é tão encantadora que rouba cada uma das cenas em que aparece. Completa de falhas, a fada consegue ser ciumenta e bastante maquiavélica quando quer, sem mostrar nenhum arrependimento pelo mal que causou a alguém que não gosta, mas disposta a sacrificar tudo pelo bem estar de Peter. Tendo como inspiração a modelo Margaret Kelly, Sininho se tornou um símbolo tão grande de magia que compõe a trilogia da logo da Disney até os dias atuais. Ainda ganhando uma série de filmes só para ela e encantado toda uma geração de fãs com seu pó mágico.

Como em uma brincadeira de criança, Peter Pan nos leva a uma terra fantástica que pode se mostrar cruel e perversa, mas que sempre será perdoada no fim do dia, pois não existe nada mais mágico que a imaginação inocente de nunca desejar crescer. E, como toda boa criança, por mais cruel que seja, tudo sempre é perdoado no fim do dia. Afinal, amanhã é outro dia que nos reserva uma brincadeira tão mágica quanto a de hoje, se você estiver disposto a acreditar.

“Pense uma coisa bem boa,
Que num instante você voa,
Lembre o natal a chegar,
Pense em nuvens a passar,
E logo pelo ar,
Vai voar
Vai voar”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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