Crítica | Pinóquio (Pinocchio) [2022]

Nota
3

“Mas para ser real de coração tem que cumprir uma provação. Gepeto fez a parte dele, e eu fiz a minha. Cabe a você ser real. Você tem que provar que é valente, sincero e muito generoso.”

Durante anos, a Disney conseguiu consolidar o cerne da magia em seu nome, trazendo uma associação natural ao encanto e beleza de seus sinais com a doçura de suas narrativas. Mesmo quem nunca viu suas obras mais antigas consegue reconhecer as cenas atemporais, que atravessaram o limiar da animação e se tornaram um marco cultural sem precedentes.

Pinóquio de 1940 faz parte desse legado, tornando-se um dos mais memoráveis clássicos do estúdio e revolucionando a maneira de se contar uma história. Por tanto, quando uma nova leva de live-actions foi anunciada para revitalizar os longas animados do estúdio, não foi nenhum choque que o amável boneco de pinho estivesse entre eles.

Com o fracasso de Dumbo nos cinemas, o camundongo criou uma nova régua para o que deveria ganhar espaço na telona, passando um pente fino no que seria uma aposta segura para o lucro. Com isso, a nova versão de Pinóquio sofreu uma reformulação, perdendo parte de seu investimento e sendo lançado diretamente no streaming, algo que se tornou visível ao longo de sua duração.

Dirigido por Robert Zemeckis, o longa até começa bem, trazendo uma nova camada a seus personagens enquanto respeita a estrutura criativa da animação. Suas motivações, arcos e aprendizados parecem bem estruturados, colocando peso nas escolhas feitas por personagens e trazendo sentidos nas passagens de tempo presentes no conteúdo original.

Pinóquio (Benjamin Evan Ainsworth) é um ótimo exemplo disso. O protagonista passa a ter um desenvolvimento mais elaborado, deixando de lado sua constante ingenuidade para aprender ao longo do caminho a interpretar os sinais ao seu redor. É dele que surge a análise que certos comportamentos possam estar errados, trazendo um crescimento oportuno à sua jornada. O roteiro corta suas intervenções para dar espaço para o boneco resolver seus problemas, tomando atitudes louváveis e encontrando seu próprio caminho dentro da narrativa. Um verdadeiro acerto.

Grilo Falante (Joseph Gordon-Levitt) soa confuso as vezes, trazendo uma quebra da quarta parede que nos faz questionar a necessidade de seus relatos. Logo na cena inicial, é colocada uma série de piadas que mais intrigam do que diverte, nos dando um choque narrativo que nos retira imediatamente da narração. Uma pena.

Ao mesmo tempo que a história tenta ser respeitosa e acrescentar a narrativa, ela perde seu rumo, não sabendo finalizar aquilo que se propõe a debater e deixando blocos inteiros sem uma finalização plausível. São intermináveis as discussões levantadas que acabam de maneira abruptas para iniciar um novo ciclo, usando personagens icônicos de maneira descartável para despertar a nostalgia no espectador.

O melhor exemplo disso se encontra na icônica Fada Azul (Cynthia Erivo), que perde parte de sua força e parece confusa com seu próprio poder. Seu ato parece mais uma falha ocasional do que uma lição a ser passada, trazendo uma participação quase nula que apenas aparece para fazer um check list do que precisava aparecer na trama. João Honesto (Keegan-Michael Key) e Gildeão são outros que perdem espaço na narrativa, entregando uma aparição anêmica que pouco tem a acrescentar a história.

Outro ponto importante é a falta de cuidado na construção com seu visual. Mesmo que Pinóquio e o Grilo ganhem aspectos louváveis, o mesmo não se pode falar de outros personagens e cenários da produção. É agonizante ver a falta de cuidado da produção com seus cenários, principalmente quando pessoas reais contracenam com o CGI ao seu redor. Seja pelo tempo errado do início de uma ação (um erro de principiante que um diretor renomado deveria notar no ato) quanto a sensação do espaço que estão inseridos, tudo parece deslocado, nos arrancando da narrativa e nos jogando diretamente no vale da estranheza.

Mas, talvez o pior erro do filme seja ignorar a magia presente no material base da Disney. Pinóquio consegue perder seu encanto ao desistir do coração de sua narrativa, nos deixando frustrados a cada novo ciclo enquanto esquece a verdade que emocionou seu público: o arco miraculoso sobre transformação que marcou gerações. E sim, o final parece não saber o que fazer, esquecendo totalmente o peso do original para nos entregar uma finalização meia boca de alguém que não tem coragem para concluir aquilo que veio reforçando ao longo do filme.

Embora tenha um bom coração, falta alma à nova versão de Pinóquio. Soando mais apática do que sua animação, o longa tenta encontrar seu próprio caminho, mas tropeça em suas próprias escolhas e nos entrega uma trama frustrante e sem uma finalização adequada. E, apesar de seus acertos em certos pontos e mesmo ignorando aquilo que grita em nossa cara, o longa deixa um gosto amargo em nossa boca, nos fazendo questionar se não seria melhor se o estúdio lembra-se um pouco da magia que tanto nos encantou um dia.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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