Crítica | Pode Me Chamar de Noel (Call Me Claus)

Nota
3

A figura do Papai Noel sempre esteve no imaginário de muitas crianças. Afinal, quem nunca sonhou com os presentes que o “bom velhinho” traz e com as cartas? Embora essa cultura não atinja totalmente a população e muitos já saibam que tudo não passa de imaginação, ela ainda se encontra forte nos desejos de uns, e a época natalina não é a mesma sem a sua representação.

Dito isso, essa carismática personalidade ultrapassa os sonhos das crianças e ganha vida na ficção. “Pode me Chamar de Noel” (2001), de Peter Werner), é um dos vários exemplos fidedignos dessa figura tão popular. Aqui, acompanhamos a história de Lucy Collins (uma sempre ótima Whoopi Goldberg), uma produtora de televisão viciada no trabalho. Depois de tanta adversidade na vida e da discriminação do passado, Lucy se tornou amargurada e praticamente fechada para tudo, cultivando um ceticismo que a impede de acreditar, inclusive, na essência do Natal.

E é justamente nesse tom cético que o filme procura se basear para a desconstrução. Quando a produtora descobre que deve contratar um Papai Noel para ser o representante de uma programação natalina, todo esse ceticismo fica desequilibrado. Em um dado momento, Lucy passa a questionar se realmente acredita na imagem do “vermelhinho”, mesmo que saiba de sua aparente inexistência – até encontrar o verdadeiro, chamado Nick (Nigel Hawthorne, cativante em cena). Estaria a protagonista disposta a mudar suas crenças em nome da profissão e do espírito que a cerca?

Relutante no início, Lucy acaba amiga de Nick, apesar das farpas que trocam. A mulher é tão amarga que nem a doçura do “bom velhinho” amolece esse coração desconfiado. No entanto, o filme peca a partir do momento que desconstrói o comportamento da profissional sem um tom mais aprofundado antes, permitindo que haja um aspecto artificial na sua conduta. O público entende que mudanças são bem-vindas e que fazem parte da narrativa, mas o modo brusco e vazio de como é feita pode prejudicar essa conexão e fugir da naturalidade.

E essa fragilidade no roteiro só aumenta com a possibilidade da própria Lucy substituir o Papai Noel. Seria a chance de Werner de fugir do padrão e construir uma ótima história com uma “Mamãe Noel” negra e chamar a atenção do público? Era a chance de trazer novos rumos e uma representatividade com fundamento, principalmente num meio tradicionalista, patriarcal e branco. Contudo, isso não acontece, e o filme passa a girar em torno da insistência de Lucy com Nick, não possibilitando uma conexão maior da protagonista com o espectador, que passa a torcer mais pelo bondoso velhinho.

Entre erros e acertos, “Pode me Chamar de Noel” ainda mantém uma ternura em alguns momentos e a nostalgia da infância. Afinal, antes de ser um filme que tenta passar uma mensagem por trás – deixar o espírito e o coração mais “leves” – é uma obra que dialoga com as crianças e suas crenças fantasiosas, para que nunca percamos nossa essência. Em 91 minutos, o longa se mostra satisfatório, primordialmente quando lembramos que a força cativante de Whoopi Goldberg nunca decepciona em cena.

 

Apenas um rapaz latino-americano apaixonado por tudo que o mundo da arte - especialmente o cinema - propõe ao seu público.

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