Crítica | Pompoko: A Grande Batalha dos Guaxinins (Heisei Tanuki Gassen Ponpoko)

Nota
5

A Colina Tama esconde diversos segredos, e o segredo que ninguém imagina é a sociedade de guaxinins que mora lá. Mas o que há de segredo em diversos guaxinins morarem juntos em uma floresta da colina? Apenas que esses guaxinins são mestres em uma técnica secular de transformação, onde eles são ensinados geração após geração a se transformarem em objetos, outros animais e até em humanos, para conseguir se disfarçar e sobreviver. Mas dessa vez, mesmo com suas diferenças com vilas de guaxinins vizinhas, eles terão que deixar a guerra de lado para lutar contra um inimigo comum: o avanço da civilização. Após muitos anos morando na colina, os guaxinins não contavam que os humanos que moravam ao seu lado deixaram as casas de madeira, para casas grandes e agora um grande centro comercial que pode acabar com a sua preciosa morada. Com os seus poderes, esses guaxinins terão que se unir para assustar os humanos da colina e finalmente viver em paz novamente, ou até outra guerra entre guaxinins ressurgir. Pompoko: A Grande Batalha dos Guaxinins é o oitavo filme produzido pelo renomado estúdio de animação japonês Studio Ghibli, e com um enredo super bem humorado leva a conscientização da preservação ambiental para crianças e adultos.

Dirigido pelo diretor Isao Takahata, conhecido por seu trabalho no emocionante Túmulo dos Vagalumes (1988), que junto com o Studio Ghibli traz uma proposta super diferente do seu primeiro grande sucesso. Com a comédia fantástica Pompoko, o diretor em parceria com a distribuidora Toho Animation, que já havia produzido o clássico Akira, traz uma proposta de animar o folclore japonês, coisa que não teria sido feita se fosse um filme do diretor Hayao Miyazaki, o maior nome do Studio Ghibli que trouxe clássicos como A Viagem de Chihiro (2001), já que o mesmo falou diversas vezes que não traria mitologia e folclore japonês em seus filmes de forma tão explícita. E exatamente por trazer tantas referências culturais que Pompoko se torna não só mais complexo do que aparenta ser, mas também com um enredo riquíssimo na exploração dos seus personagens, mesmo não focando especificamente em apenas um personagem só. Além disso, o diretor Isao Takahata antes de produzir o filme queria fazer uma adaptação do épico clássico Heike Monogatari, que data-se de antes de 1300, mas por fim acabou adaptando sua história nos aspectos de guerra no enredo de Pompoko.

O longa é repleto de referências a lendas e mitos que rodeiam o Japão há séculos, e o principal deles são os Youkai, que além de serem retratados comumente na mídia japonesa até hoje, são a base do filme. Pompoko representa principalmente dois tipos de youkais, os Tanukis, que são nossos protagonistas, os guaxinins com poderes de transformação, e as Kitsunes, que são mais conhecidos no ocidente representando raposas que possuem formas humanas, além de referências a youkais diversos que aparecem ao longo do filme. Também há a representação de outros youkais e suas relações com os seres humanos, já que youkai serve para descrever diversos tipos de criaturas sobrenaturais, sendo elas boas ou más. Em diversas cenas, faz parecer que alguns monstros e criaturas que aparecem foram criadas especialmente para o filme, mas absolutamente todas são referências a youkais reais.

Apesar de ser repleto de referências que os japoneses conhecem muito bem, o enredo do filme torna-se muito inteligente ao conseguir explicar conceitos básicos da mitologia em sua narrativa, sem torná-lo chato para quem já conhece as histórias de youkais, servindo inclusive como um filme cheio de referências divertidas. O que talvez frustre muitos espectadores seja justamente não entender as referências não tão explícitas. O filme também costuma representar bastante os sacos escrotais dos tanukis, que embora pareça controverso, tem um significado histórico já que metalurgicos usavam os sacos escrotais de guaxinins para transformar ouro em folhas de ouro, e com o passar do tempo isso foi atribuído ao folclore dos tanukis como youkais. Mas, mesmo tendo base histórica e cultural, esse pode ser um fator que possa afastar pais ocidentais de exibir o filme para suas crianças. 

Cheio de referências mitológicas e folclóricas japonesas, Pompoko: A Grande Batalha dos Guaxinins traz, acima de tudo, a conscientização da preservação ambiental para crianças e adultos de uma forma divertidíssima. O enredo é riquíssimo de referências da cultura japonesa, coisa que contraria os gostos do diretor principal do Studio Ghibli, o Hayao Miyazaki, mas que era algo planejado pelo diretor do filme, Isao Takahata, há muitos anos. Frustrado por não conseguir adaptar um épico japonês para filme, o diretor reuniu diversos conceitos da história de Heike Monogatari junto com o folclore riquíssimo do Japão para escrever um enredo que parece simples a princípio, mas acaba sendo muito complexo por conseguir encaixar tantas referências e características que podem fazer o público ocidental estranhar, pode afastar ou influenciar um olhar negativo para o filme, mas isso não tira a genialidade de Isao Takahata de produzir um filme tão rico e com uma mensagem linda de conscientização ambiental.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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