Crítica | Porco Rosso: O Último Herói Romântico (Kurenai no Buta)

Nota
4.5

“Prefiro ser um porco do que ser fascista.”

Depois um turbulento período de guerra, um ex-piloto emérito da Força Aérea Italiana se vê enfeitiçado e transformado em um porco humanoide, sem qualquer explicação plausível. Determinado a se afastar da crescente onda de fascismo em seus antigos companheiros e visando a crescente recessão econômica do país, Porco Rosso (Shūichiro Moriyama) se converte no maior caçador de recompensas que já existiu.

Isolado em uma ilha deserta no meio do mar Adriático e dotado de seu hidroavião vermelho, o piloto aceita os inúmeros trabalhos, caçando piratas aéreos e resgatando passageiros desprotegidos… por um considerável valor de recompensa, é claro. Tais feitos lhe dão uma fama considerável e despertam a irá de inúmeros inimigos que, cansados de serem derrotados, contratam um assassino de aluguel para pôr um fim nas aventuras do porco.

Após ser encurralado e quase perder sua vida no processo, Porco decide usar suas últimas economias para restaurar e aprimorar seu hidroavião. Para isso ele procura seu velho amigo Piccollo (Katsura Bunshi VI), um renomado especialista em motores que promete concertar e emprestar parte do dinheiro se o suíno permitir que sua neta, Fio (Akemi Okamura) lidere o processo.

Enquanto aguarda o conserto, Porco se torna próximo da garota e constrói uma boa relação com a mesma. Mas, tudo entra em conflito quando a polícia secreta entra no caso, querendo levar o antigo parceiro de volta a seu papel original… custe o que custar.

Lançado em 1992 e com uma temática um tanto quanto pesada, Porco Rosso: O Último Herói Romântico tinha tudo para ser um longa repleto de drama e desespero mas toma a direção oposta, trazendo uma das aventuras mais empolgantes do Studio Ghibli. Dirigido e roteirizado por Hayao Miyazaki, o longa aproveita sua temática mais pesada para introduzir seus elementos fantasiosos e carismáticos, que pouco esperávamos de uma história passada entre guerras.

O longa deixa propositalmente de lado seu cerne fantasioso, tratando com naturalidade a peculiaridade de seu protagonista para dar voz à mensagens mais poderosas e objetivas. Não é a toa que o cerne político, misturado com a posição das mulheres em uma sociedade destroçada pela guerra, são tratados com respeito e maestria trazendo ótimos debates que mostram que o filme não tem medo de por o dedo na ferida quando necessário.

A ascensão do fascismo é amplamente explorada, mostrando que aqueles que não se adaptam às novas normas são caçados e abatidos por quem está no controle. As frases, bem colocadas, trazem toda a importância da luta diária pelo direito a liberdade que parece ter sido esquecido quando as novas forças sugiram, trazendo tempos sombrios e devastadores.

Mas, mesmo com todos esses aspectos, a trama se mantém leve e despreocupada trazendo uma narrativa fluida e fácil de entender. Miyazaki não está preocupado em criar um perigo avassalador para seus personagens, mas em divertir e encantar seu público. Explorando a simplicidade enquanto nos presenteia com um vasto estoque de referências, o longa conduz seu espectador por cenários deslumbrantes e repletos de detalhes.

Utilizando seu amor por aviação, o diretor transborda aspectos mecânicos nos levando a um verdadeiro passeio sobre o funcionamento de suas máquinas. Além de presentear o publico com fantásticas cenas de combates aéreos que empolgam e seduzem de uma maneira difícil de explicar.

Mesclando o humor pastelão com cenas mais introspectivas, o longa consegue nos aproximar de seus personagens e limpar um pouco as nuvens pesadas que parecem cerca a narrativa. Entendemos melhor os dilemas de cada um e nos amarramos a sua jornada, torcendo por cada virada de enredo e apreciando as criticas bem construídas da narrativa.

Um momento em particular mostra toda genialidade do diretor, colocando seu protagonista para encarar o inexplicável enquanto nos da dicas sutis sobre a destruição e o verdadeiro preço da guerra. São sentimentos mistos que nos deixam tão imersos na trama a ponto de não sabermos reagir ao que vemos, além de permitir que cada um tire sua própria conclusão sobre o que foi mostrado.

Fugindo do convencional e entregando uma trama divertida e cativante, Porco Rosso: O Último Herói Romântico poderia facilmente ser mais um drama militar, mas escolheu um outro caminho que levou seu nome às alturas. Unindo as leituras épicas com seus encantos menores, o longa consegue ser um meio termo do estúdio, repleto de simbolismos bem construídos que tornam sua jornada tão grandiosa quanto qualquer outra. E, acredite, se for para ganhar os céus que seja como um porco.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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