Crítica | Priscilla

Nota
2.5

Ser famoso muitas vezes significa ter uma legião de fãs que te segue para todos os lugares e sabe tudo sobre sua vida e gostos pessoais, e que principalmente jura amor incondicional. Mas apesar desse sentimento de intimidade, será mesmo que você conhece de verdade o seu ídolo? Qual adolescente nunca sonhou em se casar com seu ídolo? Para a jovem Priscilla (Caliee Spaeny) esse sonho impossível, digno de fanfics do wattpad, se tornou realidade. Com apenas 13 anos ela teve a oportunidade de conhecer seu ídolo, Elvis Presley (Jacob Elordi), que logo se encantou pela garota. Essa é a premissa de Priscilla, da diretora Sofia Coppola, baseado no livro escrito pela própria Priscilla Presley, chamado “Elvis e Eu”. Famosa por filmes como “Lost in Translation” e “Marie Antoinette”, a diretora do começo ao fim traz sua identidade nesse seu novo filme.

A temática do filme não é fácil de ser trabalhada, já que um adulto de 24 anos ter interesse em uma menina de 14 anos é algo que deve ser repudiável. Para tratar de um tema tão delicado, o filme consegue ser bastante inteligente já na escolha do elenco, visto que o ator Jacob Elordi, com seus 1,96 metros, cria um contraste perfeito para deixar a atriz Caliee Spaeny aparentar mais nova, com seus 1,55 metros. Uma diferença de 41 centímetros comparadas a diferença real de 19 centímetros, que é uma diferença que é contornada com jogo de câmeras e posicionamento dos atores para demonstrar que a Priscilla vai crescendo.

A diretora tem uma sutilidade característica de seus filmes, que ficou estampada durante o filme inteiro. Há um trabalho de fotografia e direção de arte impecáveis, que consegue transportar até quem não viveu nos anos 60 com fidelidade à época. O figurino minucioso e a atenção aos cabelos até da figuração, com certeza podem garantir ao filme uma indicação ao Oscar. Apesar de ser um filme bonito, Priscilla parece se perder um pouco na sua narrativa. O filme segue consistente num estilo romântico que não deveria, já que um romance entre um adulto e uma adolescente não deveria ser retratado de uma forma tão romantizada. Apesar de fazer sentido termos essa visão romântica da Priscilla adolescente, o filme leva esse “clima” de romance por tempo demais. 

Tendo começado nas telas há pouco mais de 5 anos, Caliee Spaeny tem uma performance que funciona muito bem para a jovem Priscilla, mas à medida que o filme passa, sua atuação não consegue acompanhar bem a seriedade de algumas cenas, que a deixa parecer apenas uma protagonista qualquer de um romance teen. Já seu companheiro de cena, Jacob Elordi, que ficou conhecido mais pelo seu papel de Nate Jacobs em Euphoria, consegue surpreender no papel de Elvis. Tendo o duro trabalho de reinterpretar o cantor logo após a performance do Austin Butler em 2022, Jacob acerta em cheio não só nos maneirismos, mas principalmente na voz falada do ator, fazendo o sotaque sulista americano com perfeição, além de parecer muito mais fisicamente com o Elvis do que seu antecessor, Austin Butler.

Priscilla aparenta tentar agradar aos fãs do cantor Elvis, tratando com sutileza demais as problemáticas de seu relacionamento com Priscilla Presley. Apesar de mostrar um pouco do que a Priscilla passou nas mãos de Elvis desde sua adolescência, o filme parece focar mais em um romance entre os dois do que mostrar efetivamente o que ela sofria em ser manipulada emocionalmente por ele. No fim, apesar de muito bonito esteticamente, o filme tenta se colocar como um alerta a relacionamentos abusivos, mas ele nunca consegue chegar ao fundo o suficiente nesse ponto. O que parecia ser um filme em resposta à vangloriação de Elvis (2022), se torna apenas um romance água com açúcar complementar à história de 2022.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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