Crítica | Psicose (Psycho) [1960]

Nota
5

“Bates Motel
Temos Vagas”

Em Phoenix, Arizona, Marion Crane (Janet Leigh) recebe uma oportunidade de ouro. Ela e seu namorado Sam Loomis (John Gavin) planejam um casamento, mas devido a situação financeira de Sam esse sonho se mostra algo distante e inalcançável. É por isso que Marion decide roubar os 40 mil dólares que deveria depositar para seu patrão e recomeçar a vida ao lado de seu amado.

Determinada, a secretaria foge de carro mas, ao se sentir acuada por um policial, ela decide trocar seu veículo e seu caminho, se perdendo durante uma noite chuvosa. Sem enxergar um palmo diante dos olhos, Marion é obrigada a pernoitar em um motel à beira da estrada, onde é recepcionada pelo gentil e educado Norman Bates (Anthony Perkins) que mora com a mãe próximo ao local e coloca Crane no primeiro quarto disponível.

Após uma breve conversa com o rapaz, Marion percebe seu erro e decide retornar ao seu local de origem, antes que seja tarde demais. Determinada a corrigir tudo, ela se prepara para um banho e é nesse momento que a história do cinema foi alterada de uma vez por todas. Em uma das cenas mais icônicas da sétima arte que choca e é reprisada como supra sumo do suspense até os dias atuais.

Ao longo da história, existem filmes que marcam a vida de quem os assiste. Revolucionando e moldando a forma de como se conta uma trama, e existem mentes brilhantes que conseguem reformular e inovar seus conceitos, trazendo verdadeiras lendas a realidade. Provocando crítica e público com seus conceitos inovadores, que marcam em nossas mentes e redefinem a maneira de se fazer cinema.

Alfred Hitchcock é uma dessas pessoas. Com sequências marcantes e uma assinatura inspirada, o diretor levou alguns dos melhores momentos do cinema para um novo nível, mas após o seu último filme ele se viu preso em uma fonte sem inspiração. Obrigado a fazer mais um filme para a Paramount, Hitchcock encontrou sua nova mina de ouro através das mãos de sua secretária, mas sua adaptação parecia pouco confiável e o estúdio negou o orçamento original.

Confiante que o filme seria um sucesso, Hitchcock apostou todas suas fichas e pagou a produção do seu próprio bolso, chegando inclusive a hipotecar sua casa no processo. Os direitos da obra foram comprados assim como todas as copias disponíveis da obra original, de modo que o publico só passasse a conhecer o final chocante da historia no cinema. Demostrando uma das melhores jogadas de marketing da historia.

Baseado na obra de Robert Bloch, Psicose é um verdadeiro divisor de águas. Filmado em preto e branco (devido ao baixo orçamento) o longa apresentou momentos tão icônicas que são revisitados até hoje, criando uma avalanche sem precedentes para o subgênero de filmes Slashers.

Com uma direção afiada, uma fotografia impecável e uma trilha penetrante e icônica o longa nos apresenta dois filmes distintos que conduzem seu publico com maestria. Em todas as artes, a figura de Janet era exageradamente usada, nos indicando seu protagonismo e sua funcionalidade na trama. E, na primeira parte, isso é seguido à risca.

Acompanhamos a jornada de Marion, sentimos seus erros e acertos, nos sentimos claustrofóbicos com ela e temeroso com seu destino. Criamos uma verdadeira empatia com o carisma e o olhar profundo que ela possui, determinada a tomar o destino em suas mãos para logo em seguida vê-la ser brutalmente assassinada, em uma das cenas mais chocantes do cinema. Como o filme poderia prosseguir sem sua protagonista? Como continuar depois de algo tão dramático e denso?

A cena em questão é tão marcante que até hoje é lembrada como uma das melhores do gênero. Com mais de 50 cortes, violência e nudez sobressalentes para a época e um impacto visual tremendo é impossível não sair chocado com o tremendo brilhantismo do diretor nesse momento. Desde o seu momento inicial, até a brilhante transição do ralo sangrento ao olho arregalado sem vida, é feito com uma genialidade incalculável. Somadas a trilha rítmica de Bernard Herrmann, que arrepia até a alma e nos deixa sem ação.

Somos então levados à segunda parte, com um terror psicológico mais presente que nos torna temerosos e ansiosos a cada novo segundo. Somos apresentados a novos personagens e ganhamos novas camadas a explorar em algo que se mostrou mais complexo do que imaginávamos a princípio.

Lila Crane (Vera Miles) chega a cidade, determinada a encontrar a irmã e fazê-la desistir da loucura. Obstinada, ela se recusa a ficar de braços cruzados e toma a frente na maior parte do plano. Sam se recusa a acreditar que a mulher que ama faria uma coisa dessas. E, embora surjam na metade do longa, ainda sentimos sua força e personalidade, mas a trama já ganhou um novo protagonista, e esse marcou o filme de uma forma sublime.

A construção de Norman Bates é impecável. Perkins nos presenteia com uma atuação cheia de camadas, que aprofundam e nos aproximam de seu personagem além de convencer a todos com as entrelinhas em sua maneira de agir ou até mesmo em sua expressão. Em nenhum momento duvidamos do poder avassalador que o personagem tem, e vamos descascando sua personalidade submissa à mãe, de alguém capaz de esconder um crime para proteger quem ama.

E, conforme avançamos, somos introduzidos a um dos melhores plots da historia, ao entendermos o quadro como um todo, nos proporcionando outro momento inesquecível do cinema. Não é a toa que a figura de Perkins ficou tão ligada ao Norman, nos chocando com a maestria de sua atuação somadas a um ritmo poderoso que marcou a todos.

Ousado e poderoso, Psicose é lembrado até hoje como um dos melhores filmes já feitos. Com uma trama exemplar e uma desenvoltura sem precedentes, o filme se tornou um clássico indispensável, com uma qualidade incalculável que reformulou o mundo cinematográfico. É impossível não sair transformado depois de assistir ao filme e apreciar a maestria de Hitchcock ao conduzir sua trama, que se tornou absoluta e atemporal, como só um mestre seria capaz de fazer.

“Se você ama alguém, você não consegue deixá-la, mesmo que te trate mal. Você entende? Eu não odeio a minha mãe. Eu odeio o que ela se tornou. Eu odeio a sua doença.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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