Crítica | Ricos de Amor

Nota
3.5

“Nas veias da família Trancoso corre molho de tomate.”

A vida de Teto (Danilo Mesquita) é resumida a dinheiro, fazenda e mulheres, tudo bancado por seu pai, Teodoro (Ernani Moraes), um bem sucedido empresário conhecido como O Rei do Tomate. Mas o futuro herdeiro do império de plantações e fábricas Trancoso leva um soco de realidade quando Igor, seu melhor amigo e filho do caseiro, insinua que o garoto só tem todo esse prestigio com as mulheres por causa do seu dinheiro, uma afirmação que fica na sua cabeça principalmente quando ele conhece Paula (Giovanna Lancellotti), por quem ele se apaixona e resolve virar sua vida do avesso para se aproximar dela e provar que pode subir na vida e conquistar um amor sem precisar usar seu sobrenome.

O longa se desenrola completamente quando Teto e Igor resolvem ir para o Rio de Janeiro, onde se inscrevem num programa de estágio na filial carioca da Trancoso e, por ideia de Teto, trocam de nome para que o Príncipe do Tomate prove que consegue ganhar a vaga que será dada ao melhor aprendiz, sem precisar usar seu sobrenome para ser mimado pelos professores, apostando com Igor que conseguirá ganhar o cargo independente de ser um Trancoso. Mas uma grande motivação para que ele vá ao Rio é Paula, a garota que ele conheceu em sua cidade, uma estudante de medicina que sonha com sua independência e desperta o melhor de Teto sem nem saber que o garoto é abastado, o que faz o garoto afundar em uma gigantesca enrascada por iniciar uma relação baseada em mentiras e por acabar pedindo a ajuda da batalhadora Monique (Lellê), a executiva júnior da Trancoso que acaba sendo demitida pelo presidente da empresa para abrir espaço para a entrada de Teto, algo que o garoto descobre mas não conta a sua apoiadora enquanto tenta reverter.

O longa feito por Bruno Garotti para a Netflix pode parecer uma daquelas comédias românticas clichês, mas ele vai além daquele cinema good vibes que já é padrão do gênero, indo muito além daquele padrãozinho de apresentar planos desastrados que levam a situações cômicas, redenções e reviravoltas, tudo nos rápidos 90 minutos de filme que divertem mesmo sem ser uma obra prima do gênero. O filme luta, mesmo que discretamente, para militar. Temos um debate incrível sobre meritocracia protagonizado por Danilo, Lellê e Jaffar Bambirra, onde temos um garoto que luta para provar que merece o cargo, um garoto que não precisa lutar por nada por causa do seu sobrenome e uma funcionaria que mereceu o cargo mas foi demitida por motivo nenhum. A Lellê surge ainda com uma imensa representatividade, ela é negra, marginalizada e vive com sua irmã, que é mãe solteira, mas mostra uma força indescritível, não baixando a cabeça hora nenhuma para Teto, sem medo de bater de frente com o filho de seu patrão e nem de falar umas verdades na cara dele.

Por fim, o combo militância é completo pelo núcleo de Giovanna Lancellotti: uma residente de medicina que precisa se submeter a seu professor assediador e luta contra o medo e a frustração. Paula é a melhor aluna da sala e, assim como Teto, ela merece o cargo que será premiado ao melhor aluno mas, enquanto Teto luta contra a meritocracia, que faz os professores babarem Igor por achar que é o herdeiro Trancoso, Paula precisa enfrentar Vitor (Caio Paduan), o médico que o cerca o tempo todo, forçando um relacionamento e a fazendo se sentir mal nas aulas. O homem parece querer condicionar o cargo a uma relação, subjugando a garota o tempo todo e precisando da intervenção, mega bem humorada, de Raissa (Bruna Griphao), que passa a dar bebidas com sedativos ao medico para tira-lo do caminho da amiga.

O humor da trama surge como equilíbrio perfeito para suavizar os temas tão sérios que ela trata, elevando o seu patamar ao mesmo tempo que aumenta sua profundidade. Nesse ponto, o trabalho da romântica e atrapalhada consultora de RH Alana, interpretada por Fernanda Paes Leme, surge como ingrediente essencial, com seu humor simples e inocente, a atriz consegue nos tirar risada em cada uma das suas cenas ao mesmo tempo em que vai mostrando sua personagem se apaixonando por Igor, sem nos deixar saber se Alana se apaixonou realmente pela personalidade do garoto ou pela suposta riqueza, já que ela acha que ele é herdeiro da Trancoso. Todo o enredo do longa é acentuado pela fotografia e os contrastes entre cenários, mas o verdadeiro primor técnico do longa fica nas mãos de Alok, que além de fazer uma participação bem animadora no inicio do filme é presença constante na trilha do filme, embalando as melhores cenas do longa e climatizando de forma ideal cada momento. A produção pode não ser aquele blockbuster que iria te arrastar para o cinema mais próximo, mas tem grandes chances de ser o filminho que vai te atrair nessa quarentena, e merce ser curtido sozinho ou com seu amor.

“Eu, você, dois filhos e um cachorro. Um edredom. Um filme bom no frio de agosto, eai? Cê topa?”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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