Crítica | Robô Selvagem (The Wild Robot)

Nota
3.5

Após ser acordada em uma ilha estranha, a robô ROZZUM unidade 7134 tenta identificar onde está e descobrir quem a comprou para seguir seu propósito: ser um robô doméstico, criado para servir os humanos em tarefas cotidianas. Mas, logo após vagar e ser atacada de diversas formas pelos animais da ilha, ela percebe que não há nenhum humano nessa ilha e que provavelmente ela foi parar ali por algum engano. Porém, antes de tentar ir embora e voltar para o mundo dos humanos, o destino da robô se cruza com a de um ovo de ganso, que ao chocar, se apega a ela por achar que era a sua mãe. Então, após se auto designar com a tarefa de ajudar o pobre ganso, com a ajuda da raposa chamada Astuto, Rozz vai cuidar do seu jovem ganso, ajudando ele a nadar e voar até antes do inverno para que assim ele possa migrar. Essa é a premissa de Robô Selvagem, nova aposta da DreamWorks para as premiações, apostando mais uma vez na inovação em técnicas de animação para atrair mais pessoas ao cinema.

Do mesmo diretor de Lilo e Stitch (2002) e Como Treinar o seu Dragão (2010), Chris Sanders, Robô Selvagem é a nova aposta da DreamWorks para as premiações de animação no ano que vem, sendo considerado como o melhor filme do estúdio. Seguindo a tendência atual, o filme segue o estilo de animação iniciado dentro da DreamWorks pelo filme Gato de Botas 2: O Último Pedido, de uma animação mais estilizada, com cenários que lembram pinceladas de tinta, texturas dos personagens menos realistas e mais cartoon e um excesso de cores em cenas de ação, que acaba se destacando em meio a era dos filmes live actions com tons acinzentados. Apesar de conter um elenco de peso na dublagem original, como Lupita Nyong’o, Pedro Pascal e Kit Connor, Robô Selvagem se destaca mais com sua adaptação dublada em português.

A voz principal da Robô Rozz foi encarnada pela Elina de Souza, que tem uma carreira relativamente recente na dublagem, com os seus primeiros trabalhos a partir de 2021, e que fez um excelente trabalho encarnando bem a essência da Robô, saindo um pouco do padrão caricato já conhecido em personagens robôs e trazendo um pouco da nova realidade com vozes mais humanizadas, lembrando bastante a nossa atual realidade com inteligências artificiais. Outro personagem de destaque, a raposa Astuto, tem sua voz na versão brasileira pelo ator global Rodrigo Lombardi, que tem uma longa carreira na dublagem desde 2009, mas tendo como seu papel marcante uma outra raposa, o Nick Wilde de Zootopia (2016). Lombardi com seus anos de experiência na dublagem consegue ultrapassar bastante a performance do ator original, Pedro Pascal, trazendo mais nuances para o personagem, assim como mais caricatice para o papel que muitas vezes serve de alívio cômico. Uma surpresa foi o ator Gabriel Leone como o simpático Bico-Vivo, que tem uma performance okay, ainda mais comparável ao material original do filme. Leone que já teve uma experiência prévia em dublagem não adiciona nada de novo no personagem, assim como seus companheiros de cena.

Apesar do ótimo elenco e dos recursos visuais recentes serem o maior apelo do filme, Robô Selvagem eleva muito sua própria história a um patamar mais alto do que deveria. A Dreamworks usou muito nas divulgações do trailer do filme, quotes de veículos de mídia como “O melhor filme já feito pela Dreamworks”, “O melhor filme de animação do ano”, e “o melhor filme, ‘period’ ”, o que se torna de fato um ótimo marketing para o filme, mas que pode decepcionar fãs de animação por colocarem suas expectativas lá no alto. Filmes que falam sobre a relação da tecnologia com a natureza não são uma novidade, e exatamente por isso, Robô Selvagem fica um pouco para trás com relação a sua concorrência.

Apesar de ser uma linda história que faz você criar empatia pela Robô Rozz e pela história do ganso Bico-Vivo, o enredo não vai muito além disso, o que acaba decepcionando, visto que o filme usa de cenários famosos, como a Golden Gate submersa pela água, como uma denúncia à crise climática que estamos vivendo apenas de plano de fundo, sem usar isso como elemento narrativo. Que foi muito diferente com Wall-E (2008), que conseguiu trazer todo o contexto de poluição da terra para trazer uma mensagem de como a tecnologia pode de fato ajudar na preservação ambiental, o que ao contrário de Robô Selvagem, às vezes parece que o filme quer trazer esse tipo de discussão mais séria para para o público infantil, mas apenas reduzem a narrativa clichê de um Robô que cria emoções humanas, sem aprofundar em temáticas diversificadas, nem explorar melhor seus personagens. 

Robô Selvagem é um filme lindo e bem feito, mas não chega a ser revolucionário como o marketing da Dreamworks afirma. Nós brasileiros tivemos a sorte de termos uma boa direção de dublagem comparada a versão original, que mesmo com algumas performances que não se sobressaíram tanto, as vozes de Elina de Souza e Rodrigo Lombardi elevaram muito as cenas e diálogos do filme, especialmente comparando com a dublagem original. A animação da Dreamworks continua surpreendendo com uma estética, que após o sucesso de Gato de Botas 2: O Último Pedido, o estúdio tem a missão de replicar o sucesso de público e de crítica. Mas em contrapartida o marketing eleva muito o filme sem necessidade, visto que o roteiro do filme não é nada criativo, e o esforço em inovar em técnicas de animação em 3D é nítido apenas para trazer mais uma vez a Dreamworks a um status de relevância e possivelmente desbancando a Disney em mais um ano de premiações, o que talvez nem ocorra. Mas apesar do roteiro não inovar em nada e trazer velhas premissas da relação dos seres humanos, novas tecnologias e a natureza, Robô selvagem é uma história bonita sobre amizade que não se aprofunda em temas importantes como a preservação do meio ambiente como em outros filmes do gênero. Robô selvagem estreia em XX de outubro, e é um filme que pode agradar as famílias que irão ao cinema no próximo mês.

 

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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