Crítica | Ruim pra Cachorro (Strays)

Nota
4.5

“Eu amo minha vida. Eu amo o sol, eu amo as borboletas. Mas mais que tudo, eu amo o Doug.”

Reggie é um ingénuo e otimista Border Terrier, ele ama com todas as suas forças o seu dono, Doug, e admira cada ação dele, como se fossem uma forma de dedicação e carinho. Ele ama o fato de Doug ter escolhido ficar desempregado para ficar sempre ao lado dele, ou o fato de Doug nunca comprar brinquedos para dar liberdade de ele brincar com qualquer objeto que ele encontrar. Mas um certo dia, Reggie é largado na rua por Doug, e depois de tanto relutar para aceitar que seu melhor amigo seria capaz de abandona-lo, ele começa a enxergar o quanto todos os ‘atos de carinho’ eram na verdade maltratos, o que faz se unir a Bug,um Boston Terrier que abre seus olhos para quem Doug realmente é e o ensina a viver como cão de rua, Hunter, um Dogue Alemão treinado para ser um cachorro policial que foi adotado por um casal de velhinhos, e Maggie, uma Border Collie que passou a receber pouca atenção de sua dona depois que Bella, uma fofa Spitz Alemão Anão, chegou em sua casa, e iniciar uma jornada para encontrar o imbecil sem coração que era seu dono e se vingar da relação tóxica que foi submetido no decorrer dos últimos dois anos.

Em meados de 2019, Phil Lord e Chris Miller, que já haviam figurado no Oscar com Uma Aventura LEGO e Homem-Aranha no Aranhaverso, assinaram contrato com a Universal Pictures para desenvolver conteúdo de comédia para o estúdio, acabando por ser tornar responsaveis, em 2021, de acolher o roteiro de Dan Perrault adquirido pela Universal: uma comédia adulta focada em cachorros de rua. A produção, que tem direção de Josh Greenbaum, brinca com o drama do relacionamento abusivo de um dono com seu cachorro, da dor que pode causar em alguns espectadores assistir a forma egoista e rude que Doug tratá Reggie, com a comédia escrachada e sem filtro de um cachorro inocente que acaba tendo um choque de realidade e ganhando uma nova missão pessoal, entrando num mundo completamente novo, que precisa se adaptar, enquanto busca realizar a grande vingança que tanto precisa para seguir em frente. A produção enfrenta o grande desafio de unir um filme de cachorro com direito a cães atores protagonizando todo o filme com uma comédia adulta extremamente pesada, cheia de piadas explicitamente sexuais e metalinguagem (como o maravilhoso Golden Retriever dublado por Josh Gad que surge como uma breve participação zombando da moda de filmes doces sobre cachorros falantes que têm o cão protagonista como narrador).

Dublado por Will Ferrell, Reggie possui uma longa e profunda jornada interna e externa no desenrolar do longa, o cãozinho precisa aprender a se amar e entender o que realmente significa ser amado para ter a capacidade de enxergar o que sofria na mão de Doug, mas além disso ele precisa passar por uma jornada para deixar de ser dependente da aprovação do seu antigo dono, o que é explorado no filme com um tato sem igual, sabendo dosar a comédia e o drama da forma ideal para divertir e nos fazer refletir. O obstinado Bug dublado por Jamie Foxx é outra peça fundamental para o funcionamento do roteiro, ele provoca diversas piadas ao levar Reggie e seus amigos a enxergar certos comportamentos como legais, além de ser o maior critico das atitudes dos cachorros clichê de filmes do subgenero, mas ainda assim o roteiro consegue deixar espaço para um arco dramatico latente ser desenvolvido para o personagem, resgatando traumas do passado e o impulsionando a enxergar as chances que surgem em sua frente. Maggie (Isla Fisher) e Hunter (Randall Park) podem não ter uma extensa evolução como os outros protagonistas, mas o longa sabe criar um background que oferece traumas e medos para ambos, deixando uma base a ser trabalhada no decorrer dos 93 minutos de filme, além de uma relação linda de se ver que vai sendo contruida no ritmo ideal.

Ruim pra Cachorro não é um filme para todos os públicos, suas piadas adultas limitam quem pode consumir e quem pode se agradar, mas é uma experiencia excelente para os que se permitirem vive-la. O humor (bastante) ácido do filme acaba proporcionando cenas apelativas e momentos engraçados que funcionam na maior parte do tempo, criando um besteirol acima da média que ocupa bem o tempo, ele é uma clássica comédia nonsense como tantas outras no curriculo de Will Ferrell. Não se pode negar que o ritmo cai em alguns momentos, mas no geral o filme funciona e entrega o que propõe, conseguindo fugir de seguir o caminho dos guilty plesures como Festa da Salsicha. O drama presente na produção se fortalece pelo fato do enredo trazer todos os clichês de filmes de cachorros e de melhores amigos, algo que pode facilmente ser apreciado por quem estiver disposto a enxergar além dos palavrões e das subversões que o filme entrega, dando ao espectador a oportunidade de contemplar e se agradar das ideias, das lições, da edição, da dublagem e dos rumos que a trama consegue seguir sem normalizar o carater de combate às relações tóxicas.

“A única coisa no mundo que Doug talvez ame mais do que eu é o brinquedo favorito dele: seu pênis. […] às vezes eu queria ser um pênis.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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