Crítica | Se a Rua Beale Falasse (If Beale Street Could Talk)

Nota
4

Se a Rua Beale Falasse é a adaptação do livro homônimo republicado este ano pela Companhia das Letras. Assim como no livro, vamos acompanhar a complicada situação de Tish (Kiki Layne) e Fonny (Stephan James). Tish é uma garota de 19 que está grávida de seu namorado, que foi acusado de ter estuprado uma porto-riquenha, mesmo que não haja provas de que isso de fato aconteceu. Enquanto o Fonny está preso, a garota faz de tudo para que ele seja inocentado. Enquanto vemos o desenrolar do caso, podemos perceber a subtrama que permeia todo o filme: o racismo.

Depois de Moonlight: Sob a Luz do Luar, Barry Jenkins traz às telonas a adaptação de Se a Rua Beale falasse, baseado no livro do escritor James Baldwin. Apesar de ter uma temática parecida com o filme anterior, que, inclusive venceu o Oscar, nesta produção o foco é no drama vivido pelos jovens negros e na injustiça social em que eles são obrigados a viver.

Assim como no livro, é possível perceber duas linhas temporais bem distintas. Enquanto temos no presente a protagonista descobrindo sobre a gravidez e esperando o namorado ser julgado, no passado é mostrado como tudo aconteceu, desde o nascimento do relacionamento até o episódio em que ele é acusado de ser um estuprador. Em meio a essa passagem temporal, é apresentado ao telespectador as tramas de subjazem o que está sendo visto: o racismo, a violência policial, a mulher negra sendo sempre objetificada pela sociedade.

E como a cereja do bolo, ainda há as boas atuações nesta adaptação. A Kiki Layne entrega uma protagonista frágil, fraca no primeiro momento, mas logo podemos perceber o crescimento da personagem, uma boa representação de resistência. Apesar de tudo o que vem acontecendo, ela tem uma certeza: seu namorado é inocente. Mas como ela tem tanta certeza? Ela é negra. Ela também sofre com essa violência policial e sente a injustiça todos os dias, há 19 anos, mesmo que sua família seja empoderada e unida, o que não podemos falar o mesmo da família do Fonny. Mas não só a Kiki Lane entrega uma personagem assim, a sua mãe, interpretada pela Regina King, nos mostra uma mãe doce (a típica característica da mãe) e, além disso, uma mulher batalhadora, tão forte quanto a filha. Aqui, não tem mulheres esperando por homens; nesta produção, elas têm força e voz.

Apesar de todos os acertos, a produção é um pouco lenta, o que pode desagradar alguns telespectadores. Mas a impressão é que isso é proposital; afinal, faz com que nos sintamos incomodado com a lentidão. É assim que funciona o sistema para pessoas de cor: lento e sem preocupação. Até isso foi bem pensando. Se esquecermos deste pequeno detalhe, teremos uma duro retrato da vida de uma pessoa negra, que precisa (infelizmente) lidar com o racismo, a injustiça de um sistema penitenciário, a violência policial e uma sociedade que sempre coloca pessoas de cor para viver à margem. Sem dúvidas, Se a Rua Beale falasse é uma produção cheia de beleza visual e tecnicamente falando, mas é uma história tão triste, mas tão real e atual que é impossível não nos criarmos empatia pelo o que está sendo mostrado.

 

Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.

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