Nota
Jeanne (Audrey Dana), uma mãe solteira com 38 anos e arquiteta, é recém-divorciada e separada de seus filhos a cada duas semanas. Em uma manhã inusitada, sua vida está prestes a tomar um rumo engraçado, que à primeira vista nada mudou… exceto por uma coisa: ela está com um pênis. Colocando em prática o desenvolvimento de seu projeto junto com o seu colega de trabalho Merlin (Éric Elmosnino), ela frequenta a Obra de sua escola totalmente sustentável. Após o acontecido, Jeanne se sente mexida e confusa, e sua única atitude é procurar seu ginecologista, o Dr. Pace (Christian Clavier).
Marcelle (Alice Belaidi) é vizinha de Jeanne que demonstra curiosidade e uma certa felicidade com o acontecido, ela é a pessoa que mais dá apoio e suporta todos os seus dramas durante o pequeno problema. A situação na empresa fica hilária, pois algumas pessoas do seu local de trabalho não sabem do problema e pensam coisas totalmente aleatórias com relação ao que supostamente está acontecendo. Seus gestos e jeito acabam sendo engraçados e, mesmo parecendo estranha e louca, a Jeanne tenta se entender e se familiarizar com seu pênis.
Anton (Antonie Gouy), seu ex-marido, passa a procurá-la para falar sobre seus filhos e sobre o filho que ele teve com outra mulher. E a protagonista torna os momentos de encontro com seu ex completamente engraçados. Com a questão da masculinidade se caracterizando mais em seu corpo, ela começa a ganhar força e tem seu primeiro relacionamento com uma outra mulher. A aceitação acaba se tornando algo comum e com isso muitas coisas acabam seguindo bem na sua vida pessoal e no seu trabalho.
Audrey Dana teve o trabalho de dirigir, escrever e protagonizar o longa, e fica perceptível que seu trabalho foi de extrema grandiosidade e que a comédia foi na dose certa, passando as principais necessidades da personagem e seu completo desespero, sem esquecer do alívio cômico. O longa é algo ideal para ver com a família no domingo à tarde, causando risos e comoção em seu espectador.
A fotografia do longa tem tons frio e que casam perfeitamente com os figurinos, e até mesmo o clima da cidade escolhida para o projeto. Vale destacar que muitos figurinos não fizeram da personagem um homem, mas o espírito da mesma muitas vezes fazia a questão dessa necessidade. A mistura da história envolvendo um projeto arquitetônico foi algo interessante, mostrou que a personagem continuou levando sua vida normalmente, independente do problema, e aceitou de fato a sua pequena condição naquele momento. E em nenhum momento se sentiu impedida de se relacionar com alguém novamente.
Jeanne mostrou ser uma mulher forte, entendendo questões da vida masculina e fazendo do seu desespero algo para o público rir. No entanto, sua vida volta a se encaixar aos poucos ao descobrir sua forte paixão por Merlin. O longa é algo que realmente encanta e leva as pessoas aos risos. Tem comédia e emoção no ponto certo, induzindo as sensações no espectador. O projeto prova que a mulher pode ser poderosa e que precisa ser respeitada em diferentes locais de trabalho e até mesmo na sua vida familiar, porém a visão da Audrey Dana vai muito além de coisas desse tipo.
Luiz Eduardo
Formado em Letras, atualmente cursando Pós-graduação em Literatura Infantil, Juvenil e Brasileira. Sentindo o melhor dos medos e vivendo a arte na intensidade máxima. Busco sentir histórias, memórias, escrever detalhes e me manter atento a cada cena no imaginário dos livros ou numa grande tela de cinema.
Resposta de 1
Não recomendo nem a meus inimigos….Achei o filme horrível…. Primeiro pq reforça a ideia machista de que “ser homem é ter um pênis”, como se a genitália fosse uma varinha mágica que transformasse a vida graças a experiência de gênero e determinasse até uma postura ativa ou passiva perante a sociedade…Além disso, no final, para “resolver” o conflito do filme, o pênis precisa desaparecer para a personagem poder ter um final feliz, ao se apaixonar por um homem hetero. Fico triste imaginando quantas mulheres trans lutam para serem aceitas e amadas, apesar de não serem operadas, e ao assistirem esse filme, iriam achar que são incompletas…E quantos homens trans iriam se sentir diminuídos por não terem um pênis, enquanto lutam diariamente para serem aceitos, mesmo sem ter passado pela cirurgia! A lição conservadora do filme é óbvia: Para ser um homem é preciso ter um pênis e para ser mulher é preciso ter vagina… Ainda bem que na realidade o que importa mesmo é outra coisa, que reside na mente de cada pessoa e no modo como cada um se enxerga, não através das lentes de um filme misógino ou pela narrativa já escrita por uma sociedade conservadora, mas refazendo o roteiro do filme que deseja escrever para a sua própria vida, com a identidade de gênero e a sexualidade com as quais realmente se identifica, e que aí sim, vão sempre resultar num “happy end”!!