Nota
“Depois eu descobri que o nome dele era ‘Birdy’ […] É o titulo de um filme. É sobre dois amigos.”
No dia 15 de julho de 1987 foi revogada oficialmente a Lei Marcial de Taiwan, e foi pouco depois disso que Chang Jia-Han e Wang Po-te (apelidado de Birdy) cruzaram seus olhares pela primeira vez. Numa Taiwan ainda caminhando em direção à liberdade de fala e imprensa, dois adolescentes acabam se aproximando e se apaixonando, o que os faz precisar enfrentar um país completamente homofóbico, numa sociedade cheia de familiar e uma intensa estigma social, encarando um mundo onde, para viver esse amor, eles precisam viver correndo grandes riscos.
Depois de ter sido lançado em 25 de setembro de 2020 e ter se tornado uma das maiores bilheterias do ano nos cinemas de Taiwan, o longa dirigido por Kuang-Hui Liu e produzido por Arthur Chu foi distribuído mundialmente pela Netflix em 23 de dezembro de 2020, rapidamente figurando as listas de muitos de seus assinantes. Conhecido como o filme LGBTQI+ com maior bilheteria da Ásia, o longa foi lançado cerca de uma ano depois de Taiwan ter marcado a história ao se tornar o primeiro lugar da Ásia a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, um momento ainda cheio de tabus e que inflamou ainda mais a expectativa sobre o longa, que se passa em 1987, uma época muito mais rígida, preconceituosa e inflamada para o país.
O longa começa logo de cara nos mostrando Edward Chen com duas facetas de seu Jia-Han. Temos o garoto endurecido conversando com o Padre Oliver (Fabio Grangeon), se abrindo sobre o amor que acabou descobrindo em seu colega de escola, ao mesmo tempo que somos levados de volta no tempo para conhecer uma versão mais perdida de Jia-Han, descobrindo o amor e aprendendo quem ele realmente é, começando a entender seus sentimentos e todos os tabus que precisa estar disposto a quebrar. O ator contracena em seus flashbacks com Tseng Ching-hua, que nos apresenta um destemido Birdy, pronto para suportar qualquer disciplina e enfrentar qualquer autoridade, um rapaz que está pronto para viver intensamente e quebrar todas as regras, mas entra em parafuso quando descobre sua sexualidade.
Deixando claro que bebeu bastante em Me Chame Pelo Seu Nome, o longa leva os espectadores direto para dentro de uma escola católica taiwanesa para ver um sentimento cheio de conflitos surgir, num lugar onde o amor é incentivado, mesmo que seja claro a obrigação da separação entre as meninas e os meninos, a dupla protagonista acaba encontrando algo muito mais perigoso e renovador, um amor que eles não esperavam e que, mesmo que pareça uma amizade de inicio, vai evoluindo com uma torrente que nem eles esperavam. Nesse ponto, o longa começa a brincar com o proibido, mostrando as várias coisas que são proibidas dentro desse ambiente e o quanto as proibições parecem incentivar os jovens de cada um dos ambientes a se rebelar, a quebrar as regras e a lutar para ter algo mais. Os encontros noturnos, as comidas contrabandeadas, os roubos de pôsteres, tudo ganha uma nova graça pelo olhar de Hui Liu e parecem nos preparar para o grande colapso da trama: o momento em que Jia-Han e Birdy são separados pela vida, o que nos leva a uma evolução maravilhosa na dupla e constrói o final magnifico que o longa pede.
Talvez o grande problema do enredo de Seu Nome Gravado em Mim seja a realidade por trás dele, o que faz com que o filme seja muito mais contido e subliminar do que todos esperavam. Inspirado no passado de seu diretor, o longa cria Jia-Han como uma adaptação da adolescência de Kuang-Hui Liu, que acabou buscando conselhos de um padre canadense, que realmente viveu um triangulo amoroso com a chegada de uma menina separando-o de seu amor, e que realmente aconteceu na época de revogação da Lei Marcial, quando ele tocava flauta em uma banda. Apesar de toda a realidade por trás da trama, foi a chegada de Arthur Chu, que conheceu a fundo a história de Liu, que aperfeiçoou o roteiro, adicionando elementos mais pontuais para enriquecer a trama, como a religiosidade e os conflitos de Jia-Han, elementos que se uniram para transformar a produção em uma espécie de clássico LGBTQI+, homenageando até um episódio marcante no passado de Liu por meio de seu encontro com Chi Chia-wei, um famoso ativista dos direitos civis gay de Taiwan.
Claro que não se pode esquecer da trilha do longa, um dos maiores destaques da produção, sendo marcante, certeiro e completamente contagiante ao nos fazer ficar envolvidos com a trama, algo que se torna essencial quando estamos falando de um filme que tem uma banda como elemento central. Mas o grande destaque da trilha é “Your Name Engraved Herein”, musica original criada para o longa por Tan Boon Wah e interpretada por Crowd Lu, que chegou até a ganhar o prêmio de Melhor Canção Original no Golden Horse Awards.
“Você pode gostar de meninas, e eu não posso gostar de meninos? Seu amor é maior do que o meu amor?”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.
Resposta de 1
Nossa a… Esse filme é muito bom.!!!!