Nota
Buster Moon é dono de um teatro renomado, mas que está falido e em uma situação crítica. Depois de tentar acolher diversos programas na TV, sem sucesso, ele decide fazer um show de talentos para conseguir audiência para salvar o teatro e pagar suas dívidas. Somos então apresentados a diversos animais com vozes e tipo de canto únicos, realidades diferentes e até estilos musicais diversos: como Rosita, uma porca doméstica que desistiu da carreira de cantora na adolescência para viver uma vida de dona de casa, aonde ela tem que cuidar de seus 25 leitões já que o marido está constantemente ocupado pelo trabalho; Ash, uma porco-espinho roqueira-punk que tem um namorado e parceiro de canto que a trai; Johnny, um gorila-das-montanhas que tem sérios problemas com o pai porque o seu grande sonho é ser cantor e seu pai quer que ele seja um criminoso e siga seus passos; Mike, um rato ambicioso que quer conquistar uma garota e viver uma vida boa com ela; Meena, uma elefanta que tem uma bela voz, mas seu medo de palco impede dela realizar seu sonho de ser cantora; e Ghunter, um porco muito otimista e talentoso que sempre busca o lado positivo das coisas.
Sing é uma comédia musical de animação da Illumination que mistura, de maneira muito divertida, o contexto dos reality shows e dos shows de talentos e canto. Com um roteiro que nos entrega realidades de pessoas reais, seja mães de família exploradas por trabalho doméstico, pessoas com problemas com os pais, término de namoro ou problemas financeiros, a trama foca principalmente nos sonhos. Sonho é o que move o filme, além da música e seus riscos. Cada personagem tem um forte apelo emocional ou afetivo no decorrer de suas narrativas, dando ao longa fortes referências de The X Factor e da trilogia A Escolha Perfeita em seu roteiro.
Ambientado na cidade ficcional de Calatonia, o longa aproveita influências de Miami, Florida e partes da California para preencher a tela com carros, figurinos, palmeiras, o sol quente com céu bem azulado, o ambiente noturno habitado por boates e o mundo dos gangsters e crime, imprimindo bem esse clássico dos Estados Unidos para emoldurar um mundo onde o rock, o pop, o R&B, Jazz entre outros estilos vivem em conjunto. A direção de Garth Jennings imprime uma humanidade e uma série de camadas a cada personagem, um charme parecido ao que ele entregou em O Guia do Mochileiro das Galáxias, algo que só se soma com o trabalho da dublagem americana, que traz vários nomes de cantores de diversos gêneros e atores experientes em musicais, como é o caso de John C. Reilly (Eddie), Scarlett Johansson (Ash), Nick Kroll (Gunter) e da voz impressionante de Tori Kelly (Meena), mas a dublagem brasileira não fica por baixo, com Johansson sendo substituida por Wanessa Camargo, Kelly por Sandy, Reilly por Alexandre Moreno e Kroll por Marcelo Serrado, além da presença de Mariana Ximenes (Rosita), Marcelo Garcia (Buster) e Fiuk (Johnny).
Sing tem um ritmo dinâmico, com reviravoltas interessantes e um tom de imprevisível, não dá para sentir em nenhum momento quem tem mais chances de se tornar o vencedor do concurso, e é isso que gera maior parte da expectativa de quem conquista o apego de cada um dos espectadores, nessa divisão interna de quem merece mais o prêmio ao mesmo tempo que vai se envolvendo com as narrativas individuais e problemas de cada personagem com relação a vida. O problema de Johnny com o pai é tocante, Rosita coloca o dedo na ferida com seu talento incrível em contrapartida com a vida de cuidar dos 25 filhos e do marido, Ash se libertando de um relacionamento abusivo e descobrindo o quanto seu namorado era quem diminuía o seu talento, todas são narrativas que vão se conectar com o publico geral, ou até, como o próprio Sr Moon fala, são histórias reais e carismaticas que vão prender a todos, a forma como todos lutam para encontrar seu ponto de virada e realizar seus sonhos, e essa é a grande qualidade das produções da Illumination desde Minions. A narrativa que conclui o filme, sobre não desistirmos dos nossos sonhos e que há sempre uma pessoa talentosa que deve simplesmente ser ela mesma e expor todos os seus talentos, pode ser um pouco redundante, mas diverte, entregando um enredo que consegue animar o dia de qualquer pessoa.
Lucas Vilanova
Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror