Crítica | Sing Sing

Nota
4.5

Inspirada em uma história real, Sing Sing narra a jornada de Divine G (Colman Domingo), um homem que foi preso injustamente no Centro Correcional de Sing Sing, uma das prisões de segurança máxima mais conhecidas do mundo. Lá, ele acaba encontrando um novo propósito de vida ao organizar um grupo de teatro com outros detentos. O filme segue uma linha mais livre de narrativa, dialogando diversas vezes com o experimental e não forçando algum tipo de reviravolta por “entretenimento”. O que torna Sing Sing uma obra interessante é o seu foco ser completamente destinado às histórias de vida dos prisioneiros e como suas existências dialogam diretamente com a ferramenta do “fazer artístico”.

Sing Sing é um dos indicados ao Oscar 2025, com Colman Domingo concorrendo à categoria de Melhor Ator na premiação, e já inicia com o espetáculo colorido, chamativo, cativante e, acima de tudo, extremamente expressivo. Enquanto subterfúgio para liberar tudo aquilo que está literalmente preso dentro daqueles homens, o teatro chega na hora certa. É muito instigante observar o engajamento de todos os detentos com essa expressão artística e as relações que se estabelecem entre eles. Um das mais importantes é o vínculo criado entre o Divine G e o Divine Eye (Clarence Maclin), que na vida real vivenciou tudo isso ao ter participado do programa “Rehabilitation Through the Arts”.

A conexão desenvolvida entre os dois homens é muito visceral e bonita de ver, principalmente entendendo essa mistura entre real e ficcional que permeia Sing Sing, o que coloca Colman Domingo em um patamar de excelência perante a sua sensível atuação. Ademais, a estrutura narrativa de Sing Sing segue uma linha experimental, ao desprender-se de moldes hollywoodianos. Assim, trilhando uma vertente mais livre e ao mesmo tempo bastante realista, o filme dialoga completamente com o gênero de documentário ficcional. Essa liberdade é crucial para a completude de Sing Sing, que acaba por enfatizar essa belíssima ponte entre a triste realidade da prisão e as inúmeras possibilidades da arte enquanto ferramenta de libertação. É através dela que diversos homens adentram em um local de sensibilidades que os permitem dialogarem entre si compartilhar vivências de forma espontânea, livre e confortável.

Sing Sing é uma obra que fala sobre esperança, criatividade e acima de tudo: liberdade. O filme enfatiza a importância das expressões artísticas enquanto ferramentas de pertencimento, comunidade, sensibilidade e liberdade. É através do teatro que os detentos conseguem colocar para fora tudo aquilo que guardam há anos: seus arrependimentos, revoltas e até mesmo injustiças. A ponte entre a prisão literal e a prisão mental/emocional, que é evidentemente retratada na obra, é crucial. O filme consegue estabelecer noções de sensibilidades e fraternidades masculinas de certa forma ousada, levando em conta que a sociedade em si ensina homens a reprimir seus sentimentos, e o fato da prisão ser um local marcado majoritariamente pela hostilidade e competição. Dessa maneira, sendo subversivo, artístico e coletivo: Sing Sing, para além de trazer reflexões sobre as injustiças e impactos do sistema carcerário em existências masculinas, principalmente de homens pretos, é um filme que dá a devida importância às ferramentas artísticas enquanto mecanismos essenciais para enfrentar e resistir a opressões.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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