Crítica | Soul

Nota
4.5

“Isso não é um propósito 22, é só a vida”

Joe Gardner (Jamie Foxx) vive pela música. Desde que foi apresentado a esse universo pelo seu falecido pai, o rapaz sonha em ser reconhecido por seu talento e alcançar o estrelato mas, como muitos músicos por aí, ele ainda não conseguiu alcançar seu sonho. Alcançando a meia-idade, ele tem que se contentar com o ensino musical no ensino médio até que a oportunidade de ouro aparece no seu caminho.

Devido a dica de um antigo aluno, Joe tem a chance de impressionar uma lenda da música Soul e ingressar em sua banda mas, quando o mundo parece sorrir para ele, acontece um trágico acidente que pode pôr um fim aos seus planos. Desesperado, Joe tenta escapar da pós-vida e acaba caindo em um curioso lugar denominado Pré-Vida, onde almas são preparadas para sua vivência na Terra.

Lá ele conhece 22 (Tina Fey), uma alma que não tem gosto nenhum pela vida e prefere viver infinitamente naquele ambiente de preparação. Determinando a voltar a seu corpo terrestre, Joe propõe uma troca: ele ajudará 22 a encontrar sua verdadeira motivação e ela lhe dará o seu passe para vida, para que possa, enfim, viver livre daquilo que mais detesta. Mas, como despertar o interesse terreno em alguém que não sente nenhuma vibração pela vida em si?

Durante anos, a Pixar vem brincando com conceitos imaginativos e despertando questionamentos palpáveis em seu público. Não é de hoje que o estúdio vem elaborando questões profundas e reflexivas, que utilizam a base formular já conhecida para abranger e expandir o inusitado senso de criatividade com uma sensibilidade impecável.

No meio desse processo, o estúdio construiu verdadeiras obras-primas, que partem sempre de um leve questionamento mas, dessa vez, eles decidiram ir ainda mais fundo em suas questões existenciais. Afinal, não é todo dia que algo nos faz repensar e indagar tudo que conhecemos. Mas, a grande questão do momento é: O que torna você… você?

Dirigido por Pete Docter, Soul nos conquista em seu nome, nos ligando a uma inebriante reflexão sobre o cerne de nosso ser, enquanto constrói uma metalinguística adoravelmente poderosa sobre nossa simples existência. Inicialmente, Soul exploraria o mundo das almas, trazendo uma logística similar ao início do estúdio. Mas, como conhecemos a Pixar, o longa transpassa essa primeira premissa e embarca na profundidade de viver de uma maneira magnifica e avassaladora.

O longa constrói uma narrativa intima e emocional que reposicionar todo o conceito de sua criação, nos apresentando um vasto universo que consegue se ressignificar a cada virada da história. Não é a toa que o filme troque o aspecto mundano por algo mais imaginativo e espiritual, que nos convida a reimaginar esse lado etéreo pelos olhos infantis. E é aqui que mora o maior acerto do filme, em traduzir um contesto tão amplo e existencial de uma maneira que agrade tanto crianças quanto adultos.

São pequenas coisas que nos apresentam ainda mais a profundidade do projeto. Seja pela calma esteira que nos leva a pós-vida  (nos indicando que não resta nada mais a ser feitos) ou pelo salto de fé para chegar a este lado (indicando que viver é um ato constante de bravura), todo pequeno toque acrescenta novas camadas.

A qualidade gráfica é impecável, trazendo tonalidades e aspectos elaborados que tornam seu visual ainda mais vivo e elaborado. A ambientação em Nova York é de cair o queixo, enquanto a pré-vida utiliza tons pasteis e arredondados para preparar seu próprio universo. Até mesmo o lado sombrio tem uma magnitude exemplar, trazendo todo o peso daquelas almas que, simplesmente, esqueceram de viver.

Como se não bastasse o deslumbre visual, o longa ainda nos presenteia com uma trilha sonora impecável que se integra com maestria a seu conteúdo. O trabalho sonoro é de uma construção invejável, nos colocando no cerne de seu protagonista e expondo seu DNA musical que, mesmo no improviso, nos embarca em seu dinamismo contagiante e avassalador.

Mas, a alma da história está na relação de seus personagens. Joe e 22 são de um brilhantismo inenarrável, construindo uma relação tão humanamente sensível que se torna impossível não se ligar a eles. Enquanto um se mostra irrevogável em buscar seu retorno a seu mundo, a outra é extremamente avessa e desinteressada no que aqui pode proporcionar. É na autodescoberta e exploração de quem somos que eles se modificam, completando bem um ao outro e mostrando o impacto que temos na vida que nos cerca.

Repleto de alma e coração, Soul traz uma experiência única para seu público. Enquanto molda seu caminho e foge daquilo que imaginamos, o longa nos mostra a beleza singular em estar vivo e dar um nosso significado a simples existência. Seja pela percepção ampla daquilo que já conhecemos ou por enxergar as pequenas coisas que pouco ligamos no cotidiano, a transformação é inevitável assim como a pequena (ou imensa) crise existência que ele nos proporciona.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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