Nota
Em meio aos conflitos devastadores no Oriente Médio, um grupo de jovens soldados estadunidenses que integram o pelotão Navy SEAL recebem a perigosa e delicada missão de interceptar possíveis ameaças. Seguindo a missão, os soldados invadem a casa de uma família local, os fazendo de reféns a fim de transformarem a casa em uma base secreta para conduzir suas operações. A monotonia do trabalho de vigilância, combinada com a necessidade de um nível extremo de atenção, cria um ambiente onde qualquer falha ou descuido pode ter consequências que podem afetar a vida de cada um deles. E justamente por um momento de distração, se abre espaço para um contra-ataque iminente dos inimigos. Agora, os jovens soldados se veem em uma situação de vida ou morte, enfrentando não apenas o perigo externo, mas também as consequências de suas próprias vulnerabilidades. Dirigido por Alex Garland com o apoio de Ray Mendoza, Tempo de Guerra reúne um ótimo elenco para entregar o mais novo filme de guerra da jovem produtora A24.
Após o sucesso de Guerra Civil (2024), o diretor Alex Garland se juntou numa parceria com o veterano de guerra Ray Mendoza para recontar a história dos seus companheiros de exército, de como foram seus dias no Iraque em 2006. Seu amigo, que ficou paraplégico após a guerra, já nem lembra mais o que aconteceu com todos eles, e portanto alguns atores do filme descrevem a obra como “Uma carta de amor do Ray para seus companheiros”. Garland reuniu diversos nomes em ascensão para o elenco de Warfare como Joseph Quinn, Kit Connor, Charles Melton e Cosmo Jarvis, que embarcam bem na proposta de serem jovens recém chegados no exército e que estão construindo esses laços de irmandade, mostrando que as semanas de treinamento e convivência entre o elenco serviu como uma ótima forma de fazer os atores transportarem tudo isso para as telonas. Mas, talvez por ser britânico, o diretor Alex Garland deu preferência para atores britânicos para compor seu elenco principal, o que resultou em alguns momentos com os sotaques entrando em conflito, em especial para Kit Connor, que não convence como jovem americano, mesmo com seus esforços para trazer esse sotaque a tona.
Um dos pontos altíssimos do filme, como já era esperado, é o trabalho com o som, que foi meticulosamente pensado para representar a passagem de tempo, as pausas em silêncio que são muito bem colocadas para representar o tédio dos personagens, e principalmente nos conflitos e batalhas, em especial nas representações de bombas e dos efeitos das bombas no corpo, com o efeito de “ouvido tapado” que é muito bem feito e utilizado. Mas isso de fato já era esperado, visto que a equipe de som é majoritariamente composta pela mesma equipe que trouxe a vida um dos projetos mais audaciosos do diretor, Ex-Machina (2015), que inclusive possui trabalhos mais complexos com relação a som que envolviam as engrenagens da personagem, que era um robô. A equipe que também se reuniu para dar vida a Guerra Civil, onde teve a dura tarefa de recriar o ambiente hostil de guerra, mas dessa vez faz de uma forma muito mais brutal, partindo para uma nova premissa muito mais hiper realista.
Apesar de tratar de uma história real, o roteiro de Warfare é de longe uma das melhores coisas do filme. Pensado para trazer uma narrativa inovadora, onde mostra em tempo real os conflitos do filme, assim como um reflexo do tédio dos soldados e que leva muito fácil a desatenção indevida, o filme acaba se mostrando preguiçoso por não trazer um dinamismo que de fato engaje a audiência com a trama. Os silêncios da primeira parte do filme são bem vindos e muito bem colocados, mas ao mesmo tempo prolongam demais cenas que talvez pudessem ser mais curtas, até porque a história num geral não se estende tanto para ser contada em um longa metragem, ainda que o filme quebre o padrão de filmes de guerra com mais de 2 horas, contando com apenas 1 hora e meia que ainda conseguiu ser muito mal trabalhada e cansativa. O longa também não se propõe a desenvolver nenhum dos seus personagens, o que não necessariamente é algo ruim, já que o diretor propõe exatamente esse take realista, quase como se o filme fosse na verdade um documentário, mas ainda construído como se fosse uma ficção, e talvez esse seja o maior problema do diretor de tentar criar uma obra documental mas não ir o suficiente nesse take documental, talvez retratar a história desses homens reais como se houvesse um jornalista de guerra no meio da equipe deixasse os takes e o roteiro em si muito mais palatável para audiência.
Embora Tempo de Guerra tente inovar com uma proposta realista, no fim acaba sendo mais um filme de guerra esquecível. Apesar do esforço da equipe composta pelo diretor Alex Garland e o veterano de guerra Ray Mendoza em oferecer uma narrativa realista e inovadora, o filme carece de um dinamismo que sustente o engajamento da audiência ao longo de seus 96 minutos, além de não trazer nenhum desenvolvimento para seus personagens, mesmo que condiga com a proposta quase documental que o longa se propõe a fazer, mas que acaba com um efeito colateral prejudicando a conexão emocional do público com os personagens, transformando-os em soldados vazios, que é de longe a intenção do co-diretor Ray Mendoza. Apesar disso, o filme se destaca com um trabalho meticuloso de som, elevando as cenas mais tensas do filme e que de fato traz a imersão desejada pela equipe ao desenvolver a história contada. Warfare não é um filme que irá agradar a todos, quem não gosta de filmes de guerra continuará desgostando, e mesmo quem ama o gênero pode ter opiniões divididas para com essa obra no mínimo ambiciosa.