Crítica | Tô de Graça – O Filme

Nota
3.5

Tô de Graça – O Filme é aquele filme de comédia feito para o público no geral, a produção pega alguns dos personagens da série de TV de mesmo nome e faz um filme independente, com um roteiro próprio, entregando aquela comedia pastelão cheia de esteriótipos e exageros. Dona Graça (Rodrigo Sant’anna) é uma mãe preta periférica de catorze filhos, quando ela ganha uma indenização de uma ex-patroa, decide ir a búzios atrás de Sara Jane, sua filha que está namorando um ricaço, com seis de seus filhos: Briti Sprite, que está se formando; Maicon Marrone, gay e dentro da moda; Miqui JegueRomarinho, que só vivem fazendo bagunça juntos; Marraia Karen, a lésbica namoradeira; a caçula da Shubakira, que não desgruda do seu fone de música escutando uma música viciante do momento; e sua nora, Sonaira (Gracyanne Barbosa).

Rodrigo Sant’anna é famoso por seus personagens estereotipados de mulheres e homens das comunidades e favelas, Dona Maria da Graça Xuxa Meneghel dos Santos é um de seus personagens mais famosos, uma mulher de meia idade, fora de forma, com uma atadura em uma das pernas, que tem seu sexy appeal da sua forma, bem desbocada e que não deixa ninguém mexer com seus filhos, a não ser ela, e que varia de muito amorosa a uma grosseria com cada um deles. Isso pode ser visto já no começo do filme, quando vemos ela brincando com a aparência de Briti durante sua busca pelo vestido para sua formatura, mas também se estranhando com a vendedora, a pondo no lugar dela, quando trata do estigma de lojistas que não tratam bem as pessoas de periferia.

O longa brinca com todo estigma da pobreza o tempo todo, com muitas piadas visuais ou de situações específicas, sempre de maneira bem leve, ao mesmo tempo que sempre mostra o quão a família é unida, se ama, e é feliz com toda dificuldade, o que é a alma de grande parte dos brasileiros, estatísticamente falando. Dona Graça não perde a oportunidade de flertar com crushes antigos, com mototáxi, com clientes do hotel, gerando sempre um bate volta com Briti, que é a mais próxima das filhas e não concorda com as ações da mãe. Ainda temos piadas com o nome de Shubakira, a filha caçula, o que arranca boas risadas. Porém, na busca por se adequar melhor aos moldes de um filme família, certos aspectos da personalidades ou certas piadas comuns à série são cortados, o que faz o filme perder alguns pontos no tempero da boa comédia brasileira. Talvez essa escolha também tenha como objetivo conquistar um novo público, ao invés de ficar preso apenas ao segmentado público do Multishow que já acompanha a sitcon.

Mas, uma particularidade que o diretor César Rodrigues quis trabalhar nesse filme foi o senso de família, nos sensibilizar mostrando que, mesmo com as dificuldades financeiras, as famílias brasileiras são felizes com pouco e sempre buscam a educação de seus filhos. O filme escolhe uma paleta de cores interessante para os personagens principais, tudo bem quente e saturado para destoar do resto dos integrantes do filme, principalmente no resort, onde tons de azul e acinzentado são muito usados, deixando ele totalmente tropical, dando ao visual o poder de contrastar no ambiente, diferenciando as realidades financeiras. Quem faz falta no filme é o Gui Santana, interprete original do Miqui Jegue, que é substituído, sem nenhuma explicação, pelo ator João Fernandes, que interpreta o personagem com um papel menor e faz dupla com Faiska Alves, que interpreta Romarinho, um novo personagem. Talvez fosse mais positivo para a trama criar um novo personagem para João Fernandes, assim como criaram Romarinho.

Briti e o Maicon entregam muito mais humor na serie do que no filme, principalmente pois foi escolhido focar o protagonismo em Rodrigo Sant’anna, o que talvez funcionasse melhor se o longa permitisse mais momentos comicos para esses filhos. Briti fica resumida pauta de manter a família unida enquanto tenta chegar a tempo da formatura e Maicon fica sem muitos momentos de flertes, apesar de Briti ainda levar a melhor na cena do afogamento. O filme vem em um momento até interessante, quando está acontecendo uma discussão política envolvendo as privatizações de praias, e a abordagem de um longa de humor usando praias e o brasileiro real como plano de fundo parece combinar perfeitamente. Tô de Graça – O Filme nos entrega uma comédia pastelão, que gera boas risadas, mas acaba ficando cansativo em certo ponto. Chega um ponto que fica aparente que a produção poderia ser mais curta ou seria melhor se tivesse momentos que prendessem mais na trama e puxassem mais para a comédia, mas também fica claro que foi um balanço entre manter público e conquistar um novo público, mas há momentos que esse o pêndulo pesou demais e perdeu muito da naturalidade.

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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