Crítica | Toc Toc Toc: Ecos do Além (Cobweb)

Nota
3

“Você tem uma grande, grande e bela imaginação. E todas aquelas coisas assustadoras? Elas estão apenas na sua cabeça.”

Peter é um menino de oito anos que vive com seus pais autoritarios e emocionalmente distantes, Carol e Mark. Ele sofre bullying na escola por ser um pouco quieto demais e não tem amigos e nem vida social, até conhecer a Srta. Devine, sua professora substituta que começa a dar um pouco de atenção ao garoto que fica isolado na sala durante o recreio e o incentiva a gostar do Halloween e desejar fazer fazer doces ou travessuras na noite da data comemorativa, algo que é proibido por seus pais devido ao desaparecimento de uma jovem há vários anos na noite de Halloween. Mas a vida de Peter começa a tomar outro rumo depois que, ao cair da noite, o garoto acorda com um som de batidas vindo de dentro das paredes do quarto acompanhado de uma voz que chama seu nome, uma entidade misteriosa que se apresenta posteriormente como Sarah, que só aparece para ele, afirma que os pais do garoto são maus e que a prenderam na parede.

Em meados de 2018, Chris Thomas Devlin escreveu um roteiro para um filme de terror que acabou sendo incluido na Black List (lista dos melhores roteiros não produzidos daquele ano) e na Blood List (lista dos melhores roteiros de terrror não lançados daquele ano) de 2018, mas esse roteiro ficou por anos engavetado até que, depois que o roteirista ficou em evidencia pelo seu trabalho no roteiro de O Retorno de Leatherface, acabou sendo comprado pela Lionsgate. Com direção de Samuel Bodin, estreando na direção de longa-metragens, e produção de Evan Goldberg, Seth Rogen, James Weaver, Josh Fagen, Roy Lee e Andrew Childs, o longa de 88 minutos possui uma trama complexa, bem construida e, apesar de trazer traços que lembram o estilo de King William Friedkin, consegue manter uma atmosfera de suspense e tensão muito bem planejados, sendo bem executado em seu desenvolvimento quase todo. Com uma sensação de pressa, o longa não desenvolve bem a tensão existente na casa, não fortalece a relação de Peter e Sarah o suficiente e trabalha pouco toda a questão dos segredos que Carol e Mark carregam, mesmo que o longa saiba amarrar todas as pontas, ele faz isso de uma forma agil demais para um suspense e parece ter medo de trabalhar a adrenalina imposta no medo do garotinho de não saber em quem confiar.

Woody Norman até consegue interpretar um bom Peter, com uma personalidade complexa e capaz de sustentar todo o misterio sobre a existencia de Sarah, infelizmente o roteiro não da tempo para o ator se envolver com o papel e ter uma entrega mais plena, o que deixa a atuação do garoto um tanto quanto travada. Se compararmos sua desenvoltura como Peter em Cobweb e como Toby em A Última Viagem do Demeter com certeza vemos que o ator se saiu muito melhor no filme de Drácula. Falta demais a existência de um maior tempo de tela para Aleksandra DragovaCleopatra Coleman, enquanto a Sarah de Dragova parece ter uma grande importancia para o filme e não é explorada (talvez ela nem precisasse ser explorada se a trama tivesse escolhas diferentes quanto ao seu desfecho), a Srta. Devine de Coleman se torna um ponto vital para o desfecho de Peter e mal aparece em tela, como se ela só cumprisse, da foma mais limitada possivel, seu papel dentro do filme e depois fosse escanteada. Quem também acaba sendo extremamente mal aproveitados no filme são os personagens de Lizzy CaplanAntony Starr, Carol tem uma premissa interessante, uma mãe superprotetora e que parece ter medo do segredo que esconde, enquanto Mark parece o tempo todo exalar um ar de vilão e de criminoso, mas a construção dos pais toma rumos confusos, chegando a um ponto satisfatorio até certo ponto, mas que perde o sentido quando o filme segue se desenrolando, criando uma pseudo redenção desnecessaria e criando um antagonista solido e interessante que não se encaixa no roteiro construido até então.

Inicialmente interessante e cheio de tensão, Toc Toc Toc: Ecos do Além surpreende ao criar uma trama bizarra que distorce as expectativas e prende o espectador à trama. Com uma premissa cativante, o longa vai nos enredando em seus misterios e despertando a curiosidade essencial para criar aquela tensão agradavel que antecede as revelações, mostrando a capacidade e a sagacidade que Samuel Bodin possui e deixando no ar um potencial que o cineasta poderia explorar bastante no futuro. Talvez o maior problema do filme seja a imperfeição do seu roteiro, que mostra o amadorismo que Devlin possuia no inicio de sua carreira de forma muito mais forte em seu ato final, quando o filme acaba de atingir seu apice e entra numa sequencia narrativa que destroi completamente toda a história do longa e decepciona efetivamente qualquer um. A impressão que fica é que temos dois filmes costurados de forma mal feita, o primeiro é um suspense caprichado, com cenas inteligentes e uma tensão crescente, já o segundo é um amontoado de cenas corridas, com CGI pobre, mal escritas e de pessimo gosto, que poderiam facilmente ser descartadas ou substituidas por um final mais eficaz e que fizesse jus ao trabalho espetacular que o roteirista entregou inicialmente.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *