Crítica | Trem-Bala (Bullet Train)

Nota
4.5

“Meu azar é épico. Até quando nem tento matar, alguém morre.”

Joaninha é um experiente assassino que sofre com o azar que circunda suas missões, ele odeia o fato de toda missão acabar com mortes (na maioria das vezes não cometidas por ele) e resolve mudar um pouco os ares, pegando missões mais simples, como a de entrar em um trem balarem bala filme e roubar uma maleta. Limão e Tangerina são um dupla de mercenários britânicos renomados, conhecidos como Os Gêmeos (apesar de ser claro que eles não são irmãos de sangue), eles recebem a missão de resgatar o filho sequestrado de Morte Branca, um poderoso mafioso japonês, e devolve-lo a seu pai junto com a maleta do resgate. Vespa é uma ardilosa assassina americana, expert em matar usando venenos, ela recebe a missão de entrar num trem bala, matar um homem e pegar sua maleta. Princesa poderia ser apenas uma estudante comum, mas na verdade ela é uma psicopata sádica que entrou num trem bala determinada a usar o filho de Morte Branca como coringa em sua vingança. Yuichi Kimura é um ex-assassino de aluguel japonês, mas sua vida muda quando uma adolescente psicopata ataca seu filho, deixando-o em coma, o que o faz segui-la até um trem bala em busca de vingança. Um único trem bala, uma única maleta e cinco assassinos acabam reunidos e prontos para brigar com unhas, dentes e balas para sair bem sucedidos dessa empreitada.

Livremente inspirado no famoso livro de Kotaro Isaka, o filme dirigido por David Leitch parece ser um puro extrato de sua carreira diluído na forma de um longa-metragem extremamente comercial. O roteiro escrito por Zak Olkewicz traz em sua essência elementos que podem lembrar uma mistura das franquias Deadpool e John Wick (ambas compostas de filmes dirigidos por Leitch) e até que parece aspirar um toque de Tarantino, o filme é uma comédia de ação surpreendente, repleto de reviravoltas, surpresas, coreografias divertidas e piadas bem executadas. Desde seu anuncio, o longa pode até ter despertado um receio nos mais atentos, afinal um filme que recruta tantos astros de Hollywood raramente termina com um resultado positivo, normalmente acabamos presenciando um roteiro injusto para a carreira de seu elenco ou onde as cenas parecem um embate de quem brilha mais, mas Trem-Bala foge completamente desse padrão, é inegável que ele entrega um roteiro bem planejado, um elenco com destaque pontual e uma direção genial.

Brad Pitt brilha absolutamente no papel de Joaninha, ele constrói um personagem divertido que nos guia habilmente pelos elementos apresentados no enredo, e os insanos elementos que compõe o trem. Joey King interpreta Princesa, que no livro é um garoto de codinome Príncipe, e nos pega de surpresa com o seu trabalho, a atriz entrega facilmente a aparência inocente e vulnerável que uma adolescente colegial deve ter, mas logo vemos tudo se transformar quando Princesa assume sua verdadeira face, ela muda as expressões, a postura e até a forma de falar quando se transforma na psicopata que realmente é, quando começa a agir em prol do seu objetivo. A dinâmica de Aaron Taylor-Johnson (Tangerina) e Brian Tyree Henry (Limão) é perfeita, a voracidade de Tangerina parece ter um claro contraste com a frieza de Limão, e as alusões de Limão com Thomas e Seus Amigos caem como uma luva nas piadas do roteiro, divertindo aos que conhecem a animação a fundo e até aos que não conhecem. Zazie Beetz como Vespa é precisa, ela reflete bem a meticulosidade que sua personagem necessita e, mesmo com poucas falas, marca sua presença no filme. O Kimura de Andrew Koji, que era um dos maiores destaques do livro, acaba perdendo espaço em meio ao enredo, mas nada que diminua seu personagem ou tire sua importância. O longa ainda conta por participações extremamente especiais, e bem executadas, de Bad BunnySandra BullockKaren FukuharaLogan Lerman, e algumas outras estrelas que, apesar de terem pouco tempo de tela, conseguem contribuir para o roteiro sem ofuscar ninguém.

Trazendo mais do que promete, Trem-Bala surpreende com o excesso de ação e piadas que o compõe, enchendo a tela com uma série de sequencias de luta corporal, uso de armas, explosões e assassinatos, tudo isso muito bem temperado com as inúmeras reviravoltas que parecem ser obra de um destino bem zombeteiro, algo que nos guia até a grande reflexão: será tudo apenas coincidência ou houve um arquiteto por trás de todos os eventos que embarcaram nesse trem? O longa conta com um elenco que parece a vontade com seus personagens, fazendo do humor o ponto alto da produção, mas infelizmente nem tudo é elogios. Enquanto escala o tom de comédia, o frenetismo, a fotografia e a atuação, o longa acaba perdendo a mão no quesito ação, que começa a ficar arrastado, limitados e até cansativo, o que desequilibra o longa como se o diretor e o roteirista começassem a ter medo de alongar as lutas e começasse a preencher os buracos com mais piadas, repetindo até ela perder a graça, como é o caso da repetição de flashbacks para dar novos detalhes que expliquem o que está prestes a ser contado.

“Tudo que já te aconteceu te trouxe até aqui. Destino.”

 

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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