Crítica | Túmulo dos Vagalumes (Hotaru no Haka)

Nota
5

“21 de Setembro, 1945…
Essa foi a noite em que morri.”

Em 1945, poucos meses antes do final da Segunda Guerra Mundial, o Império Japonês se recusava a aceitar a derrota, dando continuidade à Guerra do Pacífico e aos constantes bombardeios as suas cidades. Em uma delas, Seita (Tsutomu Tasumi), um adolescente da cidade de Kobe, vê sua casa ser destruída pelo ataque americano, arrancando sua esperança e a vida de sua mãe no processo.

Junto com sua irmã mais nova, Setsuko (Ayano Shiraishi), o rapaz vai viver com sua tia, que os trata como estorvos e constantemente humilha os sobrinhos, apesar de usar os suprimentos guardados pela família antes do desastre. Conforme os suprimentos diminuem e o consumo na casa aumenta, o ressentimento da senhora torna impossível sua convivência com as crianças. Determinado a por um fim nisso, Seita e Setsuko partem da casa da tia, encontrando um lar em um abrigo antiaéreo a beira de um lago repleto de vagalumes.

Lutando contra a fome e as doenças, os irmãos tentam sobreviver em meio ao caos que sua vida se tornou. Encontrando consolo nas pequenas coisas e esperando um futuro melhor, embora até isso pareça fraco, como o brilho de um vagalume na escuridão.

Em 1988, o Studio Ghibli decidiu criar uma empreitada e produzir dois longas metragem animados, os exibindo em sessões duplas que encantaram e devastaram seus fãs, além de trazer um marco cinematográfico para o cinema japonês. Sendo um contraste extremo um do outro, os longas traziam uma sensação avassaladora se mostrando sensíveis e tocantes de maneiras peculiares e consolidando ainda mais o sucesso do estúdio em contar historias tão distintas.

O primeiro deles, baseado em um livro de experiência real escrito por Akiyuki Nosaka, é um contraposição à filmografia do estúdio e, embora aborde um tema recorrente nos filmes Ghibli, nos da um tiro seco que retira nosso ar logo em seus primeiros minutos.

Dirigido por Isao Takahata, Túmulo dos Vagalumes é considerado até hoje um dos melhores longas sobre guerra que já foram feitos. Brutal e extremamente sensível, o filme nos revela seu final logo no início, nos indicando que nada bondoso pode ser esperado e nos convidando a embarcar na montanha russa emocional que ele pretende nos mostrar.

A animação não esta preocupada em nos dar falsas esperanças, mas construir uma trama sensível e tocante, nos impactando com a crueldade do seu texto e seu impacto visual. Pessoas mutiladas, corpos jogados ao relento e repletos de moscas entram em cena ao mesmo tempo que belas visões do mar nos são mostradas. Um campo cheio de vagalumes pode conviver com a fome e a doença, nos distraindo por certo tempo enquanto nos cutuca intensamente sobre o perigo que se encontra na esquina.

A narrativa escolhe viver sua trama através de olhos inocentes, que tentam o seu melhor para continuar firmes. As brincadeiras entre os irmãos são verdadeiras válvulas de escape de toda a crueldade que os cerca, nos fazendo ter momentos de verdadeira alegria em meio a toda dor, enquanto nos aproxima ainda mais dos personagens. A sua união é tão visceral e profunda que nos vemos encantados com o forte laço que os une, torcemos por eles e sofremos com eles, mesmo tendo em mente tudo o que nos é reservado pelo início e final da trama.

As marcas da guerra são mostradas através das reações das pessoas a ela, seu tratamento com o que acontece no exterior e sua crueldade velada. Acompanhamos um tratamento mais gentil quando ainda tem algo a se proteger, logo mudando para um sentimento mais grotesco de acusações e injustiças veladas que levantam nossa fúria.

A trilha sonora ajuda a construir com maestria o que cada cena quer nos mostrar. Melancólica e, às vezes, silenciosa, a musica sabe nos envolver e recuar, trazendo momentos contemplativos que nos arrancam lágrimas quando menos esperamos. As inúmeras metáforas são pesadas e bem colocadas, nos deixando em silencio em meio à mensagem que procura nos passar.

Delicado e profundo, Túmulo dos Vagalumes traz uma trama sensível, que nos acompanha por muito tempo e que nem mesmo os créditos apagam o peso do que nos foi mostrado. Não é a toa que a obra é venerada até hoje, trazendo aspectos atemporais que nos permitem encarar a guerra de um sentido pessoal, pelos olhos inocentes de crianças que ainda tem muito a descobri. E, embora vivam em meio aos horrores, conseguem achar beleza no brilho de um vagalume, concentrando suas esperanças nisso, mesmo que esse brilho eventualmente deixe de brilhar, abandonando toda a magia por uma tristeza latente e solitária.

“Por que os vagalumes tem que morrer tão rápido?”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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