Crítica | Turma da Mônica: Lições

Nota
4.5

“Eu e o papai, a gente decidiu mudar você de escola.”

Depois de um domingo inteiro de ensaios para uma possivel peça de Romeu e Julieta a ser apresentada no Festival do Limoeiro, o quarteto formado por MônicaCebolinhaMagaliCascão percebe que não fez a lição de casa, o que faz Cebolinha decidir iniciar um novo plano infalível: fugir da escola para não ter que ficar de castigo ao não ter levado a atividade. Ao fim de uma fuga quase perfeita, um acidente ao pular o muro faz com que Mônica quebre o braço e o quarteto seja descoberto, o que faz os pais das crianças serem chamados na escola e decidirem separar as crianças, uma situação que culmina na decisão dos pais de Mônica de transferia-la para outra escola e no rompimento da amizade que existe entre LuizaDona Cebola.

Depois do sucesso que foi o lançamento da adaptação de Laços, em 2019, não é de se espantar que os produtores do longa decidisse seguir em frente e adaptar sua sequencia, Lições, assim como já era sabido que, depois da liberdade de adaptação de Laços, deveríamos estar prontos para encontrar no filme de 2021 uma superficialidade no quesito fidelidade à graphic novel. Atrasado principalmente por conta da pandemia, o longa, que deveria chegar aos cinemas em outubro de 2020, acabou ficando para o dia 30 de dezembro de 2021, o que deu tempo suficiente para os maiores fãs da turminha pirarem com as novidades e serem arrebatados pela divertida divulgação, que só criou ainda mais expectativa em volta do longa dirigido por Daniel Rezende.

Dotado de uma liberdade criativa que permitiu ao roteiro mudar fatos da história, alguns até relevantes para a trama original, o longa acabou dando uma boa caprichada na dose dramática, o que serviu para amadurecer a trama e fugir do teor infantil que tanto foi criticado no primeiro filme. E mesmo que várias cenas icônicas da HQ, e até a capa, tenham sido vistas em tela, ainda fica aquele gostinho de incompletude, principalmente quando vemos o roteiro se afunilando cada vez mais para focar na relação de Mônica e Cebolinha e deixar os dilemas de Magali e Cascão completamente em segundo plano, algo que, junto com outro elementos, pode desanimar bastante aqueles que leram às HQs e estão esperando ver momentos icônicos como a chegada de Xaveco na escola nova ou o mergulho de Cebolinha na piscina.

No quesito atuação, é fácil notar uma evolução no quarteto protagonista, que agora precisa encarar uma trama onde amadurecimento e aprendizado é o grande foco. Gabriel Moreira vive um momento tenso na vida de Cascão, o momento que seus pais decidem que ele precisa perder o medo de água e o inscrevem na natação, uma trama que cria uma tensão palpável e acaba se tornando o palco para as divertidas situações protagonizadas por Do Contra, que arranca risadas enquanto vemos uma encarnação bem teimosa que parece extremamente fiel ao personagem, outro ponto de destaque se dá pela caracterização do Cascão, que finalmente ganha o sujinho nas bochechas que tanto fez falta no longa anterior. A trama que Laura Rauseo vive por Magali acaba sendo essencial, porém se perde, temos uma construção mais pé no chão para a personagem, que percebe que parte de sua fome é causa pela ansiedade que a garota possui, o que a faz chegar ao ponto de pedir ajuda para se controlar, tudo enquanto aprende muitas lições na aula de culinária de Tia Nena, mas a história não tem foco e nem desenvolvimento, algo que se torna ainda mais insosso quando vemos a entrada de Milena em sua trama sem nenhuma motivação clara, sem nem dar um verdadeiro valor para a menina.

Os protagonistas do longa são o Cebolinha de Kevin Vechiatto e a Mônica de Giulia Benite, que parecem cada vez mais perto de se tornar um casal. De um lado da história temos Mônica sendo transferida para a escola estadual EDP (que os fãs mais assíduos podem reconhecer como a Escola das Pitangueiras), onde ela precisa lidar com a rejeição de não ter amigos, a saudade da sua turma, e todos os problemas em volta de ela carregar um coelhinho de pelúcia, é a sua trama quem guia a maior parte da produção, nos levando a conhecer Pedro, o valentão do colégio novo; Dudu, o inocente e divertido priminho de Magali; Marina, que não tem muito a evoluir na história de Mônica mas ganha motivações no desenrolar da trama; Profª. Vânia, numa participação completamente descartável para o currículo de Malu MaderTina, que tem um brilho especial na atuação de Isabelle Drummond e parece ser a principal peça para a evolução da trama de Mônica; e as participações de RoloPipaZecão. Já nas mãos de Vechiatto fica a trama de Cebolinha, que acredita ter finalmente se tornado o ‘dono da lua’ até perceber que Mônica era apenas uma entre os desafios que ele poderia enfrentar, principalmente depois que Tonhão passa a persegui-lo e ele começa a sofrer os efeitos da ausência de Mônica. Em paralelo Cebolinha começa seu tratamento com a fonoaudióloga, lugar onde ele conhece Humberto, um grande conselheiro que só sabe falar ‘hum’, e vive todo o dilema da sua busca por poder falar Romeu ao invés de ‘Lomeu’.

Surpreendendo com um final completamente original mas ainda assim aceitável, Turma da Mônica: Lições nos surpreende ao entregar muito da emoção que esperávamos, apesar de deixar brechas que poderiam ter tornado o filme melhor. Repleto de referencias, o filme segue o padrão de seu antecessor e enche a tela de elementos visuais que nos remete a momentos históricos das HQs, como a própria peça e a aparição de um patch da irmã de Chico Bento, a presença de vários personagens pipocando em tela, como é o caso de Nimbus, Franjinha e Bidu, e se completa com as diversas participações especiais, como Mauricio de Sousa, Mônica SousaGato Galáctico e Felipe Castanhari. Finalizando em grande estilo a obra, o longa ainda conta com uma cena extra no meio dos créditos, que parece ser uma indicação bem direta para o futuro que podemos esperar da Mauricio de Sousa Produções nas telonas.

“Pode me chamar de meu amor, por que eu te amo Julieta”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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