Crítica | Um Drink no Inferno (From Dusk till Dawn)

Nota
4

“Já soube o que aconteceu em Abilene, o roubo do banco?”

Os irmãos Seth e Richie Gecko roubaram um banco e passaram a ser perseguidos pelo F.B.I. e pelos Patrulheiros do Texas, iniciando uma fuga que se transforma numa grande aventura, enquanto tentam chegar ao México, onde vão encontrar um contato e fazer uma negociata. Durante o percurso, depois de destruir uma loja de bebidas e matar uma caixa do banco que haviam feito de refém, a dupla acaba cruzando o caminho com os Fuller, uma família formada por Jacob, um pastor que abandonou a religião após a morte de sua esposa, e seus filhos, Scott e Kate, que estão viajando o Texas em um trailer e acabam sendo feitos de refém para que os irmãos consigam uma carona até seu destino, mais especificamente ao Titty Twister, um clube de strip que acaba se revelando ser bem mais do que parece.

Baseado numa história de Robert KurtzmanUm Drink no Inferno é o primeiro roteiro pelo qual Quentin Tarantino foi pago para escrever, e acabou se tornando uma obra prima do terror trash, ao ponto de se alcançar o patamar de cult. O filme de 1996 começa parecendo ser uma clássica história de aventura, onde vemos dois irmãos enfrentando diversos problemas para fugir da policia, e cometendo alguns crimes pelo caminho, mas eis que chegamos ao Titty Twister e, perdão pelo trocadilho, acabamos vendo um verdadeiro plot twist acontecer quando a verdade obscura sobre o clube é revelado. A noite ele é um clube de strip famoso, que rende muito dinheiro, mas quando a madrugada acaba os habitantes dali colocam suas garras de fora, ou melhor, suas presas. Quão grande é a surpresa quando o filme de aventura se torna uma insana luta pela vida em um terror B, quando é revelado que todos os funcionários do clube são vampiros que estão prontos para beber o sangue de quem quiser passar mais do que uma noite ali, e que essa revelação acontece justamente quando Seth, Richie, Jacob, Scott e Kate estão lá dentro. Agora cabe ao grupo, junto com o motociclista Sex Machine e o veterano de guerra Frost, lutarem por suas vidas e encararem a perigosa stripper Satânico Pandemonium.

É interessante a forma como o elenco, mesmo estando juntos o tempo todo, tem uma contribuição individual à trama e uma transformação própria. George Clooney é o protagonista imbatível, ele é o cérebro da dupla e está sempre pronto para defender o seu irmão, mas a experiência do bar muda completamente sua perspectiva, ele passa a lutar pela sua vida e não pela liberdade e poder, o que o faz ter que despertar seu pior lado. Ao lado dele temos Quentin Tarantino como o bruto psicopata, ele é o irmão estuprador e, aos poucos, vamos percebendo que ele sofre de alucinações que o faz cometer crimes, e que seu irmão usa para subjuga-lo. Tarantino é como um irmão caçula, sempre obedecendo Clooney e sendo protegido, mas quando o amor e o perigo se unem em um, tudo muda de figura. Harvey Keitel vive Jacob, o pai em crise de fé, ele acaba caindo nas mãos dos irmãos e é usado como proteção, mas ele enxerga algo além de perigo neles, o que o faz se tornar quase um cumplice e ser levado para dentro do inferninho, o que ele não esperava era que teria que resolver sua crise de fé enfrentando o verdadeiro inferno na terra. Claro que não falta evolução para Ernest Liu (Scott) e Juliette Lewis (Kate), mas eles passam por uma evolução mais rápida e discreta, os irmãos começam a desabrochar dentro do Titty Twister, cedendo aos pecados da vida e aprendendo que é chegada a hora de crescerem mentalmente e encarar o verdadeiro mal. Mas a verdadeira estrela do longa é Salma Hayek, a líder das vampiras strippers. Salma conseguiu, através do filme, uma fama internacional e acabou sendo consagrada como um dos símbolos sexuais da década de 90, tudo graças à estupenda apresentação de dança erótica que a atriz tem no filme, onde vemos toda a sensualidade de Satânico misturada à uma fome misteriosa e um fogo vivido nos olhos, algo que chega ao seu ápice quando a mão de Richie começa a sangrar e ela finalmente assume sua forma vampiresca.

Como era de se esperar de um bom filme de Tarantino, o filme é um primor roteiristico até quando assume seu conteúdo trash. A direção de Robert Rodriguez é um dos pontos fortes da produção, ao lado da excelente dinâmica que surge entre Clooney e Hayek, que protagonizam um embate empolgante com toda a força e brutalidade que a dupla merece. Infelizmente este não é o melhor trabalho de Tarantino na atuação, mas ele é bem essencial para o andamento que a trama necessita. Já a classificação indicativa do longa veio mais do que justa: 18 anos, uma prova que uma produção de respeito vai até os últimos recursos e não tem por que ter medo de ser uma versão crua, sangrenta e cheia de nudez, afinal, estamos num clube de strip habitado por vampiros, seria impossível fazer isso perfeitamente numa censura menor. Bem regado de ação delirante e um tanto sádica, com certas pitadas de comicidade, From Dusk till Dawn se engrandece bastante com seus efeitos especiais e maquiagem (mesmo que bastante limitados considerando a época) e com a maravilhosa trilha de Graeme Revell. Este é um daqueles filmes que tem um roteiro que envelheceu super bem mas uma cenografia que teria muito a melhorar em um remake bem moderno.

“O jantar está servido!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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