Crítica | Um Filme Minecraft (A Minecraft Movie)

Nota
3.5

Há filmes que nascem para cumprir uma missão simples: entreter sem pretensões. Este é um deles. Adaptar um jogo como Minecraft — um universo sem narrativa fixa, onde a liberdade criativa é a verdadeira estrela — era um desafio e tanto, mas o resultado final entrega exatamente o que promete: uma aventura leve, repleta de clichês divertidos e galhofas que agradarão em cheio ao público infantil. Não espere um roteiro complexo ou reviravoltas dignas de Oscar; aqui, o que importa é a diversão descompromissada, e nesse aspecto, o filme acerta.

A trama, tão simples quanto os blocos que compõem o mundo do jogo, segue um grupo de personagens transportados para o universo de Minecraft, onde precisam aprender as regras do lugar (construir durante o dia, sobreviver aos monstros à noite) enquanto buscam um caminho de volta para casa. Jack Black, como Steve, é o coração do filme, trazendo seu humor característico e uma energia contagiante que cativa tanto crianças quanto adultos que acompanham a sessão. Jason Momoa, como um ex-campeão de videogame caído em desgraça, rouba cenas com seu visual extravagante e timing cômico impecável. Juntos, eles formam uma dupla tão absurda quanto engraçada, perfeita para o tom que o filme busca.

Emma Myers, Sebastian Hansen e Danielle Brooks completam o elenco com performances que equilibram humor e coração. Myers, como Natalie, traz resiliência sem cair no clichê da adolescente rabugenta. Hansen, no papel do tímido Henry, é o trunfo emocional do filme, personificando a jornada de autoaceitação através da criatividade. Brooks, como a excêntrica Dawn, rouba cenas com seu charme e piadas espontâneas. Juntos, os três dão humanidade à aventura, criando identificação mesmo em meio ao caos. Destaque para a cena em que Henry ensina Natalie a construir – um momento simples, mas que captura a essência do jogo e do filme.

A direção de Jared Hess imprime uma identidade única ao projeto, misturando seu estilo excêntrico com a estética de blocos do jogo. As cenas no mundo real — ambientadas em uma pequena cidade do Idaho — têm um charme peculiar, enquanto as sequências em Minecraft são fiéis ao visual do jogo, com criaturas cubistas e paisagens que parecem ter saído diretamente da tela de um jogador. A animação, longe de ser ultra-realista, abraça a simplicidade do original, o que funciona a favor da atmosfera lúdica.

Para os fãs do jogo, há easter eggs e homenagens de sobra. Desde referências a mecânicas clássicas (como a temida noite cheia de creepers) até aparições que farão os adeptos sorrirem de orelha a orelha — e, ah… cuidado com o Herobrine… (ou será que ele está mesmo lá?). Uma das melhores surpresas é a menção ao Technoblade, youtuber famoso na comunidade e que infelizmente veio a falecer em 2022, cuja inclusão é uma sacada inteligente para celebrar a comunidade global do jogo.

No entanto, o filme peca pela dispersão. Com tantos personagens e subplots, a narrativa perde foco em momentos cruciais. Algumas cenas parecem mais preocupadas em encaixar piadas do que em avançar a história, e o clímax, embora satisfatório, chega com um ritmo apressado. É como se o roteiro, assim como um jogador iniciante, ainda estivesse aprendendo a equilibrar criatividade com objetivo.

A trilha sonora e os números musicais — especialmente as participações de Black e Momoa — são um destaque, acrescentando um toque de irreverência que combina com o espírito do filme. Já os vilões, liderados pela rainha Malgosha (voz de Rachel House), cumprem seu papel, mas não deixam muita marca. São mais caricaturas do que ameaças reais, o que, convenhamos, é adequado para um público que provavelmente está mais interessado nas trapalhadas dos heróis do que em um antagonista profundamente desenvolvido.

No final das contas, o filme é como um mundo Minecraft recém-criado: cheio de potencial, um tanto bagunçado, mas irresistivelmente divertido para quem está disposto a se entregar à brincadeira. Não é uma obra-prima, mas é uma adaptação honesta que cumpre seu papel principal: despertar o interesse de novas gerações para o jogo e garantir algumas boas risadas. Para os pais, é uma chance de relembrar a alegria simples de assistir a algo que não tenta ser mais do que é — e, quem sabe, até se aventurar no jogo ao lado dos filhos depois da sessão.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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