Crítica | Um Herói de Brinquedo (Jingle All The Way)

Nota
3

Inegavelmente, o Natal desperta vários sentimentos nas pessoas, principalmente nos relacionamentos distantes. Enquanto alguns usam a data comemorativa para resgatar a essência de suas vidas e das relações, outros continuam fechados e aversos a qualquer tipo de interação nessa época. Mais do que isso, grande parte das pessoas usa a ideia de presente para recompensar a ausência e provar o afeto pelo outro, transformando as emoções em algo físico.

Esse é o clima da comédia “Um Herói de Brinquedo” (1993). Aqui, Brian Levant traz a história de Howard Langston (Arnold Schwarzenegger, ótimo em cena), um homem de negócios com pouco tempo disponível para o seu filho, o carismático Jaime (Jake Lloyd). O roteiro insere adequadamente a ideia de “pai ausente”, usando a figura de Langston como uma crítica à essa distância entre famílias e ao tom frio que muitos tratam seus filhos e vice-versa. Nesse contexto, Levant não demoniza essa condição, mas tece reflexões em torno do tema e tenta, aos poucos, humanizar essa relação.

A vida do executivo muda quando sua esposa, Liz (Rita Wilson), cansada das desculpas e da ausência do marido, resolve lhe dar um ultimato: ele deve comprar um presente – um boneco do qual o filho tanto gosta – para Jaime, como um pedido de perdão. Embora relutante no início, Howard aceita a ordem da mulher. Nesse sentido, Levant constrói com cuidado a personalidade do protagonista, já que tudo o leva a ser um completo negligente sem remorso. A verdade é que, camada por camada, vemos que há uma sensação de culpa no seu perfil, que ele ama verdadeiramente a família e faz de tudo para não perdê-la, entre erros e acertos. Um tipo que, mesmo ficcional, consegue ultrapassar a tela e dialogar com a realidade.

Entretanto, essa atmosfera crítica e ágil se esvai a partir do momento em que a obra se limita apenas à disputa pelo presente de Howard com o carteiro Myron Larabee (um divertido Sinbad). Ainda que esse seja o foco do filme, o desenvolvimento passa a ter problemas e a interação entre ambos atores não funciona, mesmo que, separados, se destaquem e alguns poucos momentos juntos sejam significativos. Algumas situações, apesar de constrangedoras, arrancam gargalhadas do púbico, mas outras pecam por não seguir a mesma linha, comprometendo a qualidade e a concentração de quem assiste.

Ainda assim, o longa ainda consegue espaço para criticar a fixação por compras no Natal, como se a data não tivesse outra importância além do consumismo excessivo. Myron, em certos trechos, se mostra o porta-voz desse tom, mas o roteiro não se aprofunda devidamente e fica algo artificial. É até compreensível, uma vez que o filme busca o apelo da infância e não dá para “desviar” desse teor e amadurecer essa ideia, desenvolvendo em círculos a trama.

Entre altos e baixos, “Um Herói de Brinquedo” termina satisfatoriamente, embora sem cumprir totalmente com suas intenções críticas. Diverte, toca e cativa em certos momentos e, ainda que não tenha inteiramente a essência natalina que os personagens desejam, o filme consegue manusear esse aspecto e boas situações podem ser vistas. No fim de tudo, é uma grande oportunidade para ter nostalgia e guardar na memória mesmo.

 

Apenas um rapaz latino-americano apaixonado por tudo que o mundo da arte - especialmente o cinema - propõe ao seu público.

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