Crítica | Um Olhar do Paraíso (The Lovely Bones)

Nota
4

É dezembro de 1973, Susie Salmon está voltando para casa até que cruza com um conhecido, seu vizinho, o homem que a assassina. A garota, de apenas 14 anos, acaba ficando presa em um extraordinário, ainda que misterioso, espaço entre a Terra e o Céu, um lugar onde ela passa a ver que seu assassino permanece solto e deve escolher: ela quer vingança ou quer ver seus amados seguirem em frente?

O filme tem um inicio bem familiar, um primeiro ato rápido que logo se converte em um brutal segundo ato de assassinato, entramos na confusão de Susie rapidamente, quando a garota morre e se perde no meio do caminho, sem saber onde está, nos deixando confusos assim como ela. Logo iniciamos um terceiro ato divino, uma jornada visualmente criativa e repleta de suspense, cheia de belas paisagens surreais, cheia de interações, visões e descobertas.

A garota nos leva por uma viagem através dos laços de memória, amor e esperança, nos guiando por uma angustiante historia. Tem como uma morte ajudar sua família a punir seu assassino? Tem como a família Salmon sobreviver a um episodio tão intenso? Como ter paz quando nem o corpo da garota foi encontrado?

O longa é comandado pelas hábeis mãos de Peter Jackson, que prepara o filme quase que completamente usando uma paleta entre azul e amarelo, cores que, intencionalmente ou não, nos ajuda a sentir cada cena do filme e a digerir os fatos. De um lado da trama temos o azulado tranquilizante da morte, cenas bem frias mostrando as aventuras de Susie no entre mundos, lugar onde ela descobre segredos e vive experiencias únicas, do outro lado temos o alaranjado energizante da vida, com cenas intensas e eletrizantes onde vemos os avanços e tensões entre os vivos que estão investigando a morte da garota, principalmente na busca feita por seu pai.

No elenco temos grandes nomes, o incansável Jack Salmon é vivido por Mark Wahlberg, o homem que luta incansavelmente na busca por pistas para punir o responsável pelo desaparecimento de sua filha, que acaba até importunando a policia quando percebe que esta não está se empenhando totalmente. Já Rachel Weisz vive a impassível Abigail, a mãe da garota que sofre demais com seu sumiço e mais ainda com a obsessão do marido em ficar remoendo um assunto tão doloroso. Nossa protagonista é a jovem Saoirse Ronan, que vive cenas intensas e consegue transmitir toda a inocência, desespero e raiva necessária para sua personagem, uma atuação elogiável. Para finalizar temos George Harvey, o vizinho assassino vivido por Stanley Tucci, um homem frio e faminto pela morte, uma atuação tão intensa que rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.

O filme tem tudo para ser uma superprodução, mas não é só de visual que vive um filmão, e é nesse ponto que The Lovely Bones peca. O primeiro ponto é o crime, Susie foi estuprada e esquartejada, um crime muito bárbaro, mas que é tratado no longa como algo simples, não temos a intensidade dessa morte sendo exposta, algo que acaba banalizando uma morte tão violenta. Outro grande problema é o encaixe das tramas, temos um belíssimo filme de fantasia com efeitos maravilhosos no lado dos mortos, temos uma trama intensa e desesperadora no lado dos vivos, mas a ligação entre os dois lados é extremamente falha, as transições são um pouco dolorosas pois parece que estamos vendo dois filmes diferentes que possuem cenas oscilantes.

A trama parece brincar demais com a morte e a vida, e isso acaba enfraquecendo o valor poético do filme, temos cenas lindas, um elenco de ouro, mas uma trama que não faz jus. Isso é ainda mais perceptível quando chegamos ao ato final do filme, com uma cena cheia de simbolismo mas que acaba se tornando vazia e confusa depois de um filme tão superficial.

 

 

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

2 Responses

  1. Ótimo filme, do tipo que nos deixa indignados com o descaso da polícia na investigação de um crime ediondo, como se a vida fosse algo banal, mesmo assim gostei muito da história!

  2. O filme é bom, mas o assassino so é punido por um acaso.
    no final, naquela cena que ele gira o cofre ate o buraco grande e a menina volta e incorpora no corpo na outra que sente espirito… achei q ela faria alguma coisa pra achar o corpo dela e finalmente poder descansar. mas ela volta pra bjar o garoto e o crime dela fica impune.
    o outro lado é que ela escolheu bjar o menino e deixar a familia sem a dor e saber da sua morte e corpo. afinal, o livro como prova do assassinato nao serviu pra nada.

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