Crítica | Uma Noite Alucinante III (Army of Darkness)

Nota
4

“Meu nome é Ash e eu sou um escravo…”

Depois que Ash Williams foi com sua namorada, Linda, para uma cabana abandonada no meio da floresta, e acabou sendo assombrado por uma série de demônios liberados após a leitura do Necronomicon Ex-Mortis, o rapaz acabou sendo puxado através de um portal que o jogou para o passado, em 1300 d.C., uma época medieval onde um vilarejo vem sofrendo com  o ataque dos mortuais, seres demoníacos vorazes, e precisam encontrar o Necronomicon para se salvar. Mas a chegada de Ash surge como uma esperança, já que parece ser o escolhido profetizado, a pessoa que viria do céu para liderar a batalha dos humanos contra os mortos-vivos, seres da escuridão que também desejam o Necronomicon para iniciar um reinado das trevas na terra.

Quando parecia que Sam Raimi não tinha mais pra onde nos levar com a história de Ash e do Necronomicon, o cineasta se une a seu irmão, Ivan Raimi, e leva a trama trash e gore da franquia Evil Dead para a idade média. Nos apresentando um cenário muito mais limitado e assombrado, os Raimi decidem brincar com a ignorância do povoado para transformar Ash em uma entidade superior, armado com sua serra elétrica e sua espingarda, deixando de lado toda aquela trama de possessão e guerra espiritual para focar na jornada e na construção de um vilão muito mais potente. Parecendo fugir da veia de terror que já é comum da franquia, o terceiro longa parece se enveredar para uma aventura épica de comédia com toques de sobrenatural, entregando uma aventura louca que vale muito a pena de assistir e que só se fortalece pelo carisma em tela de Bruce Campbell e a direção imprevisível de Sam Raimi, deixando intencionalmente de apostar nos sustos e nos choques para focar muito mais na diversão do previsível e na graça por trás do inesperado.

Campbell é claramente o astro da produção, ele é retratado como superior o tempo todo, seja pela posse das armas desconhecidas, seja pela sua coragem de enfrentar o rei ou pela devoção que surge após ser descoberto como o escolhido da profecia. O ator exibe uma postura máscula e heroica que parece corresponder perfeitamente com o perfil dos protagonistas padrão de histórias épicas, tendo inclusive uma das versões do poster do filme com uma arte que exibe um Ash pomposo e musculoso acompanhando de Sheila como a donzela em seus pés. Mesmo que o filme traga um humor que parece reciclado, é justamente a nova atitude de Ash que dá um impressão de diferença entre as tramas, o longa pode não ser tão engraçado quanto Evil Dead II, mas o Ash amedrontado do segundo filme evolui para um destemido cavalheiro nesse terceiro. Quem carrega o antagonismo do longa é também Campbell, seja por meio dos Mini-Ash ou do Ash do Mal, as manipulações do Necronomicon brincam com a sanidade do protagonista e acabam por se materializar em seu maior adversário, se transformando praticamente uma personificação do mal que preenche a atmosfera do cemitério onde o Livro dos Mortos está guardado. Sheila, a donzela interpretada por Embeth Davidtz, é uma das grandes peças na parodização do gênero épico, já que ela começa odiando Ash, rapidamente se rende aos galanteios do protagonista e se torna ‘princesa que precisa ser salva’.

Frenético e inventivo, Uma Noite Alucinante III faz jus aos seus antecessores ao elevar o ritmo de evolução do longa e seu nível visual, seja por meio dos efeitos visuais que dão ao longa uma pegada mais surreal ou por meio do trabalho de maquiagem que entrega transformações palpáveis aos vilões da produção, sabendo transformar o Ash do Mal em uma figura realmente nefasta e monstruosa, nos entregando três mulheres possuídas muito melhor construídas do que a versão de Linda no antecessor, e até por conta de seu trabalho de efeitos práticos com a criação do exército de esqueletos que se mescla entre pessoas fantasiadas e cenas artisticamente bem planejadas. Os 96 minutos de filme fluem inesperadamente bem, sem se tornar cansativo e nos fazendo desfrutar cada desventura na jornada de Ash, fazendo uma desconstrução moral em seu protagonista e até explorando os altos e baixos de sua índole, dando uma humanidade ao personagem de Campbell.

“Compre com arte, compre no S-Mart”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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