Crítica | V de Vingança (V for Vendetta)

Nota
4.5

“Lembrai, lembrai o cinco de novembro
A pólvora, a traição e o ardil
Por isso não vejo como esquecer
Uma traição de pólvora tão vil”

Num futuro próximo, um governo fascista toma controle de Londres após uma pandemia viral desestabilizar o mundo em 2020. Nessa sociedade distópica, o Alto Chanceler Adam Sutler lidera o partido Fogo Nórdico (Norsefire), que envia seus opositores políticos, os homossexuais e outros “indesejáveis” ​​a campos de concentração e oprime a população com sua polícia secreta, conhecida como Os Homens-Dedo. Durante uma noite, Evey Hammond sai de casa após o toque de recolher, o que a faz ser encurralada por dois Homens-Dedo que tentam estupra-la, o que é evitado por um misterioso herói, um vigilante com uma máscara de Guy Fawkes que se apresenta como V.

Numa região dominada pelo regime fascista e totalitário, V surge como o maior defensor da liberdade, usando todo o seu carisma para incitar a população contra a opressão do Estado. Convocando o povo britânico a se levantar contra seu governo e encontrá-lo em um ano, no dia 5 de novembro, V planeja reconstruir a Conspiração da Pólvora, que iria acontecer em 5 de novembro de 1605, mas foi impedida e resultou na condenação do soldado católico inglês Guy Fawkes, que inspira a máscara de V. O longa, dirigido por James McTeigue, une história e ficção de forma magnifica, um feito que se deve ao excelente roteiro das Irmãs Wachowski adaptado a partir da obra de Alan Moore e David Lloyd, atualizando rapidamente os conceitos de Moore e Lloyd para a contemporaneidade da produção. A produção é focalizada em três grandes personalidades, com V representando a revolta e a busca pela justiça; Evey representando os trabalhadores, que sofrem e encontram na revolta uma chance de uma sociedade melhor; e o terceiro grande foco do filme é o Detetive Eric Finch, um investigador-chefe convocado para caçar V e que acaba, durante a investigação, descobrindo inúmeros segredos do passado de V que o conectam com diversos crimes brutais cometidos pelo atual governo, representando aqueles que buscam a verdade e acabam descobrindo mais do que queriam, descobrindo até que os criminosos na verdade são aqueles que ele defende.

Toda a trama se torna quase impecável, tendo apenas algumas falhas discretas, que são impulsionadas pelas maravilhosas atuações de Natalie PortmanHugo Weaving. Enquanto Portman mergulha ferozmente no profundo e negro poço da sua personagem, vamos vendo todo o lado político e anarquista de Evey crescer, passando por uma evolução estupenda que nos faz ficar surpresos ao perceber que a Evey do começo do filme não parece em nada com a Evey do final, é quase como se fossem duas personagens distintas interpretadas pela mesma atriz. Weaving encarna V, não mostrando sua cara mas dando um senhora atuação. Como se fosse uma plena redenção do odioso Agente Smith, V luta contra o sistema da forma mais engenhosa possivel, tem uma performance que resulta em uma gigantesca construção, com o ator substituindo toda a atuação através de expressões faciais pela evolução através da voz e de gestos, algo desafiador que o ator cumpre com um enorme jogo de cintura. Stephen Rea vive Eric, apesar de o personagem ser ofuscado em tela pelos outros dois protagonistas, que surge por vários momentos para guiar a trama e dar um suporte ideal para a evolução de V e Evey. A mesma função roteirística é desempenhada por John Hurt, que antagoniza a trama como Sutler e vai construindo o autoritário sistema que V combate, com uma autoridade e imparcialidade que conquista imediatamente nossa antipatia, se tornando o grande vilão da trama e maior representação do pior modelo de governo que poderíamos imaginar.

Com uma recepção positiva imediata, o longa nos convida a desvendar seu protagonista, absorver suas mensagens e propagá-la aonde formos, preenchendo seus 132 minutos com acontecimentos constantes, que não nos permitem relaxar ao acompanhar o jogo de gato e rato centrado em V, que está sempre alterando entre o papel de caça e de caçador, o que compensa todo o problema de nunca vermos o rosto de Weaving. O longa, que é quase um thriller político, nos lembra a Alemanha nazista e preenche seus diálogos com comentários sociais que, se não fosse o seu teor épico, seria rapidamente rejeitado pelo público, complementando suas cenas com coreografias de ação que, mesmo tendo envelhecido um pouco mal, mantém a qualidade e importância da produção, que se encaixa em qualquer contexto, de qualquer lugar e qualquer época.

“O povo não deve temer seu estado. O estado deve temer seu povo.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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