Nota
3

Valdomiro Lacerda (Paulo Gustavo) já foi um bem-sucedido empresário, até que acabou caindo numa falcatrua de Andrada (Márcio Kieling), seu sócio, que o fez ser procurado pela policia e ter que fugir para o Méier, onde se refugiou na pensão de Dona Jô (Catarina Abdalla). Agora, anos depois, Valdo reencontra Andrada, que revela ter um plano para recuperar a cobertura de Valdo, que ficava de frente para o mar no Leblon, fazendo os olhos de Valdo brilhar, vendo a chance de retornar à antiga vida de luxo, mas nem tudo são flores. Quando Valdo está se preparando para se mudar, um temporal interdita a pensão de Dona Jô e faz com que o malandro precise levar todos os seus companheiros para o Leblon com ele.

Depois do sucesso da série, exibida pelo Multishow, a equipe do Vai que Cola resolveu inovar ao explorar novos horizontes, produzindo, em conjunto com a Universal Pictures e a Conspiração Filmes, uma trama original que muda os ares, levando os habitantes do Méier a um novo ponto de vista. O longa se inicia mostrando o que levou Valdo a fugir, dando um pequeno prólogo ao que já foi apresentado na série, e logo depois nos provocando a pensar o que aconteceria se a dinâmica, que todos já conhecemos, mudasse. Somos levados a ver os estabanados moradores da Pensão da Jô indo a um novo cenário, uma cobertura a beira mar onde a classe e a sofisticação surgem como gigantesco contraste. Com roteiro de Luiz NoronhaLeandro Soares, o enredo une a experiencia em longa metragens de Noronha com os textos de Soares, que são a base para os episódios da série desde sua estréia, garantindo a fidelidade àquele humor livre, cítrico e sem freios que foi o ingrediente principal do show, dando a dose perfeita de diversão e anarquia que o longa precisa.

Trazendo os personagens de forma fiel, o filme consegue situar sua trama antes da estréia da terceira temporada do show sem tornar necessário que conheçamos a fundo os acontecimentos da série, uma ideia inteligente que torna o longa inteiramente inclusivo, mas que ao mesmo tempo possui detalhes que flertam com os espectadores da série, fazendo referencias aos fatos das duas primeiras temporadas de uma forma que nenhum dos espectadores fieis vai deixar passado despercebido. Claro que o humor da série não é apenas Valdo e Dona Jô, e é por conta disso que os protagonistas surgem, cada qual com sua trama e seu tempo de tela, garantindo subtramas muito bem desenvolvidas que se desenrolam paralelamente ao plot principal e não interferem de forma alguma no desenvolvimento do longa, ao contrário, torna-o muito mais agradável.

Enquanto temos Valdo se afundando no golpe de Andrada, vemos Jéssica (Samantha Schmutz) buscando namorar com um dos famosos que transitam pelo bairro, acabando por mirar em Klebber Toledo; vemos Máicol (Emiliano D´Avila) buscando um emprego para reconquistar o coração de Jéssica; e temos Velna (Fiorella Mattheis), já revelada como falsa gringa, tentando fazer Máicol esquecer Jéssica e ficar com ela. Infelizmente Terezinha (Cacau Protásio) e Ferdinando (Marcus Majella) são os que possuem a subtrama mais fraca, mostrando apenas o quanto a viuvá de Tizinho sente falta da atmosfera do morro e o quanto o concierge quer aproveitar ao máximo seu novo status de luxo e, bem discretamente, começa a viver um intenso amor platônico por Brito (Oscar Magrini), o sindico do prédio. Por outro lado, Wilson (Fernando Caruso) tem uma das mais bem humorada tramas paralelas, no controle das câmeras do prédio e observando o que cada um dos seus amigos está aprontando, tentando entender tudo que está acontecendo e criando teorias hilárias por conta das cenas fora de contexto que presencia.

Infelizmente o roteiro não consegue traduzir a espontaneidade que sempre acontece no show, vemos momentos de quebra de quarta parede e as inteligentes sacadas de Paulo Gustavo, que quebram completamente o roteiro e brinca com os atores em plena cena, mas nada disso soa com aquela magia que a série exala, se torna tudo tão plástico que parece que a identidade de Vai que Cola tenha se perdido na transição de mídias, talvez o problema seja justamente a diferença de linguagem, que prende os atores num roteiro tão rígido que o humor libertino que tanto conquistou o público acaba sumindo em meio às cenas, mesmo que isso seja compensado ainda mais pelas super trabalho de amalgamar tantas tramas de forma harmônica e direta, dando o já citado espaço ideal para cada personagem e cada plot. O longa, por fim, deixa um gosto agridoce, não sendo perfeito mas não tendo vergonha de suas falhas, entregando ao público seu melhor e deixando claro que lutaram muito para ser o mais fiel possivel aos ingredientes que garantiram o sucesso à produção no Multishow.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *