Nota
O que aconteceria com o mundo se o filho da presidenta dos Estados Unidos se apaixonasse pelo príncipe da Inglaterra, num ano de eleição? Vermelho, Branco e Sangue Azul traz esse romance para o público jovem, adaptado do best seller do New York Times de mesmo nome da escritora casey McQuiston. Dirigido e roteirizado por Matthew Lopez, o longa traz um romance adolescente bem estruturado, mas nada além disso. Mesmo tendo sido adaptado de um livro, são cortados personagens importantes da história e muitas cenas de desenvolvimento de personagem, fazendo a trama ficar focada mais no romance do que na situação política, mesmo que ainda aborde, mesmo que superficialmente, o tema político.
Considerando como obras separadas e diferentes, é possivel perceber que o filme é capaz de atrair um novo público, aquele mais interessado em assistir romances lgbt com finais felizes, uma escolha que de certa forma é positiva, mas que não justifica que seja abdicada a qualidade da história. O longa escolheu seus protagonistas dando destaque para rostos já conhecidos de outros filmes adolescentes, Taylor Zakhar Perez, interprete de Marco Valentin em The Kissing Booth 2, vive Alex Claremont-Diaz e Nicholas Galitzine, que viveu Príncipe Robert em Cinderella (2021), no papel de Príncipe Henry, o que gera um buzz para o filme e se mostra como uma boa jogada de marketing da Amazon. A dupla até tem química em cenas específicas, mas as cenas de maior intimidade, como a primeira vez dos dois, fica claro que há falhas na direção, que acaba guiando a cena da mesma forma que faria com casais heterossexuais, reproduzindo ângulos e cortes que não funcionam.
A direção de arte e os figurinos são muito bem produzidos, é possivel enxergar cada visual e cena do livro, com grandes takes e festas muito bem feitas, mas outras locações importantes, como o quarto do Alex e sua irmã, quase não tevem ganha foco. O conflito do Alex com Henry, que surge no começo do filme, é a parte melhor trabalhada e muito fiel ao livro, porém cenas do livro que exploram mais a aproximação dos os dois, como a cena do “peru na gaiola”, que é muito cômica, ou a cena do estábulo, uma das mais picantes e marcantes do livro, ficam bastante reduzidas. A ausência da June, irmã de Alex e responsavel por várias conversas sobre sexualidade, duvidas e a carreira, faz uma falta enorme no filme, colocando apenas a nora para simplificar a história. A parte da política e o antagonista são pouco explorados, o político conservador que, no livro, significa um grande atraso para tudo nos EUA, no filme se torna apenas o adversário de Ellen Claremont (Uma Thurman), que não tem uma atuação de grande destaque. O antagonismo no filme acaba ficando para o repórter politico Miguel, que tem um crush em Alex e expõe todas as informações possíveis, causando danos na campanha política, mas nada comparado a toda a trama que vimos no livro, que aborda vários outros temas.
Vermelho, Branco e Sangue Azul talvez fosse melhor adaptado como uma serie, mas ao menos está sendo bem recebido pelo público em geral. Grande parte do livro é focado na personalidade e individualidade dos protagonistas, trazendo uma trama queer direcionada para o público queer, já o filme parece ter sido dirigido para explorar o tema e o romance para o público em geral, traduzindo toda a conversa para gerar uma discussão sobre o amor homossexual e sobre a a possibilidade de se ter o felizes para sempre. Infelizmente a trama acaba deixando de lado debates sobre orgulho LGBT, direitos e lutas, que é o maior foco desenvolvido no livro, o que se torna uma pena visto que séries como Heartstopper e Sex Education, que estão em alta, conseguem explorar o tema e essas camadas com maestria. A esperança que resta é que essa essa obra possa sevir de exemplo e abrir portas para muitas outras produções de histórias queers com finais felizes.
Lucas Vilanova
Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror