Nota
“Diário do Rorschach, 20 de outubro de 1985. Nesta noite um comediante morreu em Nova Iorque.”
Em uma realidade alternativa, os super-heróis são uma presença constante na sociedade. Usados em guerras e combatendo a violência nas ruas, esses vigilantes se tornaram o símbolo de justiça e poder… ao menos ate não significarem mais nada. Com os conflitos acirrados entre os Estados Unidos e a União Soviética cada vez mais inflamados, a inércia de uma guerra nuclear parece cada vez mais real. Cientistas criaram o Relógio do Apocalipse para marcar a proximidade com a ruína humana em uma guerra sem precedentes, representada pelo ponteiro da meia-noite. Quanto mais próximo da meia-noite, maior seria o risco.
Em meio a todo esse caos o Comediante (Jeffrey Dean Morgan), um herói mascarado que continuou ativo mesmo depois da proibição do governo, é brutalmente assassinado em seu apartamento despertando o interesse de Rorschach (Jackie Earle Harley) que decide investigar a morte por sua própria conta. Convencido que alguém esta determinado a exterminar todos os vigilantes, o mascarado procura seus antigos companheiros para alerta-los sobre o risco que correm.
Enquanto tenta convencer o Coruja II (Patrick Wilson), Espectral (Malin Åkerman), Ozymandias (Matthew Goode) e, ate mesmo, o intocável Dr. Manhattan (Billy Crudup) sobre a importância dos acontecimentos, os vigilantes percebem que algo ainda maior se espreita em seus destinos, podendo colocar não só eles, mas toda humanidade em perigo. O relógio se aproxima da meia-noite e o fim do mundo nunca esteve tão próximo…
Desde seu lançamento, a saga de Watchmen chamou a atenção por seu clima cruel e apocalíptico, em um mundo a beira da crise onde super-heróis são tratados como armas ou criminosos que não se adequam à sociedade. Considerados por muitos uma obra-prima dos quadrinhos, a historia de Alan Moore com traços de Dave Gibbons ganhou uma legião de fãs eloquentes que desejam, acima de tudo, uma bela adaptação dos quadrinhos.
O problema residia em levar uma das obras mais amadas dos quadrinhos às telas sem perder sua complexidade e riqueza. Como adaptar uma obra tão crítica para uma nova linguagem sem desvirtuar seu conteúdo e agradar tanto a fãs quanto a quem teria o primeiro contato com o que seria exibido? Como trabalhar com uma historia pessimista em um mundo onde a grandiosidade dos heróis se tornava cada vez mais presente e socialista?
Foi por essas questões que a adaptação cinematográfica passou por uma verdadeira odisseia cinematográfica, transitando por inúmeros estúdios, roteiros, diretores e conceitos até voltar a seu antigo lar e, só assim, descobrir uma luz azul no fim do túnel. Dirigido por Zack Snyder e roteirizado por Alex Tse e David Hayter, Watchmen – O Filme trouxe com maestria a aclamada obra para uma nova mídia, atualizando e respeitando com um cuidado estrondoso ao material fonte.
Repleto de discussões sociais, governamentais e, principalmente, humanas o longa constrói com coragem uma trama crescente que envolve seu público desde os primeiros segundos da narrativa. São cenários bem criados e sequências de cair o queixo, trazendo toda maestria dos quadrinhos a uma obra visual magnífica que encanta os amantes da nona arte. Repleto de câmeras lentas bem aplicadas e seu famoso filtro azul, o diretor nos imerge naquele mundo, tomando seu próprio tempo ao condensar certas partes do enredo original enquanto expande determinadas áreas com maestria.
As cenas de luta são brutais e bem ensaiadas, com uma violência gráfica digna de Tarantino trazendo uma crueldade fria a obra e, assim como os efeitos especiais bem aplicados, nos mostra a dedicação e paixão que Synder teve com o projeto. Basta analisar o famoso Dr. Manhattan que parece receber um universo a parte em toda sua divindade, com um CGI invejável que se mostra uma referência até nos dias atuais. E, o filme não seria nada, sem seus personagens.
Desde o enigmático Rorschach, até o intocável Manhattan todos se mostram afiados e comprometidos com as diferentes nuances que cada personagem pode apresentar. Rorschach é repleto de traumas e se mostra imprevisível durante a trama, trazendo uma contestação constantemente a tudo que lhe é mostrando e aceitando sua mascara como real identidade. Tudo para o herói esta no oito ou no oitenta, o que leva sua insanidade ao máximo quando somos finalmente revelados a seu rosto humano que parece perdido em si e em suas paranoias.
O Coruja vive uma crise de meia-idade, dividido entre o que foi um dia e o que a sociedade exige que ele seja agora. Não é a toa que o rapaz se liberte quando coloca sua fantasia e consiga ultrapassar barreiras que sua identidade civil não conseguiria. Ele se mostra mais destemido, corajoso e confiante trazendo novas camadas a sua personalidade. Espectral esta cansada de se sentir invisível, como um simples objeto nas mãos dos homens que a cercam. A garota nunca escolheu seu destino, tendo que seguir os desejos frustrados da mãe apenas para descobrir um segredo trágico que lhe foi escondido desde seu nascimento. Ela é forte, poderosa e determinada, mas não aguenta mais ter seu destino lido ou ser apenas uma peça de um plano orquestrado por terceiros.
Ozymadias é considerado o homem mais inteligente do mundo. Tendo revelado sua real identidade anos atrás, o agora bilionário construiu um verdadeiro império com seu nome sempre se mostrando um passo a frente de todos ao seu redor. O Comediante é sarcástico, egocêntrico e extremamente babaca, tirando o máximo do seu redor e jogando o que não lhe serve fora, como alguém que descarta o lixo. O personagem se mostra tão odioso que, certos momentos, somos surpreendidos com sua fragilidade. Parte disso pela brilhante atuação de Morgan que deixa sua assinatura no personagem mesmo em seus piores momentos.
Mas, o grande destaque do filme é com toda certeza o Dr. Manhattan. Se aproximando muito mais de um deus do que de nós, reles humanos, o azulão é um show a parte. Com sua voz calma e introspectiva, Billy entrega com maestria os dilemas e questionamentos de um super ser que se afasta cada vez mais da sua humanidade, pouco entendendo dos desejos e sonhos humanos e se afundando ainda mais nos conhecimentos visionais que adquiriu ao longo do caminho.
Com uma trilha impecável e alterando o final Lovecraftiano da obra original, Watchmen – O Filme trás uma excelente adaptação e nos entrega um dos melhores filmes de super-heróis já feitos. Repleto de criticas ácidas e cenas magníficas, o longa precisa ser digerido aos poucos nos dando extensos socos no estômago enquanto nos deixa maravilhados com sua complexidade. Um verdadeiro achado que, não surpreendendo ninguém, é referenciado e amado até os dias atuais.
“Eu posso mudar quase tudo. Mas não posso mudar a natureza humana.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...