Crítica | Wicked (Wicked: Part One)

Nota
5

“Are people born wicked, or is wickedness trust upon them?”

O teatro musical sempre foi uma potência a ser considerada, mas, ao longo dos anos, raras foram as vezes que a magia dos palcos conseguiu transitar com sucesso para a tela grande, o que criou um certo preconceito quando falamos dessas possíveis adaptações. Felizmente, Wicked consegue transpor todas essas dificuldades e se assume como uma das melhores adaptações do gênero.
Baseando-se na peça de estrondoso sucesso (que, por sua vez, adapta a obra densa de Gregory Maguire), a primeira parte de Wicked nos transporta diretamente para a potência teatral que tanto amamos, expandindo seu universo e trazendo um verdadeiro deleite visual e sonoro.

A versão de Jon M. Chu constrói uma obra rica e esplendorosa que referencia não só os sentimentos presentes na Broadway como a magia da obra de ’39, parecendo naturalmente um prelúdio da história que já conhecemos. É inevitável sentir que voltamos a um lugar já conhecido, dispostos a sermos apresentados a um novo lado da história antes mesmo que Dorothy sequer existisse. O roteiro de Winnie Holzman consegue tratar de maneira impecável as temáticas que a obra se propõe, transitando com maestria entre os momentos cômicos e os tons mais sérios da narrativa. Não é a toa que passamos de momentos hilários para tramas sombrias e profundas com uma naturalidade exemplar, nos fazendo refletir sobre a verdadeira natureza escondida por trás do deslumbre visual. O texto nos faz refletir se as pessoas são realmente malvadas por natureza ou essa maldade é imposta a elas, por fatores que, quem não vivencia a história, pouco se interessa em saber.

Boa parte desse sucesso narrativo é transposto pelo brilhantismo do elenco, que consegue compreender as diversas camadas de seus personagens e expressar isso ao longo das cenas.
Cynthia Erivo constrói uma Elphaba resguardada, que sempre foi discriminada pela cor da sua pele desde o momento do seu nascimento. Então não é de se estranhar que ela comece a trama em modo defensivo, esfregando qualquer dúvida que possam levantar sobre sua aparência e fingindo que a opinião e ataques alheios não lhe ferem. Conforme a trama avança, ela começa a se abrir aos demais e se permite sonhar com um futuro melhor, dando um novo ar que, embora receoso, começa a florescer em sua personalidade. É nesse ponto percebemos tudo aquilo que lhe foi tirado ao longo da vida, e toda a importância que esse momento de esperança tem em sua construção. Ariana Grande está vivendo o papel de sua carreira e demostra isso a cada segundo que passa em tela. Fútil, ambiciosa e extremamente popular, sua Galinda transborda toda comicidade necessária para entrar como contraponto para a Elphaba, trazendo uma química invejável que atravessa as telas. A dupla se complementa de maneira impecável, construindo uma das melhores colaborações artísticas que vimos nos últimos anos, facilitando ainda mais nossa vontade em acompanhar a improvável amizade que transforma cada uma em seu particular.

Jonathan Bailey dá vida ao sensual e inconsequente Fiyero, que está mais preocupado em aprender com a vida do que com o que os livros podem lhe ensinar. Já Michelle Yeoh nos brinda com a misteriosa Madame Morrible, que nos mostra sua imponência desde seu primeiro segundo em tela. O filme ainda nos presenteia com a atuação impecável de Jeff Goldblum, com o canastrão Mágico de Oz que é detestável e encantador em todas suas versões. Peter Dinklage é outro ótimo destaque com seu Dr. Dillamond, assim como a atuação sensível de Marissa Bode como Nessarose, um toque maravilhoso a narrativa da Elphaba.

Mas, não podemos falar de um musical e não falar de suas músicas extraordinárias, principalmente quando elas casam tão perfeitamente com o enredo que é construído e servem com maestria a narrativa. No One Mourns the Wicked já nos acerta em cheio, trazendo várias mensagens subliminares que não são necessariamente ditas mas que ganham um novo peso quando passamos a entender a história contada. The Wizard and I traz um momento de esperança e renovação, que nos abraça e encanta a cada novo verso, mas é em What is This Felling que a trama começa a ganhar corpo, em um dos momentos mais divertidos do longa. Something Bad traz um ar reflexivo e pesado, o que cria um contraponto com Dancing Through Life, que avança a narrativa e mescla a dualidade do longa.

Popular é um momento esplêndido que faz Ariana Grande firmar seu nome como uma das melhores versões da Galinda, demostrando todo seu apreço pela personagem, mas a grande surpresa está em One Short Day que traz um dos melhores momentos de toda a narrativa. Acredite, você não vai querer desgrudar os olhos do que está acontecendo em tela. Por fim, é impossível não falar de Wicked sem citar Defying Gravity. A voz de Cynthia nos atinge como um raio, nos levando a lágrimas involuntárias em uma das canções mais poderosas já produzidas. Não tem como não se impactar com a potência vocal aqui presente, principalmente quando alcançamos o ápice em uma cena apoteótica que nos demostra todo o amor que foi colocado nesse longa. Mais um acerto para a coleção.

A sensação que temos ao sair do cinema é que Wicked chegou no momento perfeito, demostrando que, as vezes, uma longa espera vale a pena. O longa tem um cuidado indescritível com seu material original, e traz uma das melhores adaptações dos últimos anos que, realmente, nos convida a desafiar a gravidade. Enquanto esperamos a segunda parte desse novo clássico cinematográfico, só nos resta apreciar todos os momentos que vivenciamos em sala, e ficarmos felizes por um ótimo musical ganhar novos espaços e um público que não teve a chance de conhece-lo antes desse momento.

“So if you care to find me, look to the western sky. As someone told me lately: Everyone deserves the chance to fly!”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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