Crítica | Zona de Interesse (The Zone of Interest)

Nota
3

Introspectivo, inquietante e conceitual, Zona de Interesse traz o olhar do diretor britânico Jonathan Glazer e da produtora A24 sobre a futilidade das vidas banais de soldados nazistas em campos de concentração. Trazendo a estrela de Anatomia de uma Queda, Sandra Hüller, que interpreta Edwing Höss, a esposa de um comandante de Auschwitz chamado Rudolf Höss (Christian Friedel), e, juntos, vivem o sonho de construir sua casa e jardim perfeitos.

Indicado a três prêmios no Globo de Ouro e não levando nenhum prêmio para casa, Zona de Interesse pode ter o mesmo destino na cerimônia do Oscar, agora em março de 2024. Com cinco indicações em diversas categorias, o filme tem chances reais apenas de levar Melhor Filme Internacional, já que o seu concorrente vencedor do Globo de Ouro na mesma categoria, Anatomia de uma Queda, por algum motivo não recebeu indicação na mesma categoria do Oscar. Mas apesar das chances quase nulas de levar alguma categoria técnica a qual está disputando, o filme realmente se destaca em algumas delas.

Zona de Interesse tem um foco enorme no som do filme do começo ao fim. Sua “cena” de abertura é ao mesmo tempo instigante e agoniante por ser focada exclusivamente no som, que se repete ao longo do filme de formas diferentes. Há diversas cenas com sons de sirene que ecoam nos corredores, mas o mais impressionante do filme foi a utilização apenas de vozes e gritos para representar o sofrimento daqueles no campo de concentração, o que é de alguma forma algo diferentíssimo para um filme sobre holocausto.

A fotografia do filme também tem uma grande importância para a trama, mesmo não sendo 100% coesa durante todo o filme. Embora a direção de arte não seja tão inteligente no uso de cores e do figurino, é na fotografia que o conceito do longa se amarra, fazendo todo o sentido no fim. Há ambientação das cenas divididas ao meio, em destaque às várias cenas onde mostra-se o quintal da família com a fumaça do trem trazendo novos prisioneiros aos campos de concentração, ou caminhadas com os campos ao fundo, e tudo isso atrelado com o cotidiano daquelas pessoas que veem tudo aquilo como apenas um aspecto do seu cotidiano.

Sandra Hüller se mostra uma atriz muito versátil nesse ano de premiações, tendo uma performance impecável em Anatomia de uma Queda, a atriz vem com um papel completamente diferente, mas que mostra o seu alcance de atuação. Enquanto em Anatomia de uma Queda sua atuação era ambígua ou até manipuladora, em Zona de Interesse sua atuação chega a ser humana da forma mais cruel possível. Atrelada às sutilezas do filme, as preocupações de sua personagem são tão fúteis que servem para mostrar como eles levam tudo aquilo que eles vivem como algo normal.

Zona de Interesse tem um conceito interessante e até inovador para filmes sobre holocausto. Trazendo a perspectiva da família de um militar nazista, o filme estrelado por Sandra Hüller traz nas sutilezas a crueldade do contexto histórico da época. Embora tenha um roteiro que faça sentido, e com performances consistentes de todos os atores, o filme deixa a desejar em algumas categorias técnicas como fotografia e direção de arte. Mas apesar disso, Zona de Interesse tem seu lugar marcado nas premiações deste ano, podendo levar inclusive Melhor Filme Internacional.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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