“Temos uma tarefa para você. […] Mas como não há tempo para concluir a avaliação, a doutora vai com você.”
Após ter sobrevivido ao acidente causado pela descarga mortal de radiação do Magnetar, que o deixou mais de 140 dias à deriva no espaço, Astronauta precisa ser analisado e avaliado por uma psicóloga com treinamento em viagens espaciais da agencia espacial BRASA (Brasileiros Astronautas). Mas quando uma nova missão surge para Astro, ele se vê obrigado a partir para investigar um buraco negro acompanhado de sua psicologa e um pesquisador estrangeiro que faz parte da tripulação que o resgatou, uma missão onde ele não se sente confortavel, onde ele precisa estar sempre sendo avaliado e onde ele tem medo de estar sendo espionado, um missão onde, para piorar, ele está indo para um destino que esconde um misterioso perigo.
Dois anos se passaram desde que Astronauta: Magnetar, romance gráfico escrito e desenhado por Danilo Beyruth, foi lançado, e muita evolução aconteceu para o projeto Graphic MSP, que chega à sua sexta edição com Astronauta: Singularidade. Sequência direta de Magnetar, a HQ começa a transitar entre os aspectos obscuros que existem no interior de Astronauta, deixando de lado todo o dilema que ele enfrentou ao encarar a solidão que acompanha sua jornada e passando a explorar sua teimosia, seus bloqueios emocionais e sua obstinação. Astronauta é enviado para investigar uma Singularidade, um Buraco Negro em Centaurus B que se formou numa região onde não há condições para sua formação, mas precisa levar ao seu lado a psicologa que está o analisando o tempo todo, e da qual ele parece ter medo por ser uma profissional capaz de impedir ele de pegar novas missões, e um Major de uma equipe estrangeira que tem treinamento cientifico especializado em buraco negro, mas que parece não estar disposto a ser tão cooperativo quando o assunto é compartilhar informações e dividir as honras das descobertas, e tudo fica ainda mais confuso quando a equipe encontra uma imensa estrutura em forma de octaedro perto do buraco negro, algo que não estava no relatorio da missão mas o Major não pareceu surpreso em encontrar.
Trazendo informações que remetem diretamente para a origem do protagonista nas tiras de jornal, a trama se desenrola em volta dos misterios que existem no passado do Astronauta, um homem que foi levado por alienigenas para uma área proibida da lua e voltou com uma nave que só pode ser controlada por ele, e com os misterios obscuros das motivações do Major, um homem que parece disposto até a colocar a Terra em risco ao tentar tomar controle da estrutura que não entende para garantir que a descoberta pertença ao seu país, para tratar sobre os valores e os limites do astronauta brasileiro, até onde ele é capaz de se arriscar para salvar seu planeta? Até onde ele pode ir para não colocar a médica que o importuna em risco? Vemos uma nova face do protagonista quando colocado em grupo, capaz de encarar seus demônios para não deixar sua mente sucumbir em um momento de necessidade e de arriscar sua vida para não permitir que seu lar seja arriscado. A trama não é do Major ou da médica, o que faz com que os personagens não sejam aprofundados, mas eles atuam precisamente para provocar reações que fazem o Astronauta evoluir, se provar e se renovar.
Ganhador do Troféu HQ Mix de 2015 na categoria Melhor Publicação de Aventura/Terror/Ficção, Singularidade começa parecendo que vai crescer narrativamente, mas não chega nem perto da trama intensa e psicológica que tivemos com Magnetar. Com um ritmo preciso, que parece o de um filme de ficção ciêntica bem planejado, a arte de Beyruth parece traduzir para os quadrinhos os jogos de camêra que um filme de qualidade teria, alterando entre aproximações e afastamentos para criar um ritmo de movimento ainda mais dinâmico, algo que se fortalece ainda mais pelas cores empregadas por Cris Peter, que fogem da frieza de Magnetar e investem num calor que embala perfeitamente o enredo de Singularidade. Talvez o maior problema de Singularidade seja o momento em que foi publicado, comparado ao que vemos em Pavor Espaciar, Laços, Ingá e Caminhos, Singularidade parece não ter profundidade suficiente para refletir a evolução narrativa da coleção, deixando Beyruth numa situação de conforto que não o compele a evoluir seu enredo, mas deveria.
“Nós não perdemos nada que não possamos redescobrir um dia, Major.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.