“Até contei sobre meu lance esquisito com a comida… por mais que eu esteja ótimo e ele não precise se preocupar. Mas será que devo falar “eu te amo”? E se ele não sentir a mesma coisa??”
Desde sua viagem a Paris, Charlie e Nick não precisam esconder de ninguém do colégio que estão namorando. Mas, sua mudança de status não foi a única alteração que a viagem fez, e agora, mais do que nunca, Charlie se sente pronto para falar “Eu te amo” para seu namorado. Acontece que esse simples gesto se torna bem complicado quando a ansiedade do rapaz o faz questionar se Nick se sente da mesma forma… Por outro lado, Nick esteve com a mente bastante ocupada nos últimos tempos. Além de não ter tido a oportunidade de se assumir para seu pai, ele ainda está constantemente preocupado com Charlie, que deixa cada dia mais claro os sinais de ter um transtorno alimentar.
Enquanto tentam lidar com os novos desafios – que se tornam cada vez mais difíceis – Nick e Charlie precisam entender seu papel no relacionamento, amadurecendo em conjunto enquanto descobrem seus limites. E, que as vezes, amar alguém é não tomar toda responsabilidade para si, mas estar lado a lado, de mãos dadas, enquanto enfrentam o que estiver pela frente.
“Sei que parece que vocês são o mundo inteiro um do outro, mas essa dependência não é saudável pra nenhum de vocês. Charlie precisa procurar ajuda de alguém que não seja o namorado dele de dezesseis anos. (…) O amor não cura um transtorno mental.”
Durante três volumes impecáveis, Alice Oseman nos mostrou a construção de um romance doce e gentil, que respeitava seu próprio tempo enquanto evoluía de uma maneira saudável e positiva. Mas, conforme seus personagens cresciam, Oseman decidiu aprofundar seu desenvolvimento, trazendo temas não tão bonitos assim, para um mundo quase ideal que tanto apreciamos conhecer. Em seu quarto volume, Heartstopper – De Mãos Dadas aprimora os debates do seu antecessor, trazendo uma discussão pertinente para adolescentes e adultos: a saúde mental.
Oseman constrói um enredo doloroso mas necessário que nos coloca frente a frente com a dificuldade em encarar certas situações que, muitas vezes, preferimos ignorar, criando um alerta preciso dos sinais no que necessitamos prestar atenção não importa em que lado da situação nos encontramos. E é utilizando esses dois contrapontos que entendemos a complexidade dos momentos que aqui são debatidos.
Charlie tem bastante dificuldade em administrar seus sentimentos e, embora compreenda que precisa de ajuda, se sente mais confortável em apenas fingir que tudo está na mais perfeita ordem. Com sua constante insegurança, e os traumas não resolvidos do seu passado, o rapaz prefere se colocar em segundo plano, ignorando todos os alertas que seu corpo lhe dá. Seu sofrimento silencioso é um dos pontos mais doloridos da trama, principalmente quando a tanta coisa não dita que transborda pelas páginas.
Nick, por outro lado, se sente incapaz ao observar esse agravamento, sem saber direito como agir em tal situação. Embora tente ajudar da melhor forma, seu posicionamento, por muitas vezes, mais atrapalha do que auxilia. E é em meio a esse desespero que surge uma das vozes mais sensatas dessa jornada: Sarah Nelson, a mãe do Nick.
A matriarca traz, em um dos mais profundos diálogos da webcomic, uma das melhores visões sobre a situação. Demostrando que, por mais doloroso que seja, precisamos liberar um pouco de espaço para que outras pessoas possam ajudar. Afinal, um amor não pode curar um transtorno mental, mas sua presença e apoio podem ajudar a pessoa a seguir pelo caminho não linear do seu tratamento.
O volume ainda abre espaço para ampliar certos aspectos sobre outros personagens, que ajudam na compreensão sobre o enredo principal. O arco familiar de Darcy e como ela se porta diante dos demais é um ótimo ponto para a compreensão de Nick, principalmente quando tanta coisa está guardada e escondida pela atitude extravagante da garota. A autocobrança de Tori é outro ponto importante da narrativa, assim como o cuidado intenso que ela tem pelo seu irmão (ponto que seria explorado em duas outras obras do Osemanverse, que se passam durante os acontecimentos desse quarto volume).
Sendo um dos volumes mais necessários da saga, Heartstopper – De Mãos Dadas não só amadurece sua história como estende a mão para seus leitores, demostrando que existe sim uma luz no fim do túnel, mesmo que o caminho pareça não ter fim. Desmistificando as instituições e tratamentos psiquiátricos, a autora consegue reverter a visão negativa que tanto foi construída em nosso imaginário, convidando assim seu público a buscar ajuda o mais cedo possível.
“Eu amo o Nick. Amo muito, muito o Nick. Mas o que percebi nessa história toda é que precisamos de outras pessoas também. (…) Isso não quer dizer que nossa relação não seja forte. Na verdade… acho que estamos mais fortes agora.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...