“Já gostei de meninas antes… mas agora… gosto de você.”
Charlie Spring acredita que cometeu o pior erro de sua vida. Ele e Nick Nelson tinham se aproximado nos últimos meses, construindo uma amizade improvável mas reconfortante, que foi por água a baixo após um beijo inesperado na festa de aniversário de Harry Greene. Será que seu ato impensado arruinou de vez a amizade entre eles? Com toda certeza Nick não vai mais querer se aproximar dele. Por outro lado, Nick está cada dia mais confuso, principalmente sobre seus sentimentos por Charlie. Ele sempre gostou de meninas, então por que ele sente essa vontade incontrolável de beijar seu melhor amigo a cada segundo que passam juntos?
Enquanto tentam entender o que o beijo significou para ambos, Nick começa a enxergar o mundo por uma nova perspectiva que abre o seu universo e, com a ajuda de Charlie, ele percebe novas camadas no ambiente que o cerca, sobre seus amigos e, principalmente, sobre ele mesmo.
Desde 2016, Alice Oseman presenteou seu público com uma história doce e sensível que nos cativou desde o primeiro momento. Com seu traço delicado e reconfortante e um enredo acolhedor, a autora/ilustradora começou a evoluir e a ter mais controle em seu trabalho, trazendo novas camadas e ainda mais desenvoltura para uma história que parecia bastante simples a primeira vista. Então, não foi nenhuma surpresa que o seu primeiro encadernado fosse um sucesso estrondoso e que um segundo volume estivesse logo a vista.
Pois bem, Heartstopper – Minha Pessoa Favorita continua a jornada de Nick e Charlie do exato ponto onde o volume anterior parou. Se no primeiro volume acompanhamos o desabrochar da paixão entre os protagonistas, o segundo vira seu foco para um processo mais individual: o entendimento e aceitação de Nick sobre sua própria sexualidade.
Nick nunca cogitou se sentir atraído por um garoto e seu envolvimento com Charlie traz um conflito interno com a qual ele não sabe muito bem como lidar. A confusão de sentimentos não o afasta de seu novo amor, mas cria situações desconfortáveis em que ele não sabe muito bem como agir.
Alice consegue trazer o tema com uma delicadeza assustadora, tomando todo o cuidado do mundo para tratar de um dos momentos mais caóticos da vida de uma pessoa bissexual. Cada questionamento, escolha e medo são tratados com leveza, que nos aproxima ainda mais de seus personagens e os tornam tão humanos aos nossos olhos.
Alice ainda usa o fator de Nick não estar pronto para se assumir para criar um paralelo com o relacionamento tóxico que Charlie levava com Ben, demostrando através dele o quão diferente e saudável esse novo romance pode ser. Nick quer manter o relacionamento em segredo mas não poderia ser mais diferente do outro rapaz: ele é caloroso, companheiro e extremamente preocupado com o bem estar do seu companheiro, se questionando constantemente se não estaria fazendo algum tipo de mal a ele nesse processo.
Já Charlie entende a fase em que Nick se encontra, se mostrando acolhedor e compreensível para o processo que ele precisa seguir. É tão reconfortante acompanhar o amadurecimento dos dois e o quão respeitosos eles são um com o outro, o que torna a história ainda melhor aos nossos olhos. Outro ótimo acerto da escritora.
Mas, para desenvolver melhor o enredo, a autora começa a adicionar novas personas que ajudam a história a evoluir. Seja pelos personagens que já apareceram e que agora ganham mais sustância, ou pelos novas adições, tudo parece funcionar perfeitamente aqui.
Tao Xu e Tara Jones são ótimos exemplos da primeira situação. O melhor amigo de Charlie ganha um contexto maior para a constante preocupação com o rapaz, demostrando que, apesar de ser bem difícil de conviver, ele preza sempre pelo bem estar do seu amigo. Afinal, até onde iríamos para impedir que aqueles que amamos se machuquem profundamente? Principalmente quando você acompanhou o abalo que essa pessoa já passou?
Tara, por sua vez, aparece como um ótimo suporte para o entendimento pessoal de Nick, dando um acolhimento preciso que o faz dar um passo enorme em seu crescimento pessoal. Junto com a extrovertida Darcy Olsson (sua namorada), elas fazem o rapaz aprender a respeitar seu caminho e que quando estiver pronto ótimas pessoas vão estar ali por ele.
Tori Spring faz aparições pontuais mas precisas que trazem ótimos comentários para o desenvolvimento de seu irmão. Enquanto Harry demostra toda escrotisse presente em pessoas com a mente fechada que acham que podem fazer piada com todos ao seu redor. O quadrinho ainda nos apresenta a encantadora Elle Argent, uma amiga dos garotos que teve se transferir para uma nova escola após se assumir como uma mulher trans, e o emblemático Aled Last, que já é um velho conhecido dos fãs do Osemanverse por ter sua própria história contada em um dos melhores livros da autora.
A edição da Seguinte faz jus à sua antecessora, trazendo uma qualidade impecável que torna ainda mais gratificante em ter o volume em nossa estante. O segundo volume ainda conta com ótimos conteúdos extras, que explicam desde a vestimenta dos seus personagens principais até uma história inédita sobre o início do relacionamento entre Tara e Darcy.
Repleto de uma doçura inebriante, Heartstopper – Minha Pessoa Favorita nos mostra que está tudo bem não entendermos tudo sobre nós mesmos. Trazendo uma evolução natural para o desenvolvimento de seus personagens, a obra alcança um novo patamar que nos deixa ainda mais encantados a cada página virada. Quem dera que obras assim existissem a mais tempo, para trazer um pouco mais de esperança no mundo amargo que vivemos.
“EU GOSTO DO CHARLIE SPRING!
…
DEUMJEITOROMÂNTICOENÃOSÓCOMOAMIGO”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...
