“Eles são os super-heróis, certo? Os fodões. Nós somos aqueles que ficam de olho neles.”
Em um universo paralelo ao nosso, Super-heróis são reais. Orquestrados por grandes corporações, os uniformizados cortam os céus e cuidam dos menos favorecidos em sua eterna luta contra ao mal… ao menos, é o que eles fingem fazer. Acontece que, as vezes (ou quase sempre), os super deixam cair suas máscaras bondosas e saem da linha, despertando o pior de si e causando danos à sociedade.
Hughie “Mijão” Campbell sabe bem disso. Durante um leve passeio, o rapaz viu sua amada namorada ser destroçada em sua frente durante uma perseguição executada pelo A-Train. Destruído, ele assinou um termo de confidencialidade mas passou a nutrir um ódio abissal contra os super-humanos. Eis que ele então é contatado por Billy Carniceiro, que o convida a participar de um secreto grupo que pune os heróis.
Juntos com Leitinho Materno, O Francês, A Fêmea e Terror, eles formam Os Rapazes, uma equipe da CIA formada por gente perigosa que consegue executar com perfeição seu trabalho. Alguns Super precisam ser vigiados. Alguns precisam ser controlados. E alguns, as vezes, precisam ser tirados de cena.
No mundo dos quadrinhos, uma pergunta sempre soou pertinente, nos fazendo questionar toda a estrutura dos super-heróis mostrada até ali. Se um deles sair do controle, quem poderia impedi-lo? Trazendo esse questionamento para um mundo mais humanos, onde pouco nos importamos com a vida invisível a nossos olhos, o que tornaria eles tão próximos da raça humana. Afinal, não seríamos simples formigas perto de seres com poderes divinos?
Eis que, em 2006, Garth Ennis respondeu ambas questões de uma maneira brutal, doentia e perversa trazendo o pior pesadelo que poderíamos imaginar. Escrita em 72 edições, dividas em 12 volumes lançados de 2006 a 2012, The Boys coloca seus superseres em uma realidade como a nossa, mas despindo qualquer integridade que eles poderiam sonhar em ter.
Junto com Darick Robertson, Ennis traz uma visão corrompida e satirizada dos maiores heróis que já existiram nos quadrinhos. O primeiro volume, denominado O Nome do Jogo, reúne os 6 primeiros capítulos da infame saga lançada pelo selo WildStorm da DC Comics, que não gostou nada do rumo da história (e as sátiras ali contidas) e logo cancelou a obra. Pouco depois, a historia foi salva pela editora Dynamite, que publicou a saga até seu derradeiro fim.
Mas não chega a ser surpresa que o texto infame e o humor gore de Ennis tenha criado tanto asco na casa da Liga da Justiça, principalmente quando seu carro chefe era o principal alvo da sátira ali mostrada. A obra abomina o ambiente em que esta inserida, trazendo críticas pesadas a todo lucro e construção do universo dos super-heróis.
Repleto de um humor acido, acompanhamos a formação da equipe e a corrupção por trás dos humanos de capa, em duas frentes distintas que cumprem bem o seu papel. A primeira vem através da figura de Hughie, um humano comum que perdeu tudo que lhe era caro e decide revidar. A outra vem a cargo de Annie January, mais conhecida como Estelar, a mais nova integrante d’Os Sete, a representação da Liga naquele universo.
Hughie é utilizado para nos introduzir ao universo, sendo aquele sem qualquer experiência real na luta em que esta inserido. O seu recrutamento para equipe é o artificio necessário para nos apresentar aos antigos integrantes e à problemática da saga, partindo assim para um aprofundamento maior no universo e em suas dificuldades latentes. Tomando como inspiração o ator Simon Pegg, o personagem é o emocional do primeiro volume e a cola narrativa necessária para o despertar da história.
Já Estelar entra como uma sonhadora, que acabou de conquistar o seu maior objetivo… apenas para ver seu sonho virar um verdadeiro pesadelo. É através dela que acompanhamos toda a podridão escondida por trás da máscara corporativa e somos apresentados a real face dos “heróis”. O encontro entre eles é um dos melhores momentos do volume, transpondo toda fragilidade dos personagens que se encontram em momentos de questionamento moral e encontram forças em uma conversa com um completo estranho.
Ennis usa seu texto para expor, criticar e extrapolar situações grotescas que permeiam nosso mundo real. Não é a toa que o roteirista utilize seus textos para trazer a tona assuntos tão hediondos e causar revolta a seus leitores, mas lembre que muito do que é aqui abordado mostra-se um reflexo da nossa realidade, silenciada pelo poder de alguns. A arte de Robertson casa com maestria na podridão do que nos é contado. Seus traços fortes e realistas despertam com perfeição a depravação decadente da historia. A corrupção das linhas narrativas extrapola o senso comum, trazem uma sanguinolência abundante que escorre pelas páginas.
Com um inicio revoltante e promissor, The Boys – O Nome do Jogo nos transporta para um universo bem construído e repleto de críticas àquilo que achávamos conhecer. Repleto de um cinismo exemplar, a HQ desconstrói a pureza dos heróis e nos apresenta a podridão interna de cada um, e engana-se quem acha que mocinhos e vilões são tão diferentes assim, principalmente em um ambiente tão corrompido e disforme quanto o nosso.
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...