“Na Marvel, nós contamos histórias de heróis todos os dias. Mas essa é especial. Ela conta a história dos heróis do cotidiano.”
A frase dita por Dan Buckley, presidente da Marvel Comics, durante uma entrevista cedida ao Comic Book Resources, é um claro resumo do que é The Vitals. A HQ, que foi liberada gratuitamente para ser lida online no site da Marvel, é um compilado com a adaptação de Sean Ryan para três histórias reais, dando espaço para que os heróis do cotidiano, ou seja, os profissionais da saúde que estiveram na linha de frente do combate à Covid-19, poderem estar lado a lado das histórias de tantos heróis fictícios que amamos com todas as nossas forças.
O editorial começa com “Cut Through the Noise”, onde conhecemos Camila, que nos leva a perceber, em pouquíssimas páginas, o quão perturbador é estar lutando na linha de frente da pandemia. A história nos choca com a forma como Camila acorda destruída a cada dia, mas juntando forças para seguir em frente, o quanto ela precisa sacrificar o tempo com a sua família e a sua aparência pelo bem da população, e o quanto é estressante viver nessa tensão constante e ter que ouvir, por todos os lados, o mundo inteiro se resumindo às intermináveis noticias sobre o avanço do Covid e as inúmeras vidas perdidas.
Somos subitamente jogados em “Can’t Stop”, onde Richard nos apresenta mais um lado da batalha contra o Covid: a luta para impedir que um paciente morra. Richard nos leva fundo no procedimento de reanimação de Charles, um idoso que já está entubado a um tempo e acaba de ter uma parada cardiorrespiratória, uma ação que nos leva num louco procedimento de reanimação, que nos faz sentir cada segundo da intensidade que é estar lutando pela vida de alguém, tudo isso enquanto você não sabe quanto tempo está ali, quanto ainda falta, e precisa estar disposto a não parar por que, como Richard fala, “esse vírus não para, e nós também não podemos parar”.
O editorial se finaliza com “Smiling Eyes”, onde somos levados ao mais emocionante relato do editorial, o relato de um paciente, que não é identificado mas é como nós, um homem de família, preso a uma cama, preso a uma incerteza do amanhã, e que só consegue aguentar por causa da sua heroína, aquela enfermeira que aparece todos os dias no quarto dele para saber como ele está, sempre com seu olhar sorridente (por que os olhos dela é tudo que ele consegue ver por baixo de toda aquele aparato de proteção), sempre preocupada com sua recuperação, sempre pronta para salvar o dia de alguém.
É incrível a forma como Sean Ryan conseguiu transmutar tantas histórias, de mais de quatro mil profissionais da área de saúde da Allegheny Health Network (AHN), um sistema médico acadêmico de 13 hospitais sem fins lucrativos estadunidense, em três grandes relatos que são capazes de tocar nossos corações e tirar nosso fôlego. Toda a ação visceral apresentada na trama ganha ainda mais força com as ilustrações de José Carlos (Can’t Stop), Mirko Colak (Smiling Eyes), Marcio Fiorito e Roberto Poggi (Cut Through the Noise), e ultrapassam as páginas com a colorização de Ian Herring e o lettering de Joe Sabino. É uma experiência essencial para qualquer pessoa, é carnal ver tão de perto esses heróis pelos olhos deles mesmos, é surreal imergir nesse texto curto, que toca fundo em seu coração e deixa marcas permanentes, é impossível abrir a primeira página de The Vitals: True Nurse Stories e sair da mesma forma depois da última página, assim como é impossível dizer que esses profissionais da saúde não foram brutalmente modificados pela experiência de viver na linha de frente dessa caótica crise sanitária mundial.
“Eu lutei na guerra, mas ela é uma heroína também.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.