“No final de setembro, com as folhas começando a cair com a chegada do outono, os Visões se mudaram para sua nova casa na Alameda Hickory Branch 616, Arlington, Virgínia.”
Visão é um sintezóide (um androide composto de sangue e órgãos humanos sintéticos) que por 37 vezes salvou o mundo da ruina total. Tendo em vista suas inúmeras batalhas e procurando entender a motivação humana, o herói decide dar o próximo passo e criar a coisa mais humana que existe: uma família.
Embora não seja aprovado por todos os Vingadores, o humanoide retorna ao laboratório onde foi criado e constrói para si três novos integrantes – sua esposa Virgínia, e seus filhos adolescentes, Viv e Vin. Todos herdaram sua aparência, seus poderes e sua leve obsessão em ser o mais normal possível, mas, para isso, eles precisam se integrar a uma comunidade e conviver em harmonia com seus novos vizinhos.
É por isso que eles se mudam para a pacata Cherydale, uma agradável vizinhança 20 quilômetros a oeste de Washington, Capital, onde podem finalmente ser a família da casa ao lado… com poderes para matar todos nós! O que poderia dar errado? Quando um velho inimigo reaparece em busca de vingança, a vida dos Visões muda drasticamente, trazendo a tona o pior de cada um.
Corações artificiais serão partidos, cadáveres não permanecerão enterrados e a verdade sempre está pronta para surgir, mostrando que nosso herói nunca mais será o mesmo.
A jornada de Visão sempre trouxe um debate filosófico sobre o que nos torna humanos. Desde sua primeira aparição, como uma arma nas mãos de Ultron, o herói debatia sobre seu papel no mundo e o que poderia torná-lo mais parecido com aquilo que escolheu defender.
E é exatamente nesse ponto que Tom King baseia sua narrativa. Visão: Pouco Pior que Um Homem traz a primeira parte de uma jornada desafiadora, que coloca a família perfeita para encarar seus piores pesadelos.
As crises existenciais, tão únicas e complexas, trazem um novo tempero à HQ. A disfuncionalidade da família traz um ar Shakespeariano à obra, demostrando artifícios magníficos que prendem o leitor a cada novo segundo. O ar trágico nos rodeia e faz com que cada passo seja dado com cautela, o que proporciona uma apreciação maior daquilo que nos é mostrado.
Com uma narrativa crescente e bastante excêntrica, a trama nos mostra, desde o seu princípio, que tudo aquilo acabará mal. O clima de tensão aumenta gradativamente, colocando rachaduras nas faixadas impostas pelo bom convívio, enquanto expõe traumas enraizados que aos poucos surgem na trama.
Virgínia é o grande exemplo disso. Por trás da esposa maravilhosa e amável, a sintezóide esconde falhas gradativas que se acumulam ao longo das páginas. É exatamente por não expor tais problemas que ela torna-se uma bomba ambulante, entrando em um efeito domino que rui completamente a máscara que cobre a família.
Viv e Vin trazem dilemas mais mundanos sobre seu existencialismo, procurando entender qual seu papel naquela sociedade em que, desesperadamente, tentam se encaixar. As barreiras enfrentadas trazem dúvidas pertinentes que marcam profundamente não só os personagens mas também os leitores.
Visão, por outro lado, tenta manter a ordem na família tomando cada erro para si. Sua defesa com aqueles que construiu abre uma espiral destrutiva que rui tudo aquilo que um dia acreditou, trazendo uma nova faceta ao personagem que conhecemos.
O projeto artístico escolhe cores quentes e vivas, escurecendo os tons em momentos chaves que condizem com aquilo que nos é mostrado. A ilustração de Gabriel H. Walta é rica e detalhada, nos presenteando com momentos magníficos e impactantes que atravessam as páginas com maestria. O aproveitamento dos espaços, até a movimentação dos personagens se mostra impressionante, trazendo um cuidado minucioso com a obra apresentada.
Visão: Pouco Pior que Um Homem traz uma tragédia anunciada, demostrando que até a mais perfeita das faixadas esconde seus esqueletos. Os dilemas sociais e as barreiras colocadas são trazidos de forma profunda e coesa, nos mergulhando em sua narrativa enquanto expõe a fragilidade do que é ser humano e como podemos ser imperfeitos em nossa normalidade.
“Essa foi a escolha de Visão. O Ceifador viera. Visão falhou. Ele continuaria a falhar. Então, deveria ele continuar?”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...