Resenha | As Duas Torres

Nota
5

“Mas essas não são sempre as melhores histórias de se escutar, embora possam ser as melhores histórias para se embarcar nelas! Em que tipo de história teremos caído?”

A Sociedade do Anel está destruída. Boromir sucumbiu momentaneamente às tentações causadas pelo Um Anel, assustando o Portador e seu fiel escudeiro, e os afastando de vez da comitiva. E, após se sacrificar para salvar Pippin e Merry dos guerreiros-órquicos, acabou vendo seus protegidos sendo capturados e arrastados pela floresta.

Aragorn, Legolas e Gimli partem em busca de seus companheiros mas acabam se deparando com problemas maiores no reino de Rohan. O rei Theoden parece ter sido amaldiçoado pela língua venenosa de seu conselheiro, caindo em uma decrepita armadilha que consome toda sua vitalidade. Amargurado e sem futuro, o soberano enxerga apenas aquilo que Grima Língua de Cobra deseja, trazendo sérios problemas para os fiéis cavaleiros.

Enquanto isso, Pippin e Merry vivem sua própria aventura, encontrando um ser ancestral que pode virar a maré a seu favor. E, longe dos demais, Frodo e Sam passam a ser perseguido pelo estranho Gollum, que deseja a todo custo recuperar seu precioso. Após subjugarem a criatura, os pequenos o transformam em seu guia, convencendo-o a levá-los pelas sombras de Mordor para que, enfim, possam cumprir sua missão.

Enquanto duas frentes de batalha se aproximam da Terra-Media, os antigos companheiros precisam encarar suas próprias dificuldades em uma luta que não parece possuir nenhuma esperança de vitória. Mas, até a noite mais sombria clareia ao amanhecer, e o retorno de um antigo companheiro pode mudar de vez o destino obscuro dos valorosos guerreiros.

É inegável o quão bem J.R.R. Tolkien sabe construir sua narrativa, utilizando com maestria seus recursos e marinando o clímax enquanto esperamos a próxima virada da trama. Tendo isso em mente, o mestre engrandece sua narrativa e traz momentos precisos para despertar sentimentos que consomem o leitor durante toda sua jornada.

Primeiramente, é preciso dizer que O Senhor dos Anéis foi idealizado como uma obra única, sem intenção de ser dividido em partes, mas, devido a editora do autor, o livro foi lançado em três volumes e ganhou o mundo como conhecemos atualmente. Pois bem, As Duas Torres é, claramente, um bom meio de história.

O sentimento que reina nesse novo volume é o desânimo, repleto de uma tensão latente que parece eclodir nos momentos precisos da jornada. Tolkien sabia bem que seus leitores estavam aflitos com o final do primeiro volume e aproveita essa desesperança para construir sua trama. A cada novo passo, vamos sendo carregados a um local mais pesado e cansativo, que parece sugar nossas forças e nos deixar tão desiludidos quanto os personagens que acompanhamos, mas é ai que sabiamente o autor demonstra seu poder e renova tudo aqui que achávamos ter perdido ao longo do caminho.

A narrativa ganha um novo ritmo, deixando um pouco a prosa descritiva para trazer algo mais dinâmico e grandioso. Sim, ainda temos o detalhamento característico do autor, mas agora as cenas de ação e aventura ganham um novo espaço, despertando nosso interesse e nos convidando a continuar. A adrenalina inserida e a ambientação memorável trazem um novo fôlego à trama, construindo arrebatamentos geniais que perduram muito além das últimas páginas da saga. A soma desses novos fatores trazem cenas esplêndidas, que conseguem não só nos inserir no meio dos momentos épicos do livro como nos fazer sentir realmente aquilo que o capítulo quer nos mostrar.

O livro é dividido em duas grandes frentes, que reparte o protagonismo entre os subgrupos de seus personagens. A primeira foca na influência que Orthanc tem na Terra-Media, trazendo toda maldade e manipulação que Saruman tem causado de sua torre. Nesse primeiro arco, acompanhamos Aragorn, Legolas, Gimli, Pippin e Merry em narrativas distintas que culminam em duas grandes batalhas, trazendo alguns dos momentos mais memoráveis da trama.

O primeiro grupo, formado pelos guerreiros, desbrava as intrigas da Terra dos Cavaleiros enquanto tenta reencontrar seu próprio caminho. Aragorn é um dos personagens que mais cresce nessa passagem, ganhando o ar real que todos esperávamos e conduzindo, com mestria, um dos melhores embates do livro. O desenvolvimento aqui presente serve como base para o futuro do personagem, que aceita pela primeira vez seu fardo e esta disposto a prosseguir com ele.

Também conhecemos Éowyn, que consegue nos cativar desde o primeiro momento. Assim como a língua venenosa e maquiavélica de Grima, que demonstra a extensão do poder da torre do mago. Legolas e Gimli possuem ótimos momentos, mas nenhum grande destaque grandioso ao longo da narrativa.

Já o segundo grupo traz uma das surpresas mais agradáveis do livro. Merry e Pippin, sendo esse último um com maiores destaques até aqui, conseguem demonstrar toda qualidade que o leitor não esperava do povo pequenino. Se, até o presente momento, a dupla foi usada como alívio cômico, agora eles ganham um desenvolvimento latente, demonstrando toda força e bravura contidas no seu interior. É com eles que conhecemos Barbárvore, um ser ancestral da raça dos ent que consegue ser um dos mais curiosos personagens já mostrados até então, e causa o último levante dos pastores de árvores na Terra-Media.

A segunda parte é focada na jornada do portador através das terras sombrias de Mordor. Aqui, percebemos o custo real da missão e o quão pesada ela é. Frodo consegue transmitir toda exaustão que existe em carregar O Anel, trazendo um peso enorme para sua jornada que, não surpreendente, é uma das mais enfadonhas do livro. Seu desespero toma conta das páginas, demonstrando o quão exigente é se manter são em meio as trevas.

Sam é a personificação de uma ótima amizade. Fiel, sagaz e extremamente desconfiado, o jardineiro demonstra todo seu orgulho em seguir seu mestre, sendo um dos mais sensatos da jornada e nunca tentando tomar as glorias para si. Ele é humilde e se inferioriza constantemente, mesmo sendo um dos mais valorosos até aqui.

Mas, quem verdadeiramente rouba a cena é o magnifico Gollum/Sméagol, que consegue nos prender do começo ao fim. Consumido pelo poder do Anel, a criatura é uma sombra do que um dia chegou a ser, demonstrando o quão destrutivo é o poder e servindo como reflexo de um futuro possível para o portador. A constante batalha entre suas personalidades trazem dinâmicas interessantes e repletas de malícia, que nos fazem sentir pena e desconfiar de cada palavra que sai de sua boca ao mesmo tempo. Todas suas falas são em terceira pessoa, demonstrando bem essa dualidade de sua persona, enquanto tenta convencer não só a si mas ao leitor daquilo que diz.

Trazendo tudo aquilo que esperávamos de uma continuação épica, As Duas Torres avança a narrativa e constrói bem a base necessária para o que está por vir, convidando o leitor a embarcar nessa última viagem enquanto aguardamos o desfecho da jornada. Caminhando bem entre suas sombras e sua luz, o livro demonstrando que nem tudo está perdido e que mesmo que a esperança seja pouca ela ainda existe.

“A grande tempestade se aproxima, mas a maré virou.”

 

 

Ficha Técnica
  Livro 2 – O Senhor dos Anéis

Nome: As Duas Torres

Autor: J.R.R. Tolkien

Editora: Martins Fontes

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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