Resenha | Charlie e o Grande Elevador de Vidro

Nota
2

“— Um pouquinho de insensatez alegra a vida até dos mais sensatos!”

Charlie Buncket não acredita na sorte que tem. Além de achar o último Cupom Dourado nas vésperas da visita à Fábrica Wonka, ele também foi a última criança a permanecer ao lado do extravagante inventor, o que lhe proporcionou um prêmio muito maior do que seus melhores sonhos podiam lhe proporcionar: se tornar o herdeiro da Fantástica Fábrica de Chocolates.

Rico e feliz, o garoto parte junto com seu avô Jose e com o inigualável Willy Wonka em mais uma de suas invenções para resgatar toda sua família e tomar posse da fábrica, mas, devido um erro no percurso, a família Buncket e o Sr. Wonka acabam presos na órbita Terrestre, dentro do grande elevador de vidro.

Perdidos e sem ter como voltar, os tripulantes da maravilhosa engenhoca decidem explorar seu novo ambiente, ao menos até o sr. Wonka achar uma maneira de traze-los de volta ao solo terrestre. O que eles não esperavam é que suas aventuras fossem se tornar tão arriscadas ao encarar um perigo especial, capaz de destruir toda a vida na Terra.

Escrito em 1972, e sendo uma continuação direta de A Fantástica Fábrica de Chocolate, Charlie e o Grande Elevador de Vidro segue a historia do humilde menino que conquistou o coração de gerações de leitores. Repleto de um humor ácido e cheio de pontadas precisas, Roald Dahl inicia sua obra exatamente de onde sua antecessora parou, dando um novo parâmetro àqueles que achavam que as aventuras de Charlie tinham chegado ao fim.

Se no primeiro volume tivemos criticas precisas sobre atitudes sociais e o quão prejudiciais elas podem ser, nesse novo arco temos uma pontada mais política, sobrando até mesmo para o Presidente dos Estados Unidos, além da ganância humana como um todo. São trocadilhos criativos repletos de uma ironia latente, que se misturam com maestria ao humor ácido sempre presentes na obra do autor, mas é preciso falar que, embora tenha seus méritos, a obra não nos prende tanto quanto a anterior.

Talvez seja pela aleatoriedade de seus acontecimentos, que não parecem seguir uma história em si mas apenas são montados ao acaso para jogar os personagens de um canto ao outro por pura vontade do autor. O que torna ainda mais difícil se apegar aos novos personagens que ganham destaque na obra, como se já não bastasse seu jeito detestável de ser.

Os avós de Charlie se mostram tão enfadonhos e insuportáveis quanto as crianças do primeiro livro. Passando boa parte da jornada berrando, criticando e reclamando, o trio insiste em permanecer em uma cama de forma insuportável a ponto de nos deixar exaustos com a leitura. Vovó Jorgina é a pior entre eles. Não existe um momento em que a senhora seja no mínimo agradável, nos fazendo criar um asco tão imenso em seu aprofundamento, que desejávamos que ela permanecesse sem ele, como a adorável velhinha que conhecemos na obra original. Jorgina é egoísta, reclamona e repleta de uma soberba sem tamanho além de uma infantilidade latente de alguém que não suporta ser contrariada e quer tirar proveito de cada uma das situações em que se mete.

Os pais de Charlie conseguem se tornar mais apagados aqui do que na obra original, mesmo estando presentes na maior parte das cenas. Eles se tornam tão insignificante para a trama que até o autor parece notar a estranha quietude dos personagens, usando esse gancho para algumas piadas. Charlie também sofre um pouco com a continuação, só passando a ter uma real importância a partir da metade do livro, o que é uma verdadeira lastima para os leitores que estavam tão apegados ao garoto. Mas, se o autor errou em apagar alguns personagens maravilhosos para dar espaço para outros enfadonhos, em um ponto ele acertou em cheio.

Willy Wonka é um verdadeiro show a parte. O excêntrico inventor rouba cada uma das cenas em que aparece, transformando até o mais enfadonho dos cenários em um momento verdadeiramente interessante. Se achávamos que conhecíamos o limite do impossível no primeiro livro, o sr Wonka nos mostra o quão estávamos errados. A cada momento que pensamos chegar a uma linha sobre o assunto, o personagem ri e atravessa como se fosse a coisa mais normal do mundo… O que é maravilhoso. O retorno à Fábrica também se mostra um grande acerto, construindo ainda mais aquele universo que achávamos conhecer enquanto demonstra que o que nos foi mostrado era apenas a ponta do iceberg.

Repleto de críticas maduras mas sem uma história coesa para se contar, Charlie e o Grande Elevador de Vidro dá continuidade ao adorável livro que tanto amamos mas está longe de ter um sabor tão bom. Embora tenha momentos interessantes, o livro se mostra enfadonho e nos faz divagar mais do que realmente apreciar o que nos é proposto, um erro crucial a uma obra infanto-juvenil, que deveria nos prender em vez de nos soltar sem rumo no universo que criou.

“Charlie teve uma sensação de pavor ao se ver ali, no meio daquele vazio inumano. Era como se estivesse num outro mundo, aonde nenhum ser humano jamais tivesse chegado.”

 

Ficha Técnica
  Livro 2 – A Fantástica Fábrica de Chocolate

Nome: Charlie e o Grande Elevador de Vidro

Autor: Roald Dahl

Editora: Martins Fontes

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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