Resenha | Cruella: A História Daquela Mulher Diabólica

Nota
4

“– Meu único amor verdadeiro, querida. Peles são tudo para mim. Amo peles. Afinal, existe alguma mulher neste mundo desgraçado que não ame?”

Todos já ouvimos falar da insanidade cruel que reina em Cruella, uma mulher verdadeiramente diabólica, apaixonada  por moda e com um plano maligno para conseguir seu maior sonho: um casaco de pele, feito sobre medida, utilizando 98 filhotes de dálmatas.

Mas, até mesmo o mais maldoso dos vilões tem sua própria versão dos fatos, seus amores verdadeiros e sonhos grandiosos. Determinada a contar sua própria história, Cruella toma a dianteira de sua narrativa e nos convida a visitar seu passado para entender seu presente.

De sua infância solitária a criação de seu icônico visual, a maligna mulher nos apresenta sua jornada sombria, insana… e possivelmente amaldiçoada,  trazendo um novo significado a tudo aquilo que conhecemos. Mas, como alguém cujas veias circula apenas fel, poderia despertar qualquer rastro empático em nossa vida? Seria Cruella tão demoníaca quanto pensamos? Ou existe algo ainda mais sombrio escondido por trás de sua sagacidade implacável?

É inegável que Cruella rouba a cena em qualquer cenário imaginado. Sua angulosidade e presença se mostram tão grandiosas que ultrapassam sua obra e a marcam como uma verdadeira referência a cultura pop. Não conseguimos não pensar em suas maldades e adorar odiar sua persona, trazendo um voto quase unânime em quão detestável ela pode ser.

Tendo isso em mente, Serena Valentino nos apresenta sua versão da história e coloca sua jornada como o sétimo volume da aclamada Saga Vilões Disney, que escreveu durante todos esses anos. Mas, ao contrário dos volumes anteriores, o livro de Cruella se mostra uma narrativa única, que não precisa se interligar com nenhuma das obras anteriores para ser entendida como um todo.

Cruella: A História Daquela Mulher Diabólica mostra sua diferença ao dar voz à sua protagonista, trazendo a profundidade (e insanidade) de uma maneira pessoal e poderosa. O livro é então narrado em primeira pessoa, demostrando a degradação de sua mente enquanto reavalia tudo aquilo que passou, construindo acréscimos precisos enquanto encara sua construção pessoal.

Serena explora bem as oportunidades apresentadas, costurando com maestria sua história nos lapsos que possuímos dentro da narrativa do longa animado. Não é a toa que tanto do passado da personagem seja aproveitado, ocasionando em um crescimento preciso e certeiro na personalidade ensandecida que tanto conhecemos.

A autora aborda bem os complicados laços que a vilã constrói durante sua vida, colocando o holofote sobre as situações difíceis e traumatizantes que ela passou até chegar onde a conhecemos. Sua visão de mundo é guiada, principalmente, pelas duas fontes de sua criação. Sua idolatria cega por sua mãe fria e gananciosa e seu terno amor pelo seu bondoso e carinhoso pai.

Cruella vive esse eterno dilema, tentando agradar sua mãe e ser mais como ela, mas tomando para si alguns desejos bondosos do pai, que almejava, acima de tudo, que a filha pudesse ser ela mesma. Embora todos ao seu redor percebam a construção do relacionamento abusivo que ela tem com sua progenitora, a garota pouco parece notar, preferindo enxergar apenas aquilo que lhe convém e ignorar os fatos que lhe são apresentados.

Sua visão invertida sobre o que é o amor contribui ainda mais com sua arrogância precoce sobre o lugar de todos ao mundo, o que é apenas perfurada pela presença da doce Anita em sua vida, uma “intermediária” (nas palavras da própria Cruella) que consegue ser quase como uma irmã para ela. É dessa amizade que a protagonista passa a enxergar o mundo com outros olhos, trazendo um pouco de esperança e carinho em sua jornada, mas que logo são esmagados por acontecimentos tenebrosos.

O volume ainda elucida duvidas constantes dos fãs, demostrando que existe muito mais do que conhecemos no longa. As motivações, desejos e loucuras da antagonista são exploradas com maestria, nos fazendo revisitar os acontecimentos e entende-los com outros olhos. Embora nunca tente justificar a crueldade da vilã.

Embora o livro não tenha real ligação com os demais, Serena consegue dar uma piscadela aos fãs da saga ao trazer elementos e referências a tudo que conhecemos até aqui, incluindo artefatos poderosos que nos deixam com uma pulga atrás da orelha, casando perfeitamente com o que conhecemos da personagem.

A edição segue o mesmo padrão das anteriores só que, dessa vez, mostrando a degradante loucura e obsessão da personagem que tanto conhecemos. A tradução mostra-se sublime, encantando o leitor e nos conduzindo com maestria durante a história. Mais um acerto da Universo dos Livros.

Repleta de amores condenáveis, laços complicados e um desejo compulsivo, Cruella: A História Daquela Mulher Diabólica descontrói o semblante icônico conhecido pelo público para apresentar a fonte da loucura de sua antagonista. Seja por sua presença marcante, ou por sua trajetória peculiar e bastante próxima de algo real, a história demostra que existe muita a se conhecer, e que nem tudo é tão preto no branco quanto imaginávamos.

“Será que não mereço a chance de contar a minha versão da história? A história real. É fabulosa, no fim das contas. Prestem atenção! É a minha história. A história de Cruella De Vil!”

 

 

Ficha Técnica
 

Livro 7 – Saga Vilões Disney

Nome: Cruella: A História Daquela Mulher Diabólica

Autor: Serena Valentino

Editora: Universo dos Livros

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *