Resenha | Depois

Nota
4

“Pois é. Eu vejo gente morta. Pelo que lembro, sempre vi. Mas não é como naquele filme com o Bruce Willis. Pode ser interessante, pode ser assustador às vezes (o cara do Central Park), pode ser um saco, mas em geral só é.”

James Conklin aparenta ser uma criança normal, mas possui um dom macabro que o diferencia dos demais: ele vê gente morta. Com que frequência? Ele não sabe bem. Geralmente os mortos se parecem com os vivos, exceto por sempre usarem as roupas com a qual morreram, mas, as vezes, eles se destacam na multidão, com a aparência bizarra que os levou ao óbito. Ah, e eles são incapazes de mentir.

Após um acontecimento bizarro, sua mãe implora para que o garoto mantenha sua habilidade em segredo, até que ela se torne um ponto crucial para a sobrevivência de sua família, o que desperta a curiosidade de Liz Dutton, a companheira de sua mãe e detetive do Departamento de Polícia de Nova York.

Tudo parecia bem, até Liz aparecer na saída da escola do garoto e anunciar que precisa de sua ajuda no maior caso de sua carreira. Agora, Jamie precisa correr contra o tempo e desvendar o último segredo de um falecido terrorista, despertando assim um terror maior do que poderia imaginar, que promete assombra-lo por toda sua vida.

Stephen King sempre foi conhecido por seu texto prolixo e cheio de detalhes, que aprimora e abraça sua narrativa ao mesmo tempo que cria novas vertentes dentro da própria história. Mas, largando esse aspecto tão importante em seu conteúdo, o autor entrega uma de suas obras mais peculiares e repleta de nuances curiosas que despertam nosso interesse.

Depois, o novo livro do autor, tem uma pegada diferente, que chega mais próximo de uma obra policial do que do terror com a qual estamos acostumados. Sendo o terceiro volume lançado pelo selo Hard Case Crime, a obra foca em um romance policial, com pequenas pitadas sobrenaturais tão presentes nas obras do rei do horror. King da voz ao seu protagonista, entregando a narrativa em suas mãos enquanto ele apresenta, a sua maneira, sua própria história.

O crescimento narrativo se torna palpável, sendo frisado pelo narrador ao final do texto, demostrando assim a simplicidade excelente na qual a obra constrói seu enredo. King aposta no carisma de seu personagem, escolhendo sabiamente como introduzir toda mecânica pessoal para transformar a história.

O enredo cativante é repleto de sensibilidade, o que nos aproxima ainda mais das personas mostradas e dos eventos peculiares que as cercam. As dualidades apresentadas recheiam o livro, trazendo contrapontos crescentes que nos prende ainda mais à narrativa: seja pela sua inversão nos acontecimentos presentes ou pela visão infantil de seu protagonista, que é seriamente reavaliada pelo seu eu de depois.

Por falar nele, James tem um carisma natural que nos faz simpatizar com sua presença logo de cara. O rapaz possui uma inocência agradável, que entra em contraponto com todo horror que vivência diariamente, colocando sua vida (que poderia ser uma vida normal se não fosse seu pequeno segredo) em uma constante montanha-russa sentimental. Junto com Thia, sua mãe, e com Liz, a namorada dela, o garoto tenta passar pelos infortúnios que lhe são impostos enquanto cresce diante de nossos olhos.

Liz, por sua vez, sofre uma transformação drástica ao longo da narrativa, passando da policial legal para alguém extremamente destrutiva em suas ações. O autor consegue implantar essa mudança de forma gradual, soltando pequenos detalhes ao longo da jornada que esclarecem ainda mais aquilo que ele deseja nos mostrar. Quando a chave vira conseguimos avaliar o quadro como um todo, entendendo que nem tudo é como parece ser, mas que só vamos descobrir no momento oportuno para isso.

Outra presença marcante é a do professor Buckett, um antigo vizinho de James que cumpre o papel de mentor-pupilo. A aproximação dos personagens é feita de modo natural, trazendo dinâmicas interessantes que acrescentam muito à narrativa presente, seja pela riqueza dos diálogo ou apenas pelo prazer de ver personas tão distintas interagindo de modo casual.

O livro possui uma arte impecável que remete a obras pulp, o que dá um charme ainda maior à obra. A tradução da Suma se mostra impecável, principalmente ao trazer a maravilhosa Regiane Winarski para um universo que ela domina com maestria. As páginas amareladas e a ótima tipografia são um deleite aos olhos cansados, nos convidando a ler rapidamente e de forma contínua aquilo que a obra tem a nos oferecer.

Com um texto mais enxuto do que estamos acostumados, Depois traz uma ótima obra com os ingredientes precisos para nós prender do início ao fim. Seja pelas inúmeras referências às obras do autor, ou até mesmo àquele conhecido filme protagonizado por Bruce Willis, o livro nos ganha em seus primeiras palavras e nãos nos decepciona mesmo depois que ele é, enfim, fechado.

“A gente se acostuma com as coisas extraordinárias. Aceita como normais. Podemos até tentar não se acostumar, mas é o que acontece. Tem coisa extraordinária demais no mundo, só isso. Em toda parte.”

 

Ficha Técnica
 

Livro Único

Nome: Depois

Autor: Stephen King

Editora: Suma de Letras

Skoob

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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