Nota
“Não existe isso de pessoas ruins. Todos nós somos humanos e, às vezes, fazemos coisas ruins.”
Lily Blossom Bloom nem sempre teve uma vida fácil. Ela cresceu em Plethora, Maine, vendo seu pai ser violento com a mãe, se formou em marketing e acabou se mudando para Boston. Por um acaso do destino, o dia do funeral do seu pai também é o dia que ela conhece um lindo neurocirurgião, chamado Ryle Kincaid, que viria a se tornar seu grande amor. Depois de muita luta, Lily finalmente consegue dar o primeiro passo em seu sonho, abrir uma floricultura, e é através dessa floricultura que ela conhece Alyssa, uma estranha mulher que anseia por trabalhar para ocupar seu tempo, já que não precisa de dinheiro, que rapidamente se torna uma grande amiga para Lily, e que acaba se tornando uma conexão inesperada entre Lily e um certo neurocirurgião que Lily conheceu meses atrás, afinal Alyssa Kincaid é a irmão de Ryle. A vida de Lily começa então um novo capítulo, Riley está enlouquecidamente apaixonado por Lily, mas Lily não quer ceder ao irmão de sua nova amiga e se tornar uma transa de uma única noite. Ao mesmo tempo Lily encontra seus diários, de quando tinha apenas quinze anos e escrevia cartas para Ellen DeGeneres contando sobre seu dia, mesma época que ela conheceu Atlas Corrigan, o garoto com quem teve sua primeira vez, seu primeiro amor, um mendigo de dezoito anos que dormia numa casa abandonada perto da sua casa e ia com ela de ônibus para a escola todo dia.
Quando Colleen Hoover decidiu escrever a história de Lily Bloom, ela quis fazer uma história dedica a sua mãe, mas não só a ela, uma história que pudesse ser dedicada a todas as mulheres que viveram relacionamentos abusivos, que apanharam de seus maridos e para todas as pessoas que não entendem o que se passa na mente dessas mulheres. Ryle é confiante, obstinado e até um pouco arrogante, mas ele nos envolve a cada página (do mesmo jeito que ele conquista Lily) com seu jeito sensível, brilhante e dedicado, tudo parece perfeito demais até deixar de ser. Quando Lily, anos depois, reencontra Atlas trabalhando de garçom em um restaurante, sua vida começa a virar de cabeça para baixo, ela começa a reviver uma história nunca finalizada e o homem perfeito começa a se transformar no que ela mais temia, um homem violento assim como seu pai, e a trama vai pouco a pouco nos afogando em todas as questões que Lily viu sua mãe passar, que Collen viu sua mãe passar, e que tantas mulheres ao redor do mundo estão passando até hoje. Com mais de dois milhões de exemplares vendidos no Brasil, É Assim que Acaba se tornou um fenômeno editorial que já acumula milhões de visualizações no TikTok, uma obra-prima de Colleen Hoover que coloca o dedo numa ferida que doí muito em muitas pessoas, e é capaz de doer até naqueles que nunca passaram por essa situação. De forma ousada, Collen arrisca ao escrever um romance intenso ao mesmo tempo que debate um tema extremamente polêmico, mas, emprestando sua experiência, torna tudo tão pessoal e palpavel que nos surpreende ao nos destruir por dentro ao mesmo tempo que nos envolve, ao ser arrasadoramente incisiva ao mesmo tempo que inova.
“- Eu caí – falei. […]
– Eu também caia muito, Lily.”
Lily é o grande centro das atenções nessa história, esse não é um romance comum e nem uma simples história sobre jornada, essa é a história de Lily, uma mulher que cresceu vivenciando a violência, que fugiu dos seus traumas e acaba conhecendo um homem que lhe coloca na mesma situação. Mas será que Riley é realmente como seu pai? Um homem tão amoroso, atencioso e dedicado pode ser igual ao monstro que ela tinha como pai? O momento que Riley, por reflexo, esbofeteia a cara de Lily pela primeira vez é uma cena marcante, somos envolvidos por uma profusão de sentimentos que se desenrolam durante os quinze segundos que tudo aconteceu, pela dor no coração de ver aquele homem perfeito ser destruido na nossa frente, pela pena que nos atinge ao enxergar o caminho que Lily está trilhando, pela angustia de pressentir o que o futuro reserva para a protagonista. Mas uma coisa é certa, Riley é realmente um cara perfeito durante mais da metade dos capitulos, ele é construido justamente com essa intenção, nos envolver, nos colocar na pele de Lily, gostando do médico romântico e sincerão, torcendo por esse casal, nos coloca diretamente no papel da vítima, pensando que ele pode mudar, que ele pode melhorar, que tudo pode passar. Por outro lado, Atlas é um ponto fora da curva na história de Lily, somos levados a desconfiar do garoto, a temer os segredos que ele guarda. Ele é só um garoto sujo e solitário que se esconde na casa abandonada e acaba se tornando um amigo secreto de Lily, que nada mais é do que um garoto misterioso nas primeiras páginas, mas que quando sua história começa a ser exposta, uma transformação começa e sua construção vai nos mostrando que aquele garoto solitário é muito mais que isso, ele é um guerreiro, um sobrevivente, um homem cheio de traumas.
A escrita fluida de Collen se mostra essencial para o desenrolar da trama, ela consegue preencher suas páginas com uma tensão e suspense que vai prendendo o leitor e criando uma fome por chegar ao final, mesmo um livro tão desafiador como É Assim que Acaba consegue ser leve e emocionante. O conturbado debate sobre abuso doméstico, relacionamentos tóxicos e superação envolve o leitor e, mesmo depois de uma introdução que demora um pouco para engatar, a autora consegue cativar. É complica analisar profundamente o livro sem antes ter uma pausa para digerir tudo que presenciou, mais essencialmente ainda é ter maturidade suficiente para entender tudo que aconteceu, as motivações dos personagens e as escolhas feitas. Afinal a mesma Lily que surge com um certo fetiche no uniforme hospitalar de Riley é a que precisa erguer a cabeça a perceber o abuso que está sofrendo, e principalmente criar coragem para sair dele. Carregado com vários gatilhos, É Assim que Acaba é um relato carnal e necessário, principalmente para mulheres, ele causa angustia, nojo, tristeza e ensina sobre empatia, ele te prende até a última página, e ainda traz um segundo golpe na forma da Nota da Autora, onde Collen complementa a história de Lily com detalhes sobre sua história pessoal e todo o processo que a levou a escrever esse livro. Colleen Hoover sabe exatamente onde pisa a cada nova reviravolta na trama, e talvez seja esse dominio poderoso da trama e da escrita que faça essa obra ser tão arrebatadora ao mesmo tempo que ensina, de forma dolorosa e inesquecivel, que amar alguém que não te merece pode custar caro demais.
“Quero atacá-lo e reagir como sempre quis que minha mãe fizesse quando me pai lhe batia, mas no fundo quero acreditar que tudo não passou de um acidente.”
Ficha Técnica |
Livro 1 – É Assim que Acaba Nome: É Assim que Acaba Autor: Colleen Hoover Editora: Galera Record |
Skoob |
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.