Nota
“Dois meninos, separados por um imenso mar, mas unidos pelo mesmo idioma.”
Um projeto de correspondências entre alunos de escolas brasileiras e angolanos acabou unindo dois garotos de 12 anos, de um lado está Josinaldo de Salvador, do outro lado está Matondo de Luanda. Separados pela geografia, Josinaldo e Matondo acabaram descobrindo que tinham muito em comum, a curiosidade e o desejo de se conhecerem melhor acabou os unindo, fazendo os descobrir que ambos moravam em cidades ensolaradas, ambas foram cidades fundadas por portuguêses e construidas pelo sangue e suor das mãos negras, que ambos eram apaixonados por futebol e ambos eram descendentes de escravos brasileiros (Josinaldo era descendente de um escravo e Matondo tinha um tataravô que foi arrancado da familia para ser levado para o Brasil). E é justamente as conexões e semelhanças entre as duas cidades que começam a aproximar ainda mais os garotos, que mostram que mesmo vivendo em países diferentes eles são praticamente conterrâneos.
Há muito tempo Luanda e Salvador são consideradas cidades-irmãs, apesar de não ser algo politicamente definido, muitos históriadores indicam que muitos dos escravos trazidos da Angola acabaram sendo destinados à Bahia, o que fez com que a cultura, as comidas e até a lingua fossem tão semelhantes, e é através de Josinaldo e Matondo que o autor Rogério Andrade Barbosa e o ilustrador Jô Oliveira decidiram explorar essas semelhanças. A dupla dá um genuino presente às crianças angolanas e brasileiras quando transpõe a divisão criada pelo imenso mar, e começa a explorar mais profundamente o quanto ambos os povos vibram e gingam ao som dos mesmos tambores ancestrais. Capoeira, pirão, lendas, palavras, há tanto em comum entre as duas cidades, há tanto que Angola deu ao Brasil e há tanto que o Brasil ainda hoje retribui à Angola, e é justamente esse intercambio cultural que facilita a aproximação entre os alunos brasileiros e os angolanos.
“Os colegas e professores envolvidos no projeto vibravam também com os conhecimentos trazidos pela intensa correspondência.”
Com apenas 48 páginas, o livro vai nos envolvendo na história dos dois meninos, na amizade que vai surgindo e, principalmente, no quanto qualquer criança (seja ela angolana ou brasileira) vai conseguir se identificar ao enxergar as diversas semelhanças entre as cidades. Rogério, que é ex-voluntário das Nações Unidas na África, soube desfiar bem as semelhanças entre os dois paises e mostrou toda a sua bagagem cultural ao transformar os frutos dos estudos da literatura afro-brasileira e de seus programas de incentivo à leitura em um livro simples, direto e bem carregado culturalmente. Jô, um pernambucano que já viajou o mundo e é apaixonado pela cultura popular brasileira, mostra toda a sua maestria ao transformar as palavras de Rogério em imagens, com suas ilustrações trazendo traços grosseiros que remontam ao tribal africano mas, principalmente, lembram muito as linhas irregulares da xilogravura nordestina. Uma fusão que, apesar de tão distinta, orna perfeitamente na construção de todo o enredo, como se a dupla tivesse predestinada a se unir nesse projeto e entregar um trabalho envolvente.
Muito além de um livro infantil, Em Angola tem? No Brasil também! é rico em conteúdo, unindo de forma dinamica a cultura angolana e brasileira, entregando uma importante reflexão sobre a miscigenação brasileira, os fatos históricos que unem Angola e Brasil e as heranças culturais trazidas pelos negros escravizados da Angola. O comparativo construido pelo autor é interessante, mostrando verdades esquecidas e o quanto os dois povs tem muito mais coisas em comum do que realmente imaginamos, o quanto a cultura africana no Brasil tem uma grande influencia da cultura angolana. Com uma linguagem fácil e compreensivel para qualquer idade, a obra se mostra uma perfeita indicação para entreter e ensinar simultaneamente, ela inspira ao mesmo tempo que instrui e fortalece o autoconhecimento para tantas crianças que precisam entender melhor nossa origem. É um livro que facilmente poderia ser trabalhado em sala de aula ou fora dela, valorizando a cultura negra e as origens escravas que correm no sangue de cada brasileiro, mesmo que não pareça.
“Sim, eu não disse que Angola e Brasil têm muitas coisas em comum?”
Ficha Técnica |
Livro Único Nome: Em Angola tem? No Brasil também! Autor: Rogério Andrade Barbosa Editora: FTD |
Skoob |
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.
Resposta de 1
Fiquei curiosa!